Até à revolução de Abril de 1974 os maiores feitos do Atletismo português tinham sido as vitórias de Manuel Faria na Corrida de São Silvestre em São Paulo e os 4ºs lugares de Álvaro Dias no concurso do Salto em Comprimento do Europeu de 1950 e de Manuel de Oliveira na corrida dos 3000m obstáculos nos Jogos Olímpicos de 1960, mas o Prof. Moniz Pereira sabia que era possível fazer mais, se fossem dadas melhores condições de treino aos nossos atletas.
Carlos Lopes no seu estilo muito próprio enfrentando o difícil terreno de Chepstow
Depois de ultrapassados muitos obstáculos, principalmente graças à insistência do Prof. Moniz Pereira, Carlos Lopes fora finalmente dispensado do trabalho no Banco, da parte da manhã, para poder treinar duas vezes por dia e os resultados não se fizeram esperar.
A época de Corta Mato de 1976 foi cuidadosamente preparada, com Carlos Lopes a ganhar rodagem internacional, triunfando no Crosse Internacional de Chartres e no Crosse de Lazarte em San Sebastian, ao mesmo tempo que intensificava o seu domínio nas competições nacionais.
O objectivo era o Campeonato Mundial de Corta Mato que se disputava no dia 28 de Fevereiro em Chepstow no País de Gales, e antes da prova o Prof. Moniz Pereira vaticinou que se Carlos Lopes não deixasse fugir Haro e Black, poderia até ter hipóteses de ganhar.
Mas Lopes foi mais longe, impôs um andamento forte e a meio da prova quando se apercebeu que os poucos atletas que ainda lhe resistiam estavam a fraquejar, atacou e isolou-se, vencendo com uma inesperada facilidade, deixando a mais de 100 metros o inglês Tony Simmons, que à chegada ao saber que tinha sido um português a ganhar, reagiu com um indiferente "não conheço", isto apesar de poucas semanas antes ter sido derrotado por Carlos Lopes em San Sebastian.
No final da prova o Prof. Moniz Pereira com os olhos marejados em lágrimas estava eufórico e Fernando Mamede que ficara no 80º lugar, afirmou que quando se apercebera que Lopes ia ganhar, só lhe apetecera abandonar a sua corrida para o ir abraçar.
O Duque de Lancester desceu ao lamaçal do hipódromo de Chepstow no seu helicóptero, para entregar as Medalhas, e a nossa bandeira voou bem alto ao som da "Portuguesa", numa cerimónia que selou com chave de ouro o maior feito do desporto português até então, que se estimou ter sido visto pela televisão por cerca de 200 milhões de espectadores.
Carlos Lopes foi recebido em Portugal como um herói, sendo homenageado pelo Secretário de Estado dos Desportos, mas mesmo assim houve quem criticasse o investimento que estava a ser feito no Atletismo, o que levou o Prof. Moniz Pereira no seu jeito mordaz, a dizer que se calhar o Carlos Lopes ainda ia ter de pedir desculpa por ter sido Campeão do Mundo de Corta Mato.
To-mane 12h36min de 12 de Julho de 2012 (WEST)