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Chamava-se Hector Casimiro Yazalde, Chirola para o mundo. Era uma figura ímpar, dentro e fora dos campos. Como jogador e goleador era único, soberbo. Como pessoa, como ser humano, um exemplo. Um Homem bom. Para mim, o melhor ponta-de-lança que alguma vez vi jogar.
 
Chamava-se Hector Casimiro Yazalde, Chirola para o mundo. Era uma figura ímpar, dentro e fora dos campos. Como jogador e goleador era único, soberbo. Como pessoa, como ser humano, um exemplo. Um Homem bom. Para mim, o melhor ponta-de-lança que alguma vez vi jogar.
  
Quando se diz que no primeiro ano em que chegou ao [[Sporting Clube de Portugal|Sporting]], não foi aquilo que ele era, é preciso explicar porquê. Dentro da equipa do Sporting havia um "núcleo duro" que era quem mandava e quem fazia a equipa. Esse "núcleo duro" era comandado por [[Fernando Peres]], que até [[Yazalde]] chegar, era o melhor jogador da equipa, o mais influente, o "patrão", como lhe chamavam. Peres era sem dúvida um bom jogador, com um óptimo pé esquerdo, bom remate e muito boa visão de jogo. Mas também era um bom malandro e tinha ascendência sobre o resto do plantel.
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Quando se diz que no primeiro ano em que chegou ao [[Sporting Clube de Portugal|Sporting]], não foi aquilo que ele era, é preciso explicar porquê. Dentro da equipa do Sporting havia um "núcleo duro" que era quem mandava e quem fazia a equipa. Esse "núcleo duro" era comandado por [[Fernando Peres]], que até [[Hector Yazalde|Yazalde]] chegar, era o melhor jogador da equipa, o mais influente, o "patrão", como lhe chamavam. Peres era sem dúvida um bom jogador, com um óptimo pé esquerdo, bom remate e muito boa visão de jogo. Mas também era um bom malandro e tinha ascendência sobre o resto do plantel.
  
 
Quando Yazalde chegou ao Sporting, percebeu-se logo que o chefe de orquestra, a figura da Companhia, iria passar a ser ele, porque era de longe o melhor de todos e um jogador de craveira internacional. Então, no princípio, fizeram-lhe a vida negra, tratando-o mal, deixando-o para um canto e chegando mesmo a ser agredido num treino. Nos treinos e nos jogos, não lhe passavam a bola, ou quando ele se desmarcava para um lado, o Peres passava-lhe a bola para o outro. Tudo isto era de tal forma evidente, que o Sporting decidiu pôr o Peres na rua, não lhe dando a carta de jogador, não o deixando jogar em Portugal e obrigando-o a ir jogar para o estrangeiro, para o Brasil, para o Vasco da Gama. Só mais tarde pôde voltar a jogar em Portugal, porque houve o 25 de Abril e a lei mudou.
 
Quando Yazalde chegou ao Sporting, percebeu-se logo que o chefe de orquestra, a figura da Companhia, iria passar a ser ele, porque era de longe o melhor de todos e um jogador de craveira internacional. Então, no princípio, fizeram-lhe a vida negra, tratando-o mal, deixando-o para um canto e chegando mesmo a ser agredido num treino. Nos treinos e nos jogos, não lhe passavam a bola, ou quando ele se desmarcava para um lado, o Peres passava-lhe a bola para o outro. Tudo isto era de tal forma evidente, que o Sporting decidiu pôr o Peres na rua, não lhe dando a carta de jogador, não o deixando jogar em Portugal e obrigando-o a ir jogar para o estrangeiro, para o Brasil, para o Vasco da Gama. Só mais tarde pôde voltar a jogar em Portugal, porque houve o 25 de Abril e a lei mudou.

Edição atual desde as 10h35min de 11 de dezembro de 2020

Hector Yazalde, eterno Chirola

Dizem que quando se foi, não sabia que ficaria para sempre.

Chirola para o mundo

Chamava-se Hector Casimiro Yazalde, Chirola para o mundo. Era uma figura ímpar, dentro e fora dos campos. Como jogador e goleador era único, soberbo. Como pessoa, como ser humano, um exemplo. Um Homem bom. Para mim, o melhor ponta-de-lança que alguma vez vi jogar.

Quando se diz que no primeiro ano em que chegou ao Sporting, não foi aquilo que ele era, é preciso explicar porquê. Dentro da equipa do Sporting havia um "núcleo duro" que era quem mandava e quem fazia a equipa. Esse "núcleo duro" era comandado por Fernando Peres, que até Yazalde chegar, era o melhor jogador da equipa, o mais influente, o "patrão", como lhe chamavam. Peres era sem dúvida um bom jogador, com um óptimo pé esquerdo, bom remate e muito boa visão de jogo. Mas também era um bom malandro e tinha ascendência sobre o resto do plantel.

Quando Yazalde chegou ao Sporting, percebeu-se logo que o chefe de orquestra, a figura da Companhia, iria passar a ser ele, porque era de longe o melhor de todos e um jogador de craveira internacional. Então, no princípio, fizeram-lhe a vida negra, tratando-o mal, deixando-o para um canto e chegando mesmo a ser agredido num treino. Nos treinos e nos jogos, não lhe passavam a bola, ou quando ele se desmarcava para um lado, o Peres passava-lhe a bola para o outro. Tudo isto era de tal forma evidente, que o Sporting decidiu pôr o Peres na rua, não lhe dando a carta de jogador, não o deixando jogar em Portugal e obrigando-o a ir jogar para o estrangeiro, para o Brasil, para o Vasco da Gama. Só mais tarde pôde voltar a jogar em Portugal, porque houve o 25 de Abril e a lei mudou.

Feita a limpeza, tudo voltou à normalidade e Yazalde foi o que foi. No entanto, e durante o período em que o tentaram encostar, nunca se lhe ouviu um lamento, nunca se lhe ouviu uma queixa. Yazalde impunha-se pela sua superioridade.

Quando em 1974 venceu a bota de ouro, com os 46 golos que ainda hoje são record na Europa e transformando-o assim no melhor goleador de sempre da História do Sporting e também da Europa, Yazalde recebeu um prémio instituído por um jornal desportivo, que era um automóvel Toyota. Yazalde, a primeira coisa que fez, foi entregar o automóvel à equipa. Fizeram-se rifas (o contemplado foi Fernando Mamede) e o dinheiro amealhado, 60 contos na altura, foi para todos os jogadores do plantel.

Quando assinou contrato com o Sporting, pediu para que o seu ordenado fosse depositado todos os meses numa conta dum banco de Buenos Aires. Por sugestão de um vice-presidente de então, o seu ordenado era depositado em dólares (3 mil dólares) para fazer face à desvalorização do peso argentino. O dinheiro, na sua grande maioria era destinado aos seus pais e à sua família. Um dia, questionado pelo mesmo dirigente sobre como vivia, uma vez que grande parte do ordenado ficava na Argentina, Chirola respondeu:

Não tenho grandes gastos. Sempre vivi com pouco dinheiro e nunca gostei de ostentações. Com o que fico, chega-me para comer todos os dias e não passar fome. Há quem precise mais do que eu.

No princípio, quando chegou a Portugal e ainda antes de conhecer a mulher com quem veio a casar, Carmizé, mais tarde Carmen Yazalde de quem teve um filho, era frequente vê-lo a passear sozinho pelas ruas de Lisboa e quando encontrava em determinados bairros, crianças pobres a jogar à bola, depois de dar uns "toques" com eles, juntava-os e levava-os a um café ou pastelaria para lancharem e por fim esvaziava a carteira dando-lhes dinheiro para levarem para os pais. Também ele tinha sentido na pele as agruras da vida.

Mas vamos à história deste jogador fabuloso e deste homem extraordinário que o destino quis um dia que deixasse Buenos Aires e atravessasse o Atlântico para envergar a camisola do Sporting Clube de Portugal e assim escrever a letras de ouro, das mais belas páginas da vida do nosso clube.

"ES UN NIÑO"

Maio de 1946. Dia 29. No Hospital Fiorito, em Avellaneda, um dos bairros de Buenos Aires. Numa cama desse hospital, D. Petrona Luna, voltava a ser mãe. E enquanto em casa a Inês, o Ricardo, o Ruben e o Abeliño aguardavam ansiosos o regresso da sua progenitora, o pai Pedro Yazalde ausentara-se do Matadouro Municipal onde trabalhava, para saber se tudo corria bem e qual era, daquela vez, a boa nova. "Es un niño", terá dito a enfermeira mais solícita. Não houve cerimonial diferente. Aquela família humilde, aquele casal feliz, mas modesto, era apenas um pouco mais rico. A Inês, que era a mais velhinha, tinha mais um "boneco" para brincar, o Ricardo, o Pedro, o Ruben e o Abeliño tinham mais um irmão para colaborar nas suas brincadeiras diárias. E Pedro Yazalde tinha mais uma boca para sustentar e, consequentemente, a antevisão de mais algumas horas de trabalho para angariar proventos para a numerosa família. Assim apareceu no mundo, Hector Yazalde. Depois dele, D. Petrona teve mais dois filhos, os gémeos, Juan e Robert. E o lar onde viviam continuava a ser o mesmo, e a humildade permanecia naquela casa tão rica em traquinices que obrigava o pai Pedro, filho de um cidadão francês que um dia procurou na Argentina novos horizontes, a trabalhar mais, mais e mais, chegando a cifrar-se em 18 a 20 horas por dia o seu labor. Havia 10 bocas a sustentar, 10 corpos a vestir, 8 filhos a educar. E só D. Pedro trabalhava já que D.Petrona pouco mais podia fazer que não fosse cuidar da toda a prole, de olhar por todos eles e ainda por cima, de atender a todos aqueles problemas criados por 8 crianças que, à excepção de Inês que colaborava, tanto quanto possível, no arranjo da casa, viviam a vida livre dos campos e das ruas de Buenos Aires. A janela da vida estava aberta. O pequeno Hector terá chegado a ela, olhando as ruas que os seus pequenos olhitos vislumbravam, mas indeciso. E foi para a rua, ainda quando as suas pernitas delgadas mal sustinham o peso do corpo. E na rua, entregou-se Yazalde, assim como a maioria dos rapazitos lá do bairro, ao entretenimento mais acessível às suas minguadas bolsas. Brincar com uma pequena bola, feita quase sempre de velhos trapos ou papéis, já que as de borracha, aquelas que saltitavam nos parques e nos jardins eram, por aquelas alturas, fruto proibido para os rapazes de Avellaneda. Lá mais para baixo, para o centro da grande capital, ou mesmo ali pelas cercanias, o Yazalde sabia bem que havia meninos que tinham daquela bolas a sério, que tinham automóveis de corda, que tinham bons sapatos e bons calções, que não estavam remendados como os seus. Mas esses eram os meninos e ele, compreenderia depois, era apenas um rapaz. E foram assim os primeiros anos da vida de Hector. Da rua para casa, da casa para a rua, entre um beijo dos pais e uma canelada de um outro rapaz, de um outro "dois palmos de gente" que queria chegar primeiro à "trapeira" do que ele. E chegaram os sete anos. Chegava a altura de abandonar a rua e ir para a escola. E Yazalde lá foi. Um belo dia, de cadernos debaixo do bracito e um lápis na mão, Yazalde foi para o Colégio que ficava relativamente perto da sua casa. Não, não levava livros. Isso era uma necessidade a que o pai Pedro não podia corresponder. O pequeno Hector fez as sete classes obrigatórias sem nunca repetir, cotando-se sempre como um aluno aplicado, inteligente e a merecer os elogios dos mestres. Pois bem. Yazalde nunca teve um livro para estudar, a família nunca lhe pôde dar esse luxo! Mal acabavam as aulas, ele ia fazer os trabalhos e depois pedia os livros emprestados durante algumas horas ao amigo Horácio Aguirre, o seu grande amigo de sempre. E só depois de cumpridas as obrigações escolares, vinha então ela, a paixoneta da sua vida. A bola, uma partida entre os da rua direita contra os da esquina, uma peleia que durava muitas vezes até a noite surgir. Claro que às vezes, ao chegar a casa, D. Pedro ou D. Petrona lhe ralhavam. Raramente passavam das palavras aos actos, não por andar a jogar à bola, pois sabiam que o filho só ia brincar depois de cumpridas as obrigações escolares, mas porque os ténis de lona vinham mais rotos, mais sujos, cada dia mais velhinhos e isso era um problema, pois a sua substituição era difícil com aquela frequência que se exigia. E depois o problema daquele bom casal não se chamava apenas Hector. Eram todos os restantes sete. Sim, porque Pedro Yazalde e Petrona Luna tiveram ainda mais dois filhos depois de ter nascido o Hector. Foram gémeos. O Juan que tem a curiosidade de ser afilhado do antigo Presidente da Argentina Juan Peron e o Robert. Se as coisas financeiramente não eram famosas com seis filhos, com oito, como é natural, pioraram um bocadinho. Nenhum deles estava em idade de trabalhar e a mãe, como é lógico, nada mais podia fazer do que cuidar de toda aquela gente que, diga-se de passagem, e não obstante as dificuldades, faziam daquele lar humilde, um lar feliz. Só D. Pedro Yazalde trabalhava, só ele, trabalhando por vezes quase 20 horas por dia, fazia frente às despesas obrigatórias. Assim viveu Yazalde os seus primeiros treze anos de vida. Até que um dia... Com 13 anos, Yazalde terminou a sétima classe. A sua actividade de estudante tinha chegado ao fim. Verdade se diga, que bem contra a sua vontade, já que ele tinha um sonho. Gostava de ser médico, gostava de continuar os estudos para ser doutor. Mas esse sonho nunca podia deixar de ser apenas um sonho. E começou a trabalhar, começou por andar na venda dos jornais, primeiro, a vender bananas, depois, a partir gelo, mais tarde. Era uma vida dura, tarefas que ocupavam parte considerável do dia. Mas ao fim e ao cabo, sempre ganhava para uns sapatos, sempre auferia para umas calças ou uma blusa. E sempre eram coisas que os seus pais evitariam de comprar. E ás vezes, também, quando Yazalde passava por qualquer loja e no bolso existiam ainda umas moedas, lá comprava qualquer coisa de comer para levar para casa. Entretanto, os irmãos mais velhos começaram também a trabalhar. A vida melhorou um pouco naquele lar humilde de Buenos Aires. E a bola? Pois Yazalde, sempre que o tempo o permitia, não deixava de dar longo curso ao seu vício. Com 13 anos já alinhava pelas equipas lá do Bairro, formadas pelos “grandalhões”. E ele era, quase sempre o marcador de serviço das equipas por onde jogava. Agora, o pai já não ralhava muito. Talvez que ao ouvido já lhe tivesse chegado a notícia de que o filho Hector tinha um grande jeito para o futebol. O que é certo é que, na família, só uma pessoa acreditava que o Hector pudesse um dia vir a ser jogador de futebol. Era a Inês. Os restantes nunca pensaram nisso, nunca acreditaram. E ele, Yazalde, sonhava muitas vezes, quando os pés lhe doíam das caminhadas na venda dos jornais ou das bananas, e se ia deitar, com os ídolos do futebol argentino daquele tempo, especialmente com as vedetas do Boca Juniors, que era a equipa da sua predilecção. E quando ia ver os treinos daqueles “gigantes” olhava para os pés deles, para a forma como tocavam aquela bola grande, para a força com que rematavam, para os golos que eles metiam. O Valentim, o Roma, o Rattín… Se ele um dia fosse como eles...se ele um dia estivesse ali com aquela camisola vestida… com o público a aplaudir quando marcasse um golo! E sonhava. E eram belos esses sonhos… Durou cinco anos a vida de Hector Yazalde como vendedor. Um dia... Aconteceu em 1965. Hector Yazalde tinha então 18 anos de idade. O amigo Horácio Aguirre, o tal que no tempo de estudante lhe emprestava os livros, jogava no Piraña, um clube de amadores de Buenos Aires e, quando ia para um treino, encontrou Yazalde e convidou-o a ir também. Seria o princípio da carreira de um dos melhores futebolistas argentinos dos últimos tempos. Yazalde foi, treinou, agradou e ficou no Piraña. Por cada jogo que realizava, os dirigentes do clube davam-lhe cerca de 2000 pesos. O seu nome começou imediatamente a ser decorado pelos prosélitos do clube. Primeiro em Buenos Aires, depois nas outras cidades. Que o Piraña tinha um avançado que muito prometia, foi notícia que em pouco tempo se espalhou por todo aquele país, onde ser vedeta de futebol não era, de modo algum, uma raridade. Que o Piraña tivesse um jogador assim, isso sim, começou desde logo a solicitar reuniões de Direcção dos “grandes”. Ele tinha então, 18 anos. Claro que a vida de um futebolista não se circunscreve ao futebol. Hector começou a ser, como é natural, um ídolo das gentes do seu bairro. E o elemento feminino não era dos que menos fazia efervescer essa idolatria. Foi assim que surgiu a Norma, uma argentina gentil, simpática, atraente, por quem Yazalde logo se enamorou. Mas foi um namoro curto. Yazalde considerava-se novo de mais para criar problemas de responsabilidade. Depois, ele pensava que a sua vida não estava definida. E quatro ou cinco meses após o início da primeira paixão, esta esvaiu-se como a água que corre pelo ribeiro. E terminou assim o primeiro romance de amor da vida daquele que viria a ser uma das grandes vedetas do futebol português. Mas se esse amor morreu, o outro, aquele que o acompanhava desde miúdo, não deixava de ser cada vez maior. O futebol. Esteve dois anos no Piraña e durante esses dois anos foi o melhor goleador da equipa. Tudo se modificara na vida de Yazalde, especialmente ao nível social. Ele agora, ainda que jogando numa equipa amadora, era já um elemento pretendido por muitos dos “grandes” do seu país. E isso deu-lhe prestígio, deu-lhe algum dinheiro. Não fortunas, mas autênticos milhões, em relação aquilo que até então usufruía. Além disso a Inês, o Ricardo e o Pedro tinham casado. E a vida do pai Pedro e mãe Petrona tornou-se menos pesada, ainda que continuasse a viver naquela casa humilde onde o Hector vivera os seus primeiros dias. E toda a família estava satisfeita, especialmente a mana Inês, a única que sempre acreditava no êxito futebolístico do irmão mais novo. O primeiro jogador da família era uma radiosa esperança a princípio, uma firme certeza em 1967. E Chirola não tinha ainda completado 20 anos. Yazalde esteve dois anos no Piraña. Ali se creditou como um goleador de grande eficácia e o seu concurso começou a ser disputado pelos “grandes” do futebol argentino. E seria o Independiente de Buenos Aires, um dos baluartes do país das Pampas, que levaria a melhor. É certo que Hector Yazalde gostaria, sobretudo, de ir para o Boca Juniors que era o clube da sua preferência. Mas foi o Independiente que ofereceu melhores condições. Chirola passaria a receber cerca de 30.000 pesos. Isso aconteceu em 1967. Logo no primeiro encontro pela equipa das reservas do seu novo clube, Yazalde realizou excelente exibição, coroada com a marcação de quatro golos. Mais de 30 mil pessoas assistiram àquele encontro, em que o Independiente venceu o Ferrocarril do Oeste e toda aquela assistência, no final do desafio aplaudiu a notável actuação do novo recruta. Fez apenas três jogos pela equipa secundária. Os êxitos alcançados levaram o técnico a colocá-lo imediatamente na turma principal. E logo nesse primeiro ano, Yazalde alcançava o seu primeiro título de Campeão Nacional e também o de “Rei dos Marcadores”. Estava definitivamente traçada a carreira do jovem que, 20 anos antes, no Hospital Fiorito, tinha visto pela primeira vez a luz do dia. E aquilo que a maioria dos adeptos do futebol esperavam, de um dia para o outro surgiu. A “internacionalização” de Yazalde. Aconteceu num encontro Brasil – Argentina, disputado em Belo Horizonte. A Argentina perdeu esse encontro por 3-1, mas esse dia, Chirola jamais o esquecerá. Era a concretização total do seu sonho como jogador de futebol, já que o outro, o de ser médico, não passara de um belo sonho de criança. A época 67-68 foi a da confirmação. Yazalde voltou a ser o melhor marcador do Campeonato, voltou a ser internacional, passou a ser, desde logo, um dos jogadores mais discutidos num país onde o futebol tem pergaminhos invejáveis. E deu-se também nesse ano um acontecimento que Yazalde, alguns anos antes, estava longe de pensar vir a conseguir. A compra de um apartamento em Buenos Aires. Também nesse ano, Chirola comprou o seu primeiro automóvel, dando assim satisfação a uma outra pretensão. È altura de dizer que Hector Yazalde era também um apaixonado pelos desportos automobilísticos. 1969. Chirola prossegue na sua carreira brilhante como futebolista. Volta a ser internacional. Até à sua saída da Argentina alcançaria a bonita soma de 25 internacionalizações. E também em 1969 tomaria o seu primeiro contacto com Portugal, o país onde mal ele sonhava nessa altura, prosseguiria dois anos depois a sua carreira desportiva. Aconteceu que o Independiente, depois de uma digressão pela Europa, veio de Espanha para Lisboa (onde esteve algumas horas) para embarcar para o Brasil onde a digressão prosseguiria. Terminada a digressão, regressou à Argentina e fez ainda mais um campeonato pelo Independiente, precisamente o campeonato argentino de que melhores recordações guarda. O de 1970. Primeiro, porque seria o último ano em que jogava no Independiente, depois porque o título foi decidido num dos últimos encontros. O Independiente defrontou o Racing e venceu por 3-2. Yazalde obteve o tento da vitória a seis minutos do final. E foi o golo que valeu um campeonato. Antes destes acontecimentos, um outro sucedeu na vida de Chirola. A compra do seu segundo apartamento em Buenos Aires. Comprou depois o seu segundo carro. Terminada a época de 1970, o Independiente, então em situação financeira difícil, estava a braços com um problema. O contrato de Yazalde terminava e para o renovar teriam de dispender avultada importância que, na ocasião, não possuíam. E a hipótese de transferência surgiu, até porque existiam uma série de clubes interessados. O Santos e o Palmeiras do Brasil, o Valência de Espanha, o Lion de França, o Nacional de Montevideu, o Boca Juniors e outros. Yazalde pensou não se preocupar muito com o problema. Precisava de descansar, necessitava de umas férias. E foi para a estância de veraneio de Mar del Plata. Um belo dia recebeu um telefonema de Buenos Aires. Pediam a sua comparência, pois estava naquela cidade um senhor que era dirigente do Sporting de Portugal que pretendia falar com ele. Yazalde regressou e encontrou-se com Abraão Sorin. As conversações resultaram. Todos os pormenores foram resolvidos da melhor maneira para as duas partes e um dia Yazalde chegou ao Aeroporto de Lisboa. As condições da transferência possibilitaram a Yazalde a concretização de um outro sonho. Comprar uma vivenda em Buenos Aires para oferecer aos seus pais. Em Lisboa, Chirola foi recebido com a maior expectativa. Os jornais falavam da sua carreira, das suas internacionalizações, do seu valor reconhecido, não apenas na América do Sul, mas em muitos países da Europa onde tinha actuado aquando das numerosas digressões do Independiente. Mas, durante cinco meses, Yazalde pouco mais fez do que seguir um regime de ambientação. Realizou dois jogos nesse período. Um contra o Red Star e outro com o Liverpool. E no primeiro encontro oficial que disputou pelo seu novo clube, eis as principais características do valoroso jogador argentino a sobressaírem. O Sporting jogou com o Boavista, venceu e Yazalde fez dois golos. Depois, semana a semana, toda uma série de actuações a justificar a fama que precedia aquele jovem que, num dia de Maio de 1946, nasceu no Hospital Fiorito em Buenos Aires. Muito esperam os adeptos do Sporting do valor de Yazalde. E têm razões para isso. Trata-se de um jogador de craveira excepcional, um verdadeiro craque.

Rezava mais ou menos assim o exemplar nº 1 da 7ª série da Colecção Ídolos do Desporto com o título, YAZALDE UM FENÓMENO DO FUTEBOL, publicado em 4 de Dezembro de 1971.

Mas ainda haveria muito que contar...

Sporting Clube de Portugal

Chirola assinou contrato com o Sporting em 25 de Janeiro de 1971.

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Como já se viu, não foi fácil. E não era apenas pelo interesse de outros clubes e pelas dificuldades financeiras do Independiente. O Sporting também as tinha. Para piorar as coisas, o preço disparou com a entrada na corrida dos “gigantes” argentinos como o Boca Juniors.

O Presidente do Sporting na altura era Brás Medeiros e havia directrizes no sentido de não se gastar um tostão. Como se pode imaginar, Yazalde era um jogador cobiçado e caro, tinha sido eleito como o melhor jogador do ano de 1970 na Argentina, tinha acabado de se sagrar campeão pelo Independiente e tinha sido o melhor goleador do campeonato. À partida estaria completamente fora das possibilidades do Sporting e também completamente fora da vontade do Presidente em abrir os cordões à bolsa.

Só a arte e o engenho de Abraão Sorin conseguiram que Yazalde, em boa hora, viesse para o Sporting.

Depois de informado por Vítor Santos director do jornal A Bola sobre a qualidade do jogador e depois de o ter visto jogar, Sorin deslocou-se a Buenos Aires com a certeza de que Yazalde era um fora de série. Mas para concretizar a transferência tinha de convencer o Presidente e o Vice-Presidente que também era o Director Financeiro, e que como é bom de ver, afinava pelo mesmo diapasão do Presidente.

A tarefa adivinhava-se muito complicada. A forma que Sorin encontrou para resolver a complicada situação, foi telefonar em alvoroço para cada um deles a pedir para concretizar o negócio, dizendo que já tinha falado com o outro e que se podia avançar, sem que isso tivesse acontecido. Em face deste estratagema o Director Financeiro disse que se o Presidente tinha dito que podia ser, então que se avançasse e o Presidente a muito custo lá disse que se o Director Financeiro tinha dito que se podia avançar, que se avançasse então.

E assim foi.

Chirola, assinou um contrato particular até 1 de Agosto e outro válido por 3 épocas. Chegou a Portugal no dia 11 de Fevereiro de 1971 e a sua apresentação foi no dia 24 de Fevereiro contra o Red Star de França, mas pelas razões já apontadas, o seu primeiro jogo oficial, acabou por ser, só a 12 de Setembro de 1971, na época 71-72, contra o Boavista na 1ª jornada e em que marcou 2 golos. Tinha 25 anos.

A época de 1971-1972, foi conturbada em todos os aspectos. Peres e os seus comparsas dominavam o balneário e o treinador Fernando Vaz não tinha mão no grupo. Acabou por ser despedido à 18ª jornada, depois de um empate a zero contra o Atlético na Tapadinha. No final da época Peres foi também despedido. Pelo meio ainda houve a célebre eliminatória contra o Rangers, em que Damas defendeu 4 penalties, mas já não valia.

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Yazalde entrou em 20 jogos para o campeonato e marcou 9 golos. Na Taça das Taças jogou os 4 jogos e marcou 4 golos.

Na época 1972-1973, Yazalde entrou em 29 jogos para o campeonato e marcou 19 golos. Fez 5 jogos para a taça de Portugal e marcou 7 golos. Na Taça das Taças jogou 2 jogos e marcou 1 golo. Nesta época o Estádio de Alvalade foi interditado por 9 jogos, por causa da célebre invasão de campo aos 5 minutos, no jogo contra o Leixões à 8ª jornada. O Sporting venceu a Taça de Portugal, com Yazalde a marcar, pois claro.

Antes da época seguinte se iniciar, outro acontecimento marcante na vida de Chirola. Casou. Tinha 27 anos. Foi com Maria do Carmo da Ressurreição de Deus, mais conhecida por Carmizé. Era uma mulher muito bonita e vistosa que trabalhava no teatro e no cinema como actriz. Mais tarde, no regresso definitivo à Argentina em 1977, adoptou o nome de Carmen Yazalde. Foi modelo e manequim e dedicou-se à moda e às passereles.

O casamento celebrou-se em Buenos Aires no dia 16 de Julho de 1973 na Basílica de San Carlos. Não foi para sempre, como Chirola teria sonhado e desejado. Dele, tiveram um filho, Gonzalo, que nasceu em Maio de 1977.

Época 1973-1974. CHIROLA DE OURO

29 jogos para o campeonato e 46 golos. 6 jogos para a Taça das Taças e 4 golos.

Yazalde5b.jpg

O Sporting é Campeão Nacional e vence a Taça de Portugal. Só não venceu a Taça das Taças porque nos jogos das meias-finais contra o Magdeburgo, que viria a vencer o troféu, Yazalde não jogou. Estava lesionado. Recordo que no jogo da primeira-mão em Alvalade houve um penalty a favor do Sporting. Yazalde, que ao serviço do Sporting nunca falhou um único penalty, não estava lá para marcar. Quem marcou foi Dinis. Falhou.

Yazalde vence a Bota de Ouro com 46 golos em 29 jogos, obtendo o record de todos os tempos, que ainda hoje ninguém conseguiu alcançar.

Chirola é convocado para a Selecção da Argentina e vai disputar o Campeonato do Mundo na Alemanha. Mesmo a recuperar de uma lesão, jogou em 3 jogos. Marcou 2 golos. O seu número na camisola da selecção alviceleste era o 22.

Entretanto, o seu contrato com o Sporting terminava a 31 de Julho desse ano. Tinha assinado por três épocas e tinha custado 3500 contos, com a particularidade de no seu contrato haver uma cláusula em que se fosse o melhor goleador nacional haveria lugar a um prémio especial.

Mylian Mylianic, treinador jugoslavo, tinha acabado de ser contratado pelo Real Madrid e fazia questão de levar Yazalde para a equipa merengue. Sabia bem que Chirola era um fora de série. O Real Madrid ofereceu 25 mil contos!

Estávamos no Verão de 1974 e o Presidente do Sporting era então João Rocha, que tinha sido eleito em Setembro de 1973. A situação afigurava-se muito complicada. Yazalde, como jogador fora de série que era e como goleador implacável, tinha despertado a cobiça dos “gigantes” do futebol, e ele próprio, no auge da sua carreira e com 28 anos, como se compreende, gostaria de ver a sua situação financeira melhorada.

João Rocha não tinha por hábito pagar bem aos jogadores e Yazalde não fugia à regra, mas sabia que se o deixasse sair criava uma enorme contestação e uma grande animosidade com a massa associativa e com os adeptos Sportinguistas, que justificadamente tinham como ídolo Yazalde. Mas também deveria saber que não era desfalcando equipas, nem com ouro no banco que se ganham campeonatos. O ouro tem que estar nos relvados. A facturar, a marcar golos. No entanto, mantinha-se renitente em reconhecer em termos contratuais aquele que era o abono de família do Clube.

Yazalde4b.jpg

Chirola, que não era uma pessoa de muitas palavras, que era uma pessoa simples e de uma enorme humildade, das poucas vezes que falou sobre o assunto, ou sobre outro qualquer, terá dito ao jornal A Bola:

O Real Madrid apresentou-me uma proposta muito superior à do Sporting. Temos de ver este ponto: Um Rolls Royce não pode gastar 5 litros aos 100. Portanto se o Sporting concordar em me pagar aquilo que corresponde à minha cotação na Europa, ficarei em Lisboa.

Não pagou. Mas Chirola ficou. O seu ordenado foi substancialmente melhorado e a 28 de Agosto de 1974 Yazalde assinou por mais duas épocas.

Época 1974-1975. A Despedida

Yazalde6a.jpg

A 16 de Outubro de 1974 deslocou-se a Paris uma delegação do Sporting chefiada pelo Presidente, para assistir à entrega da Bota-de-Ouro, galardão instituído na época 1967-1968 pela revista francesa France Football para premiar o melhor goleador de todos os campeonatos europeus. Chirola apresentou-se de fato claro e gravata, ele que não gostava de usar gravata, para receber o troféu. Tinha sido o melhor goleador da Europa, marcando 46 golos num só campeonato e em 29 jogos. Até hoje, ninguém ainda conseguiu marcar tantos golos.

Yazalde e o golo faziam parte do mesmo corpo. Marcava golos como respirava.

Chirola era supersticioso e tinha uma superstição muito particular. Quando entrava em campo, depois da equipa perfilar a meio campo e depois das fotografias da praxe, iniciava o aquecimento e quando lhe passavam a bola, o primeiro toque que dava na bola, estivesse onde estivesse, era para metê-la dentro da baliza.

A sua relação com o golo era tão intensa, que dizia aos colegas:

Temos de fazer tudo para chegar ao golo. Nem que tenhamos de ser toupeiras. Se for preciso levar a bola debaixo da relva, vamos a isso!

Nessa época participou em 26 jogos para o campeonato e marcou 30 golos, tendo sido pelo segundo ano consecutivo o melhor goleador em Portugal e na Bota de Ouro europeia ficou em segundo lugar, ganhando assim a Bota de Prata.

Para a taça de Portugal entrou em 5 jogos e marcou 5 golos. Na Taça dos Campeões jogou 2 jogos e marcou 1 golo.

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A 27 de Maio de 1975 o Sporting jogou contra o União de Tomar o jogo de desempate dos quartos-de-final da Taça de Portugal em Alvalade. Aos 60m Yazalde bisou na partida. Seria o seu último golo ao serviço do Sporting. Seria o seu último golo em Alvalade. Seria o golo da despedida.

Dois dias depois, o Sporting deslocou-se ao Estádio do Bessa para jogar as meias-finais da Taça de Portugal com o Boavista. Nesse dia, 29 de Maio de 1975, Yazalde fazia 29 anos. Foi o seu último jogo oficial de leão ao peito. A 17 de Junho o Sporting jogou contra o P.S.G. no torneio de Paris. Chirola vestiu pela última vez a camisola do Sporting.

Foi o Olympique de Marseille que o veio buscar. Embora tivesse contrato por mais 1 ano, o presidente João Rocha deixou-o partir. O país atravessava um período de bandalheira institucional em que não havia dia de amanhã. O Sporting não estava imune a esse vendaval. Pelo contrário. O Olympique de Marseille pagou 12.500 contos e levou Yazalde. O contrato foi por 2 épocas.

Pouco tempo depois e já em terras de França fizeram-lhe uma entrevista.

Saudades de Portugal?

Claro que sim. Gostava, aliás, que transmitisse através de A Bola que adoro Portugal. O Sporting e os Sportinguistas estarão sempre no meu coração.

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Na época 1975-1976 marcou 19 golos para o campeonato e venceu a Taça de França. Terminada a época 1976-1977 em que marcou 4 golos tendo participado em poucos jogos, em virtude de algumas lesões que o perseguiam, terminou também o seu contrato com o Olympique de Marseille. Embora tivesse convites de clubes europeus, decidiu regressar com a sua mulher à Argentina. A Buenos Aires. Tinha 31 anos.

Jogou ainda, entre 1977 e 1981 no Newell`s Old Boys marcando 53 golos e terminou a sua carreira no C. A. Huracán tendo apenas feito 1 jogo. Retirava-se dos relvados aos 35 anos.

Terminava assim, deixando um rasto de saudade, a carreira daquele que foi um dos maiores goleadores de todos os tempos.

Como jogador era completo. Era fino, tinha classe. De técnica apuradíssima, jogava e rematava tanto com o pé esquerdo como com o pé direito. Não fazia diferença e o resultado era o mesmo...golo. No jogo aéreo e embora tivesse 1.76m, impunha-se nas alturas e era um óptimo cabeceador. A passar e a tabelar era exímio e na desmarcação, um felino. Possuía um fantástico drible e os seus slalons eram autênticos passos de Tango. Dentro da área estava sempre no lugar certo e a bola parecia que por magia ia ter sempre com ele. Era potente, rápido e decidido. Não perdoava. Era mortífero.

O seu sentido de entreajuda e o seu espírito de sacrifício eram notáveis. Contava a este respeito, anos mais tarde, Mário Lino, seu treinador na época 1973-1974, época em que Chirola foi Bota de Ouro.

Ele, que no início tão maltratado foi...

Além de um grande jogador era também um grande homem. No balneário, Yazalde era amigo de todos os companheiros e preocupava-se com o bem- estar e com os problemas dos colegas e com o grupo em geral. Na época 73-74 ganhámos o Campeonato, a Taça e chegámos às meias-finais da Taça das Taças. Durante esse período aconteceu uma história que realmente demonstra o espírito de sofrimento que Yazalde passou, para defender as cores do Sporting.

Eu conto. Essa história passou-se no jogo em Alvalade contra o Sunderland a contar para os oitavos de final da Taça das Taças. Na 1ª mão em Inglaterra o Sporting tinha perdido por 2-1 com golo de Yazalde aos 85m.

Para o jogo da 2ª mão em Alvalade, Mário Lino foi ter com Yazalde que estava lesionado e pediu-lhe para jogar, pois o Sporting precisava de marcar para seguir em frente. Disse-lhe que quando ele marcasse um golo, o tirava de imediato para que pudesse continuar a sua recuperação. Yazalde aceitou sem pestanejar. A verdade é que, aos 28m, golo do Sporting. Golo de Yazalde. Mário Lino, como era um homem de palavra, virou-se para Yazalde e fez-lhe sinal para a substituição. Yazalde disse-lhe que conseguia esperar até ao intervalo, para não quebrar o ritmo nem a dinâmica com que a equipa estava. Chegado o intervalo, o treinador preparava-se para proceder à substituição previamente combinada. Qual não é o seu espanto, quando Chirola se dirige a ele e lhe diz que queria continuar, mesmo lesionado, porque o resultado ainda não era definitivo e ainda não garantia a passagem aos quartos de final, pois poderia acontecer algum precalço. Chirola, cheio de dores, acabou por apenas ser substituído aos 65m por Tomé e o Sporting acabou por ganhar 2-0.

Em virtude dessa lesão, Chirola não jogou o jogo seguinte para o Campeonato. Nas Antas contra o F.C. do Porto. O único jogo que Yazalde não pôde jogar nesse campeonato. Afinal, também não era preciso. Fomos campeões e Yazalde foi Bota de Ouro.

Dizia também Chico Faria:

Às vezes pedia que lhe dessem injecções e lhe ligassem os pés para não sentir as dores. No final do jogo ia para a cama.

Chirola era também um jogador duma honestidade fora do comum. Não tinha manhas, não fazia fitas, não tentava enganar ninguém. Era um jogador íntegro.

Este episódio é bem revelador disso e foi contado por um hincha do Boca Juniors, quase 50 anos depois de se ter passado.

Esto me lo contó mi tío. Y dice que lo vio en la Bombonera de Buenos Aires, allá por los finales de la década del 60. Clásico Boca Independiente. Imagínense otra época y naturalmente otro tipo de derby, con un Independiente tan fuerte como Boca o River y con una rivalidad barrial tremenda. Cancha repleta. Clima picado. En una jugada de gol para el Rojo, Julio Calderón Meléndez, de espaldas al arco rival, para la pelota con el pecho (pelota que caía llovida al gol en el arco de Boca) y la saca como puede de chilena. La pelota le queda servida al Chirola Yazalde en el punto penal. El Peruano Meléndez queda agazapado en la línea de gol (ahora de frente al arco rival), como si fuera un arquero. Imagínense que se congela el tiempo. Imagínense que desaparecen las tribunas y quedan ellos dos frente a frente en esa calle única de pueblo del Far West. Lo único que se escucha es el ruido del viento y los segundos van cayendo como un goteo lento al tiempo que las pulsaciones van aumentando. Yalzade esta a punto ejecutar ese penal en jugada y sin arquero, pero todavía no suelta el disparo porque deja pasar un ovillo de ramas, que pasa rodando por delante de la pelota. Yazalde finalmente, dandole con el arco abierto del pie, le promete, a colocar, destino de ángulo. Meléndez adivina el palo y volando como un arquero, horizontal en el aire, con sus cuatro extremidades extendidas la mete en el corner, golpeando la pelota con la cabeza. La bombonera repleta vuelve a escena y atruena en un griterío infernal de unos y otros. El hombre de negro ya tiene el silbato en la boca, el índice es casi un vector que le ruge en el puño, queriendo lanzarse sin más demoras a señalar en punto de pena máxima. Y un instante antes de exhalar, el tiempo se vuelve a congelar porque mira dudosos a los protagonistas, tratando de que alguien pudiera darle fe de lo que en realidad sus ojos parecían haber visto. Yazalde entonces, desde la distancia y mirando al referee, con la palma de la mano hace el gesto de golpearse la cabeza. Cabeza- Cabeza- Corner! El juez señala el banderín de esquina. Yazalde y Meléndez se funden en un abrazo.

Assim era Yazalde. Uma pessoa simples, uma pessoa humilde, mas de enorme carácter. Mesmo os adversários, tinham por ele grande admiração e grande respeito.

Desde o Los Andes e o Racing em criança, passando pelo Piraña e o Independiente, ao Sporting, Olympique, Newell`s e Huracán em final de carreira, Chirola deixou uma marca e um perfume para todo o sempre.

Mais tarde, depois de retirado dos relvados, aquele que em criança apelidaram de Chirola, expressão utilizada pelo Lunfardo, gíria e dialecto de Buenos Aires que teve origem nos imigrantes de Itália, Espanha e França entre outros, que no final do século XIX e princípio do século passado se radicaram em Buenos Aires à procura de melhores dias e que faz parte integrante das mais belas letras de Tango, significava moeda insignificante, comparada ao tostão. Assim apelidaram Yazalde, por ainda em criança, lutar tenazmente contra todas as adversidades, vendendo jornais, fruta ou gelo partido, para poder levar para casa umas chirolas e assim poder ajudar os seus pais a matar a fome daquela família numerosa.

Mais tarde, dizia eu, tentou uma incursão no mundo dos negócios. Mas esse não era o seu mundo. Também o seu casamento resultou em desilusão. O mundo de Yazalde não era o mundo dos holofotes, dos golpes baixos, do vale tudo, da falsidade, das amizades por interesse, das solicitações comprometidas e envenenadas. O seu mundo, era o mundo da lealdade, o mundo dos princípios e dos valores, o mundo da honradez e da dignidade.

Nunca renegou as suas origens humildes. Fez-se a pulso, lutando arduamente para vencer e tentando sobreviver a todos aqueles que exploravam a sua bondade.

Sonhava construir uma escola para crianças pobres, que tal como se havia passado com ele, não tinham possibilidades financeiras, que eram desfavorecidas, e em que os livros e todo o material fosse custeado por si.

Não teve tempo

A sorte da vida foi madrasta para Yazalde. A vida quebrou-o e mordeu-lhe a dor. Ninguém quis saber. Até que um dia, a notícia surgiu terrível e implacável.

DOLOR EN EL FUTBOL: A LOS 51 AÑOS Murió Chirola Yazalde, un goleador de raza A causa de una hemorragia interna, murió ayer Héctor Yazalde. Sus restos serán sepultados hoy en la Chacarita. Héctor Casimiro Yazalde murió ayer a los 51 años, como consecuencia de una hemorragia interna. Chirola fue uno de los grandes delanteros de nuestro fútbol. Después de una aparición deslumbrante en Independiente, pasó al fútbol portugués. Se consagró campeón con el Sporting de Lisboa y recibió el Balón de Oro de Europa en 1973/74 y el Balón de Plata en la temporada siguiente. Jugó el Mundial de Alemania de 1974 para la Selección argentina. Su otro club europeo fue el Olympique de Marsella. Finalizó su carrera jugando en Newells, en los primeros años de la década del 80. Había nacido en Villa Fiorito, el mismo barrio de Diego Maradona. Desde muy pibe, Chirola empezó a trabajar para ayudar a Pedro y Petrona, sus padres -quienes años antes habían dejado Los Toldos para instalarse en el Gran Buenos Aires-, y a sus siete hermanos. Fue vendedor de diarios, ayudante en una verdulería, y en los meses de verano repartía hielo colgado del pescante de un carro. Su única diversión era jugar al fútbol en los potreros, como todos los pibes de Fiorito. (...) Los restos de Héctor Yazalde son velados en OHiggins 2848, en el barrio de Belgrano, y recibirán sepultura hoy por la mañana en el cementerio de Chacarita.

Diário Clarin X

LAS DOS CARAS DE LA MONEDA Nunca lo avergonzó su orígen, llevó con orgullo el apodo reo de Chirola hasta el escenario del Lido. Yazalde nació pobre, ganó un Botín de Oro y murió en soledad. Nació pobre. Muy pobre. Se hizo en la calle, en Fiorito. Fue ídolo de Independiente, estrella del Sporting de Lisboa, Botín de Oro en Europa. Murió de cirrosis. Sólo. Muy sólo. Don Enrique, el dueño del quiosco de diarios, sabía por qué a Héctor, el hijo de Pedro y Petrona, los otros pibes del barrio lo llamaban "Chirola". Sabía y perdonaba. "Tenía que ser vivo porque ellos querían pasarme a mí y si me jodían, yo no podía quedarme con alguna monedita del reparto" contó Yazalde en la época de la primera notoriedad, cuando el apodo se murmuraba en la tribuna del Rojo y aparecía en los diarios. Desde chico Chirola estaba acostumbrado a la nada, a conformarse con poco, al asombro porque otros pibes se daban el lujo incomprensible de salir a la calle y pisar asfalto. Era del año 46, se hizo adolescente cuando cerca de su casa nacía un tal Diego Armando. En esa época su historia bien pudo ser cantada por los también adolescentes Nebbia o Spinetta o por el último letrista de tango. Osvaldo Ardizzone hizo la mejor pintura cuando le escribió "Purrete de la orilla, la vida de salida, te cantó, la bolilla más fulera...". El poema fue canción cuando Alejandro del Prado le puso música. Y Chirola nunca dejó de sonrojarse cuando lo escuchaba o se lo recordaban.azalde jugaba en los potreros del sur. "De ocho o de diez, pero llegando al gol", se autodefinió en las primera notas. Así de sencillo se veía y efectivamente fue eso. Un nueve que se tiraba atrás, un diez adelantado y en cualquier caso, goleador. Nunca cambió. Ni en esos dos años iniciales en la novena de Los Andes ni el año siguiente en Racing junto a Basile, Cejas y Rubén Díaz hasta que Carmelo Faraone lo dejó libre. "Lo conocía del potrero. El era de Fiorito y yo de Lanús, así que siempre andaba cerca. Ya de pibe era una maravilla", cuenta hoy el Panadero Díaz. En su cultura no cabía el lamento ni las ilusiones: "Me rajaban de todos lados, no me quería nadie. Yo nunca soñe con jugar en Primera...me veían con las zapatillas agujereadas y el físico esmirriado y salían corriendo", contó alguna vez. Pero siempre hay un roto para un descosido y ahí apareció Piraña, un club más pobre que Yazalde, que nunca pasó de Primera D y que ya desapareció. Julio Grondona era presidente de la Comisión de Fútbol de Independiente y convenció al presidente Carlos Radrizzani de que pagara 1.800.000 por Chirola. Llegó a Avellaneda con 60 kilos de peso. Lo soplaban y se caía. Pero hizo seis goles en tres partidos de Tercera y ocho en los tres siguientes de Reserva y el técnico brasileño Oswaldo Brandao le dio la oportunidad. Sacó a Diéguez y puso a Chirola de 10, en dupla con Luis Artime, Luis Savoy de 8 y Raúl Bernao y Tarabini en las puntas. El Rojo fue campeón de ese Nacional 1967, nacía el crack. Lo que llegó después, Portugal, Botín de Oro, el Marsella, Newells, Huracán, es efemérides Murió en junio de 1997. Dicen que el alcohol fatal después fue cirrosis. Dicen que jugadores como Yazalde aparecen muy de vez en cuando. Y que antes de ser cracks, deben ser Chirola.

Diário desportivo Olé

LA HISTÓRIA DE UN INOLVIDABLE Villa Fiorito parece destinada a alumbrar grandes cracks. En su geografía de carencias y postergaciones, en la periferia del partido de Lanús, se forjó ese nombre que no necesita apellido para presentarse en el mundo del fútbol: Diego. Pero no fue la única figura universal que conoció los deleites de esos potreros ya mitológicos. Allí cerca, a un puñado de calles sin cordón ni asfalto, también se crió otro personaje irrepetible de la historia del fútbol argentino: Héctor Casimiro Yazalde. (...) En Portugal, además de ganar la Copa (en 1973 y en 1974) y la Liga (en 1974), su mayor logro tuvo carácter individual: en la temporada 73/74 convirtió 46 tantos en 30 partidos. No sólo obtuvo el Botín de Oro… sino que estableció un récord que aún permanece. En el Sporting lo recuerdan como lo que fue en su tiempo: un crack y una celebridad. No es casual que se lo incluya como integrante del equipo ideal de todos los tiempos en cuanta encuesta vinculada con Los Leones de Alvalade se realice. Más de tres décadas después, Chirola sigue siendo motivo de añoranza y de tributo para los verdiblancos de Lisboa. (...) Incluso en sus días de glamour y estrellato europeo, Yazalde jamás renegó de su origen. Tampoco en su regreso a la Argentina para jugar en Newell's y para retirarse en Huracán. El irremplazable Osvaldo Ardizzone un día lo definió con el fino trazo de su pluma privilegiada. Escribió de Chirola: "Purrete de la orilla, la vida de salida, te cantó, la bolilla más fulera". Esa bolilla fulera fue una cirrosis que se lo llevó en 1997. Tenía 51 años. Cuentan que murió sin saber que sería inolvidable.

Quando Osvaldo Ardizzone dedicou a Chirola um poema que mais tarde foi musicado e cantado em Tango, mal sabia Chirola que o seu Tango, o Tango da sua vida, já havia sido escrito mesmo antes de ter nascido. Tinha-o escrito em 1930 Enrique Santos Discépolo, que escreveu dos mais belos Tangos de sempre, e imortalizou-o Carlos Gardel, o maior cantor de Tango de todos os tempos.

Chirola, também ele eterno, abraçou-os aos 51 anos. Todos repousam no Cemitério de La Chacarita.

Quando Chirola morreu e foi encontrado caído, só e já sem vida, em sua casa, por um jogador que ele como empresário representava, naquela fatídica noite de 18 de Junho de 1997, os sinos repicaram e tocaram a rebate. Até hoje, não se calaram mais. Até hoje, não pararam de chorar.

© Chirola 2011