Diferenças entre edições de "Atletismo 1976"

Revisão das 22h23min de 5 de abril de 2023

A explosão de Carlos Lopes

Carlos Lopes Campeão do Mundo de Corta Mato

1976 foi um ano que ficou assinalado a letras de ouro no Atletismo leonino e português, com a "explosão" de Carlos Lopes que conseguiu dois feitos até aí únicos, primeiro sagrando-se Campeão do Mundo de Corta Mato, ao ganhar o Campeonato Mundial em Chepstow no País de Gales, e depois conquistando a primeira Medalha Olímpica do Atletismo português, classificando-se no 2º lugar da corrida dos 10000m, nos Jogos de Montreal no Canadá.

Foram duas enormes proezas, mas não totalmente inesperadas. Lopes tinha começado a época a ganhar tudo o que havia para ganhar no Corta Mato, triunfando no Crosse Internacional de Chartres e no Crosse de Lazarte em San Sebastian, para depois recuperar o título de Campeão Nacional de Corta-Mato, que na ocasião era o seu sexto. E só não foi Campeão Regional porque não participou na competição, o que não impediu o Sporting de ganhar mais um título e abriu o caminho para a primeira grande vitória de Fernando Mamede no Corta Mato.

Mas nem tudo foram rosas para ao Atletismo leonino nesta época, pois já no final do ano anterior tinham havido desentendimentos com alguns técnicos e atletas que resultaram na saída de nomes importantes como José Carvalho ou Joaquim Serra.

A época começou com as vitórias de Carlos Lopes na volta a Paranhos e na Légua de Ovar.

Na Pista os resultados de Carlos Lopes também foram brilhantes, começando por bater o Recorde Nacional dos 5000m, em Maio na Alemanha, tornando-se no primeiro português a percorrer a distância em menos de 13,30m, o que já era uma marca de nível internacional, para logo na semana seguinte participar como convidado num encontro entre as seleções da RFA e da URSS, onde fez a melhor marca do ano nos 10000m, com o tempo de 27,45,71m, que passou a ser a 8ª melhor marca de sempre naquela distância, constituindo uma melhoria de quase 45 segundos em relação ao anterior Recorde Nacional, tornando-se assim no primeiro português a correr os 10000m em menos de 28 minutos.

Em Junho Carlos Lopes melhorou o seu Recorde dos 5000m, percorrendo a distância em 13,24,0m, mas nos Jogos Olímpicos apostou nos 10000m, uma corrida mais longa onde teria maiores hipóteses de afastar a concorrência, para evitar uma ponta final ao sprint, onde não era muito forte.

Carlos Lopes Medalha de Prata nos Jogos Olímpicos de Montreal

A aposta revelou-se acertada, Carlos Lopes ganhou a sua eliminatória e na Final impôs um ritmo forte, ao qual apenas resistiu o finlandês Lasse Viren, sobre quem recaíram algumas suspeitas de ter recorrido a transfusões de sangue para melhorar o seu rendimento. O que é certo é que Lopes ficou apenas com a Medalha de Prata, estabelecendo um novo Recorde Nacional, que viria a melhorar duas semanas depois em Estocolmo, numa prova onde Lasse Viren não quis participar, fazendo o tempo de 27,42,65m, que era a 6ª melhor marca mundial de sempre e o melhor tempo do ano.

No entanto esta temporada não se resumiu aos grandes feitos de Carlos Lopes. Em Maio durante os Campeonatos Regionais de Pista que o Sporting viria a perder por 1 ponto, Raposo Borges superou a mítica fasquia dos 5 metros no Salto com Vara, enquanto Luís Azevedo bateu o Recorde Nacional do Triplo Salto, aproximando-se da barreira dos 16 metros, que viria a ultrapassar no final desse mês, durante o encontro entre as selecções de Madrid, Barcelona e Lisboa.

A derrota do Sporting nos Regionais era também o reflexo de um certo enfraquecimento da equipa, resultante da saída de alguns atletas importantes, como José Carvalho, José Câmara, Carlos Sustelo e Carlos Calado, que aproveitaram a liberalização das transferências para prosseguirem as suas carreiras noutros clubes, mas mesmo assim o Sporting apenas perdeu este título devido a uma decisão incompreensível do júri, que alterou a classificação da estafeta dos 4x400m, um dia depois desta se ter realizado, dando provimento a um protesto do Benfica sem qualquer sustentação, pois não havia foto-finish.

Em Junho o Sporting voltou a participar na Taça dos Campeões Europeus de Atletismo, que desta vez se realizou em Rieti na Itália, piorando a sua classificação em relação ao ano anterior, ao terminar no 9º lugar, o que reflectia o já referido enfraquecimento da equipa, agravado pela ausência de Fernando Mamede e pelas péssimas condições climatéricas em que a competição se disputou.

Para além dos já referidos êxitos individuais, o Sporting conseguiu recuperar o título de Campeão Nacional de Corta Mato, assegurando a presença na Taça dos Campeões Europeus da especialidade, onde pela primeira vez Portugal iria estar representado no ano seguinte, e voltou a ganhar a Estafeta Cascais-Lisboa, com uma equipa constituída por Carlos Cabral, Américo Barros, Carlos Lopes, Fernando Mamede e Alberto Silva, repetindo também o êxito conseguido no ano anterior na Volta à Cidade de Vigo.

Na Pista o Sporting revalidou o título de Campeão Nacional, com os Leões a desforrarem-se da derrota sofrida nos Regionais, conseguindo uma vitória também por apenas um ponto, em mais uma competição renhidamente disputada com o Benfica, na qual os atletas leoninos ganharam 11 das 20 provas em disputa, com Carlos Lopes (5000m e 10000m) e Fernando Mamede (800m e 1500m) a serem naturalmente as grandes figuras do Campeonato, com duas vitórias para cada um.

Nos Campeonatos de Portugal individuais verificaram-se algumas ausências e assim os atletas leoninos apenas conquistaram 5 dos 17 títulos em disputa, com Raposo Borges, Péricles Pinto e Luís Azevedo a consolidarem o domínio nas suas especialidades, enquanto Fernando Mamede batia o Recorde Nacional dos 1500m, garantindo uma presença nos Jogos Olímpicos, o que não o impediu de chorar no final da prova, quando soube que o seu companheiro Carlos Cabral tinha falhado os mínimos para os Jogos de Montreal, onde Mamede viria a melhorar o seu Recorde dos 1500m, apesar de não ter conseguido chegar à Final.

No sector feminino que o Sporting continuou a dominar de uma forma esmagadora. Conceição Alves fez uma temporada excepcional, sagrando-se Campeã de Portugal dos Saltos em Comprimento e Altura e dos 100m barreiras e vencendo o Pentatlo Nacional, para além de ter batido ou igualado Recordes Nacionais em 11 ocasiões, com destaque para o 1,68m no Salto em Altura em Pista Coberta, que era simultaneamente o Recorde Nacional absoluto, uma marca que viria a melhorar quatro vezes neste ano, até chegar a 1,73m.

Nos Campeonatos de Portugal individuais, que terminaram com 7 vitórias das atletas leoninas, nas 13 provas em disputa, os restantes triunfos verde brancos foram de Manuela Alves e Adília Silvério, que conquistaram dois títulos cada uma.

Colectivamente o Sporting foi pela 18ª vez consecutiva, simultâneamente Campeão Regional e Nacional, com as Leoas a vencerem 9 das 15 provas em disputa nos Campeonatos de Lisboa, enquanto nos Campeonatos Nacionais de Clubes, que no sector feminino se disputaram pela primeira vez de uma forma independentemente dos campeonatos individuais, o Sporting também ganhou de forma categórica.

To-mane 11h19min de 11 de Julho de 2012 (WEST)

Secção do Atletismo

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