|
|
Linha 3: |
Linha 3: |
| No campeonato foram 23 vitórias, 3 empates e 4 derrotas, 96 golos marcados (46 dos quais por [[Yazalde]]), 21 sofridos e 49 pontos, mais dois do que o Benfica, mais quatro do que o Vitória de Setúbal, que atravessava um dos períodos mais ilustres da sua história, mais seis do que o Porto. Na taça houve direito à sempre saborosa vitória contra o Benfica na final, precedida de quatro jogos todos eles disputados em Alvalade e perante equipas da Primeira Divisão, nos quais foram derrotados, sucessivamente, o Vitória de Setúbal por 4-2, o Belenenses (quinto classificado no campeonato) por 2-1, o Boavista por 2-0 e uma das nossas filiais, o Olhanense, por 2-1. | | No campeonato foram 23 vitórias, 3 empates e 4 derrotas, 96 golos marcados (46 dos quais por [[Yazalde]]), 21 sofridos e 49 pontos, mais dois do que o Benfica, mais quatro do que o Vitória de Setúbal, que atravessava um dos períodos mais ilustres da sua história, mais seis do que o Porto. Na taça houve direito à sempre saborosa vitória contra o Benfica na final, precedida de quatro jogos todos eles disputados em Alvalade e perante equipas da Primeira Divisão, nos quais foram derrotados, sucessivamente, o Vitória de Setúbal por 4-2, o Belenenses (quinto classificado no campeonato) por 2-1, o Boavista por 2-0 e uma das nossas filiais, o Olhanense, por 2-1. |
| | | |
− | Na Taça das Taças ficaram pelo caminho o Cardiff (0-0 fora e 2-1 em casa, com golos de [[Yazalde]] e [[Samuel Fraguito|Fraguito]]), o Sunderland, que surpreendera a Inglaterra no ano anterior ao derrotar o então todo-poderoso Leeds United na final apesar de ser uma equipa da Segunda Divisão, com o qual o Sporting perdeu 1-2 fora (golo de [[Yazalde]]), para dar a volta à eliminatória em Alvalade vencendo por 2-0, mais uma vez com golos de [[Yazalde]] e [[Samuel Fraguito|Fraguito]], e o FC Zurique, batido 3-0 em Lisboa com golos de [[Nelson Fernandes]], [[Marinho Mateus|Marinho]] e [[Yazalde]], seguindo-se um empate a uma bola na Suíça, golo de [[Baltasar]]. Seria o Magdeburgo, da então República Democrática Alemã e eventual e surpreendente vencedor da prova, quem poria termo ao sonho de repetir o feito de 1964 dez anos depois. O jogo da primeira mão, em Alvalade, terminou 1-1, destacando-se o facto de [[Dinis]] ter falhado um penalty. Marcaram [[Manaca]], pelo Sporting, e Sparwasser, o qual, no Verão desse mesmo ano, causaria uma das maiores surpresas do mundial ao marcar o golo com o qual a RDA derrotou a RFA. Na Alemanha Oriental o Sporting perdeu por 1-2, apesar de ter disposto de algumas boas oportunidades para obter um resultado diferente. O golo leonino foi apontado por [[Marinho Mateus|Marinho]]. | + | Na Taça das Taças ficaram pelo caminho o Cardiff (0-0 fora e 2-1 em casa, com golos de [[Yazalde]] e [[Samuel Fraguito|Fraguito]]), o Sunderland, que surpreendera a Inglaterra no ano anterior ao derrotar o então todo-poderoso Leeds United na final apesar de ser uma equipa da Segunda Divisão, com o qual o Sporting perdeu 1-2 fora (golo de [[Yazalde]]), para dar a volta à eliminatória em Alvalade vencendo por 2-0, mais uma vez com golos de [[Yazalde]] e [[Samuel Fraguito|Fraguito]], e o FC Zurique, batido 3-0 em Lisboa com golos de [[Nelson Fernandes]], [[Marinho Mateus|Marinho]] e [[Yazalde]], seguindo-se um empate a uma bola na Suíça, golo de [[Baltasar]]. Seria o Magdeburgo, da então República Democrática Alemã e eventual e surpreendente vencedor da prova, quem poria termo ao sonho de repetir o feito de 1964 dez anos depois. O jogo da primeira mão, em Alvalade, terminou 1-1, destacando-se o facto de [[Dinis]] ter falhado um penalty. Marcaram [[Carlos Manaca|Manaca]], pelo Sporting, e Sparwasser, o qual, no Verão desse mesmo ano, causaria uma das maiores surpresas do mundial ao marcar o golo com o qual a RDA derrotou a RFA. Na Alemanha Oriental o Sporting perdeu por 1-2, apesar de ter disposto de algumas boas oportunidades para obter um resultado diferente. O golo leonino foi apontado por [[Marinho Mateus|Marinho]]. |
| | | |
| O jogo de Magdeburgo passaria à história também pela data em que foi disputado: 24 de Abril de 1974. A equipa do Sporting saiu de Portugal sob o Estado Novo, mas voltaria a casa já depois da Revolução. Aliás, como todos os voos para Lisboa foram cancelados, o regresso a Portugal tornou-se uma pequena odisseia, com a equipa a voar até Madrid e depois a tomar o autocarro para Badajoz onde, depois de esperar uma noite porque a fronteira estava fechada, voltou enfim a pisar o solo nacional. | | O jogo de Magdeburgo passaria à história também pela data em que foi disputado: 24 de Abril de 1974. A equipa do Sporting saiu de Portugal sob o Estado Novo, mas voltaria a casa já depois da Revolução. Aliás, como todos os voos para Lisboa foram cancelados, o regresso a Portugal tornou-se uma pequena odisseia, com a equipa a voar até Madrid e depois a tomar o autocarro para Badajoz onde, depois de esperar uma noite porque a fronteira estava fechada, voltou enfim a pisar o solo nacional. |
Linha 25: |
Linha 25: |
| Seguiu-se, em 9 de Junho de 1974, a final da Taça. Não sem que antes houvesse golpe de teatro, com a saída de [[Mário Lino]], ainda estando por se apurar se se tratou de demissão ou de despedimento. O velho leão [[Osvaldo Silva]] foi chamado ao comando técnico da equipa, que defrontaria o Benfica na final, esperando desforrar-se das duas derrotas sofridas no campeonato. | | Seguiu-se, em 9 de Junho de 1974, a final da Taça. Não sem que antes houvesse golpe de teatro, com a saída de [[Mário Lino]], ainda estando por se apurar se se tratou de demissão ou de despedimento. O velho leão [[Osvaldo Silva]] foi chamado ao comando técnico da equipa, que defrontaria o Benfica na final, esperando desforrar-se das duas derrotas sofridas no campeonato. |
| | | |
− | Perante um Jamor cheio, perante o recém-empossado presidente Spínola, com direito a "Grândola Vila Morena" e com a arbitragem de César Correia, do Porto, o Sporting alinhou com [[Vítor Damas]], [[Manaca]], [[Vitorino Bastos]], [[Carlos Alhinho]] e [[Baltasar]]; [[Paulo Rocha]] ([[Chico Faria|Chico]], 73 minutos), [[Vagner]] ([[Dani Silva|Dani]], 105 minutos) e [[Nelson Fernandes]]; [[Marinho Mateus|Marinho]], [[Dé]] e [[Dinis]]. | + | Perante um Jamor cheio, perante o recém-empossado presidente Spínola, com direito a "Grândola Vila Morena" e com a arbitragem de César Correia, do Porto, o Sporting alinhou com [[Vítor Damas]], [[Carlos Manaca|Manaca]], [[Vitorino Bastos]], [[Carlos Alhinho]] e [[Baltasar]]; [[Paulo Rocha]] ([[Chico Faria|Chico]], 73 minutos), [[Vagner]] ([[Dani Silva|Dani]], 105 minutos) e [[Nelson Fernandes]]; [[Marinho Mateus|Marinho]], [[Dé]] e [[Dinis]]. |
| | | |
| Nené marcou aos 32 minutos e pôs o Benfica na frente. A partir daí, os encarnados limitaram-se a defender o resultado, esperançados que o jogo acabasse com o 1-0 no marcador. Quase tiveram sucesso. A sua vantagem durou até aos 88 minutos, quando [[Chico Faria|Chico]] fez o empate, coroando o esforço do Sporting ao longo de toda a partida. Seguir-se-ia o prolongamento, durante o qual [[Marinho Mateus|Marinho]] (107 minutos) marcou o golo que deu o triunfo e a dobradinha ao Sporting. | | Nené marcou aos 32 minutos e pôs o Benfica na frente. A partir daí, os encarnados limitaram-se a defender o resultado, esperançados que o jogo acabasse com o 1-0 no marcador. Quase tiveram sucesso. A sua vantagem durou até aos 88 minutos, quando [[Chico Faria|Chico]] fez o empate, coroando o esforço do Sporting ao longo de toda a partida. Seguir-se-ia o prolongamento, durante o qual [[Marinho Mateus|Marinho]] (107 minutos) marcou o golo que deu o triunfo e a dobradinha ao Sporting. |
Revisão das 16h32min de 3 de dezembro de 2020
A época de 1973/74 foi uma das de maior sucesso na história do Sporting. Campeão nacional, vencedor da Taça e semi-finalista da Taça das Taças, o Sporting orientado por Mário Lino e com Hector Yazalde no seu máximo esplendor obteve os títulos prometidos pelo seu novo Presidente, João Rocha, eleito em 7 de Setembro de 1973, mais cedo do que o próprio esperava.
No campeonato foram 23 vitórias, 3 empates e 4 derrotas, 96 golos marcados (46 dos quais por Yazalde), 21 sofridos e 49 pontos, mais dois do que o Benfica, mais quatro do que o Vitória de Setúbal, que atravessava um dos períodos mais ilustres da sua história, mais seis do que o Porto. Na taça houve direito à sempre saborosa vitória contra o Benfica na final, precedida de quatro jogos todos eles disputados em Alvalade e perante equipas da Primeira Divisão, nos quais foram derrotados, sucessivamente, o Vitória de Setúbal por 4-2, o Belenenses (quinto classificado no campeonato) por 2-1, o Boavista por 2-0 e uma das nossas filiais, o Olhanense, por 2-1.
Na Taça das Taças ficaram pelo caminho o Cardiff (0-0 fora e 2-1 em casa, com golos de Yazalde e Fraguito), o Sunderland, que surpreendera a Inglaterra no ano anterior ao derrotar o então todo-poderoso Leeds United na final apesar de ser uma equipa da Segunda Divisão, com o qual o Sporting perdeu 1-2 fora (golo de Yazalde), para dar a volta à eliminatória em Alvalade vencendo por 2-0, mais uma vez com golos de Yazalde e Fraguito, e o FC Zurique, batido 3-0 em Lisboa com golos de Nelson Fernandes, Marinho e Yazalde, seguindo-se um empate a uma bola na Suíça, golo de Baltasar. Seria o Magdeburgo, da então República Democrática Alemã e eventual e surpreendente vencedor da prova, quem poria termo ao sonho de repetir o feito de 1964 dez anos depois. O jogo da primeira mão, em Alvalade, terminou 1-1, destacando-se o facto de Dinis ter falhado um penalty. Marcaram Manaca, pelo Sporting, e Sparwasser, o qual, no Verão desse mesmo ano, causaria uma das maiores surpresas do mundial ao marcar o golo com o qual a RDA derrotou a RFA. Na Alemanha Oriental o Sporting perdeu por 1-2, apesar de ter disposto de algumas boas oportunidades para obter um resultado diferente. O golo leonino foi apontado por Marinho.
O jogo de Magdeburgo passaria à história também pela data em que foi disputado: 24 de Abril de 1974. A equipa do Sporting saiu de Portugal sob o Estado Novo, mas voltaria a casa já depois da Revolução. Aliás, como todos os voos para Lisboa foram cancelados, o regresso a Portugal tornou-se uma pequena odisseia, com a equipa a voar até Madrid e depois a tomar o autocarro para Badajoz onde, depois de esperar uma noite porque a fronteira estava fechada, voltou enfim a pisar o solo nacional.
O campeonato nacional começou, curiosamente, com uma derrota (0-1 em Setúbal contra o super-Vitória da época), mas o Sporting logo tratou de lançar a sua candidatura ao título, com sete vitórias consecutivas: 3-1 ao Boavista em Alvalade, com dois golos de Yazalde, 3-0 ao Leixões em Matosinhos, com outros dois golos do imortal Chirola, 4-1 ao Belenenses em casa, com um golo do matador argentino, 7-0 fora ao Oriental, com quatro tentos de Yazalde, 3-0 ao Farense em Alvalade, com Yazalde a marcar por duas vezes, 3-0 à CUF no Barreiro, com dois golos da autoria de Yazalde e 8-0 ao Montijo com seis golos - seis - do grande Hector Yazalde.
Seria o Porto, nas Antas, a interromper o ciclo de vitórias do Sporting, ao impor um empate a uma bola, mas com dezanove golos marcados à nona jornada, Yazalde já estava a fazer história e o Sporting, com tal ponta-de-lança, nunca poderia ser senão um sério candidato ao título.
Seguiram-se uma vitória em Alvalade por 3-0 contra o Vitória de Guimarães e uma derrota na Luz por 0-2. O Sporting não se desorientou com o revés sofrido no dérbi e arrancou para cinco vitórias seguidas, 5-2 ao Beira-Mar em casa, com um golo de Yazalde, 3-0 à Académica em casa, com dois golos do seu máximo goleador, 3-1 em Olhão, onde se assistiu a mais dois golos do Chirola, 6-1 ao Barreirense em Alvalade, com direito a hat-trick do argentino e 2-1 ao Vitória de Setúbal no primeiro jogo da segunda volta, com mais um golo de Yazalde.
Em plena vigência do "borrego", o Sporting empatou no Bessa por 1-1, mas voltou às vitórias no jogo seguinte, contra o Leixões em Alvalade, repetindo a dose da primeira volta (3-0), com um golo de Yazalde e dois de Chico. Seguiu-se uma derrota por 0-1 no Restelo e mais uma grande série de vitórias (seis): 8-0 ao Oriental em casa, em tarde em que cinco remates de Yazalde acabaram o seu percurso nas redes adversárias, 2-0 em Faro, com mais um golo de Yazalde, 6-0 à CUF em casa, com três do argentino, 4-1 no Montijo, com outro golo de Yazalde, 2-0 ao Porto em Alvalade, com Dinis a ser desta feita o marcador de serviço, apontando ambos os golos, e 1-0 em Guimarães.
Seguir-se-ia um dos jogos mais estranhos e polémicos da história do campeonato nacional. Os 3-5 em Alvalade contra o Benfica, o jogo em que Marcelo Caetano, a menos de um mês do final do regime, procurou aproveitar-se da popularidade de ambos os clubes para conseguir um "banho de multidão". Por ordem da censura, a imprensa nada referiu sobre a presença do "Presidente do Conselho" no jogo, não fosse o diabo tecê-las. Marcelo, porém, acabou por ser bem recebido pelos adeptos de ambos os clubes, talvez pelo medo que o regime ainda impunha, o que chegou a assustar quem planeava a Revolução.
Na jornada seguinte o Sporting empatou 1-1 em Aveiro (golo de Yazalde), e, a três jornadas do fim, viu-se na obrigação de não perder mais do que um ponto, pois tinha dois a mais do que o Benfica e, em caso de igualdade pontual, veria fugir o título para os rivais. Em Coimbra registou-se uma vitória por 3-1, com um golo de Yazalde e o Olhanense foi despachado por 5-0 em Alvalade, com dois tentos do Chirola, o que motivou alguns festejos precipitados de adeptos que pensavam que o título já estaria garantido.
Porém, ficara tudo adiado para a última jornada, no Barreiro, contra um Barreirense à procura de escapar à descida. Aos vinte minutos, com o resultado em branco, veio a notícia que o Benfica já ganhava o seu jogo por 2-0. Naquela altura um golo do Barreirense poderia deitar tudo a perder. Mas Baltasar, aos 45 minutos (logo antes do intervalo), Nelson Fernandes aos 48 e Yazalde aos 51 fixaram o resultado final em 3-0 para o Sporting e o clube pode festejar o seu 14.º título nacional. Foi uma coincidência feliz que o último golo do clube no campeonato tivesse sido marcado por Yazalde. Ninguém o merecera mais.
Já foi dito que, nessa época, entre um Benfica cheio de estrelas e um Sporting cheio de vontade de vencer triunfou o segundo, com menos recursos, mas com mais garra. E mais Chirola.
Seguiu-se, em 9 de Junho de 1974, a final da Taça. Não sem que antes houvesse golpe de teatro, com a saída de Mário Lino, ainda estando por se apurar se se tratou de demissão ou de despedimento. O velho leão Osvaldo Silva foi chamado ao comando técnico da equipa, que defrontaria o Benfica na final, esperando desforrar-se das duas derrotas sofridas no campeonato.
Perante um Jamor cheio, perante o recém-empossado presidente Spínola, com direito a "Grândola Vila Morena" e com a arbitragem de César Correia, do Porto, o Sporting alinhou com Vítor Damas, Manaca, Vitorino Bastos, Carlos Alhinho e Baltasar; Paulo Rocha (Chico, 73 minutos), Vagner (Dani, 105 minutos) e Nelson Fernandes; Marinho, Dé e Dinis.
Nené marcou aos 32 minutos e pôs o Benfica na frente. A partir daí, os encarnados limitaram-se a defender o resultado, esperançados que o jogo acabasse com o 1-0 no marcador. Quase tiveram sucesso. A sua vantagem durou até aos 88 minutos, quando Chico fez o empate, coroando o esforço do Sporting ao longo de toda a partida. Seguir-se-ia o prolongamento, durante o qual Marinho (107 minutos) marcou o golo que deu o triunfo e a dobradinha ao Sporting.
Ganhara a equipa que mais lutara, a equipa que mais golos marcara, a equipa que mais deslumbrara. Num país renascido, nascera a lenda dos Campeões da Liberdade e nascera, também, a lenda do Chirola, marcador de cinquenta golos em jogos oficiais.
--Pireza 21h35min de 21 de Outubro de 2008 (WEST)