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Dados de Peyroteo Peyroteo1.jpg
Nome Fernando Baptista Seixas Peyroteo
Nascimento 10 de Março de 1918
Naturalidade Humpata - Angola - 
Posição Avançado
Escalão Época Clube Jogos Golos Titulos Internacionalizações
JUV JUN ESP BB AA Golos
1936/37 Sp. Luanda
1ª Divisão 1937/38 SPORTING 30 56 Campeonato de Lisboa
Campeonato de Portugal
2 1
1ª Divisão 1938/39 SPORTING 26 44 Campeonato de Lisboa 1 0
1ª Divisão 1939/40 SPORTING 31 54 1 2
1ª Divisão 1940/41 SPORTING 20 37 Campeonato de Lisboa
Campeonato Nacional
Taça de Portugal
1 1
1ª Divisão 1941/42 SPORTING 25 51 Campeonato de Lisboa 1 0
1ª Divisão 1942/43 SPORTING 31 40 Campeonato de Lisboa
1ª Divisão 1943/44 SPORTING 29 37 Campeonato Nacional
Taça Império
1ª Divisão 1944/45 SPORTING 31 39 Campeonato de Lisboa
Taça de Portugal
3 4
1ª Divisão 1945/46 SPORTING 35 57 Taça de Portugal 2 2
1ª Divisão 1946/47 SPORTING 23 47 Campeonato Nacional
Campeonato de Lisboa
5 0
1ª Divisão 1947/48 SPORTING 22 25 Campeonato Nacional
Taça de Portugal
2 2
1ª Divisão 1948/49 SPORTING 25 42 Campeonato Nacional 2 1
Total = 328 529 20 13

Peyroteo foi o maior goleador da história do futebol português e provavelmente mundial, com uma média de 1,6 golos por jogo, que torna os seus feitos inigualáveis, e todos os adjectivos que possamos encontrar para qualificar este portentoso avançado, serão insuficientes para que se perceba a sua dimensão.

Infelizmente nunca foi dada a justificada relevância ao que merecia ser considerado como o melhor jogador português de todos os tempos, principalmente se compararmos com o que fizeram em relação a outros, embora para isso também tenha contribuído a época distante em que Peyroteo viveu, numa altura em que ainda não existiam as competições europeias, e em que a 2ª Guerra Mundial interrompeu os torneios entre Selecções.

Os Primeiros Anos

Fernando Peyroteo, o "stradivarius"

Fernando nasceu em Angola e o seu apelido pouco português revela as suas origens castelhanas da parte de um dos seus avós, e foi em África que se começou a notabilizar como grande goleador, ao serviço do Sporting Clube de Luanda.

Tinha 19 anos quando chegou a Lisboa no dia 26 de Junho de 1937, acompanhado de sua mãe que regressava a Portugal para tratar da saúde. Foi recebido por familiares mas também por Aníbal Paciência, um amigo angolano que jogava no Sporting, e que o apresentou aos dirigentes do Clube, que já conheciam a sua fama de goleador.

Levaram-no a conhecer a sumptuosa Sede do Clube no Palácio da Foz, onde ele não se sentiu muito à vontade num ambiente cheio de barulho, fumo e perfumes femininos, mas foi lá que se comprometeu a ser jogador do Sporting, o que afinal era o seu grande sonho.

Ofereceram-lhe então um bilhete de comboio para ir a Coimbra assistir ao desfecho do Campeonato de Portugal, num jogo que seria decidido por um penalti esquisito na primeira Final de Szabo, a quem seria entregue pouco tempo depois.

Mas antes veio o defeso, altura em que se estabeleceu em Sintra junto da família, aproveitando então as férias para conhecer Lisboa, onde se deslocava regularmente, e foi num desses passeios que foi assediado por um emissário do FC Porto, que lhe ofereceu muito dinheiro. Rejeitou alegando que já tinha assinado pelo Sporting, o que não era verdade, mas a sua palavra não tinha preço e já estava dada aos Leões.

A Carreira no Sporting

Em Agosto finalmente o seu primeiro treino, onde apesar de ter as pernas a tremer marcou três golos ao mítico Azevedo, convencendo logo ali Joseph Szabo, que se apercebeu imediatamente que tinha um diamante em bruto nas mãos e passou a trabalhar com ele quatro vezes por semana, quando o resto da equipa só treinava duas, recomendando à Direcção que não perdesse tempo a assinar o contrato com ele.

Uma máquina de fazer golos

Os resultados começaram logo a aparecer na sua estreia, a 12 de Outubro de 1937, num jogo contra o Benfica, a contar para um torneio disputado nas Salésias, em que contribuiu com 2 golos para a vitória do Sporting por 5-3.

Nessa altura já tinha finalmente assinado o seu contrato a troco de 500 escudos e um ordenado de mensal de 700, que era o que os melhores jogadores do Sporting recebiam na altura, embora depois houvesse dinheiro por fora para aqueles que o mereciam, e Peyroteo rapidamente passou a ser o que mais prémios recebia.

Transformou-se numa verdadeira máquina de fazer golos, tornando-se no maior goleador português de todos os tempos, detentor de uma série de recordes provavelmente imbatíveis, liderando então o ataque do Sporting durante 12 épocas, nas quais foi sempre o melhor marcador da equipa, integrando duas míticas linhas avançadas: a que ficou conhecida como os Cinco Violinos da qual ele era o "stradivarius" e a que lhes antecedeu, onde tinha a companhia de Mourão, Pireza, Soeiro e João Cruz.

Neste período conquistou um Campeonato de Portugal, cinco Campeonatos Nacionais, quatro Taças de Portugal, sete Campeonatos de Lisboa e a Taça Império, tornando-se no terceiro jogador com mais títulos conquistados ao serviço do Sporting, só superado por Azevedo e Manecas, que no entanto jogaram mais tempo do que ele.

Alguns dos números que se seguem podem não ser totalmente exactos, mas seguramente não andam muito longe da realidade, e são demonstrativos da incomparável vocação pelo golo que Peyroteo tinha, que resultava especialmente da sua principal arma que era um remate fácil, potente e colocado, que aliava a um bom jogo de cabeça complementado por um excelente sentido posicional e principalmente por uma poderosa e impressionante capacidade física.

O poderoso remate de Peyroteo

Assim no total na sua carreira Peyroteo conseguiu marcar 694 golos em 432 jogos, sendo que pelo Sporting fez 393 jogos, tendo marcado 635 golos, que foram 529 para 328 se nos limitarmos a contabilizar os jogos oficiais, ou 330 para 197 em relação ao Campeonato Nacional, de que foi o melhor marcador por seis vezes, estabelecendo um recorde de 43 golos em 26 jogos, que só seria batido em 1974 por Yazalde que marcou 46 golos mas em 29 jogos.

Num só jogo marcou 9 golos ao Leça e 8 ao Boavista, conseguindo ainda marcar 6 golos numa única partida por 3 vezes, 5 por 12 vezes e 4 por 17 vezes.

Foi o primeiro jogador a marcar um golo no Estádio Nacional, ao inaugurar o marcador no jogo em que o Sporting derrotou o Benfica por 3-2 com dois golos seus, conquistando a Taça Império instituída pela FPF e a Taça Estádio oferecida pelo Governo para comemorar a ocasião.

Como se pode depreender facilmente é muito complicado eleger uma tarde de glória em relação a um jogador destes, mas seguramente que o dia em que marcou os quatro golos com que o Sporting derrotou o Benfica no Campo Grande por 4-1, arrancando assim para a conquista daquele que ficou conhecido como o Campeonato do Pirulito, ficará na história como um dos seus maiores feitos.

De resto o Benfica era uma das suas vitimas preferidas, tendo conseguido marcar 64 golos nos sempre emocionantes "derbys" de Lisboa, onde aconteceu a sua única expulsão, que não mancha a sua fama de jogador extremamente correcto. Foi num duelo com defesa benfiquista Gaspar Pinto que na impossibilidade de o travar, usava e abusava do jogo sujo, que nesse dia foi ao ponto de ofender a mãe de Peyroteo, que lhe respondeu com um soco, porque com a honra da sua mãe ninguém brincava.

Memórias e a Selecção Nacional

<video id="GpiV5p7ZyKU" width="400" position="right" desc="Vídeo de homenagem a Peyroteo com alguns dos momentos mais marcantes ao serviço do Sporting"/> Peyroteo estreou-se na Selecção Nacional logo na sua primeira temporada ao serviço do Sporting, no celebre jogo em que Azevedo ganhou o epíteto de "o Gato de Frankfurt", quando Portugal conseguiu um histórico empate na Alemanha, mas esse como é evidente não foi um dia propicio para os avançados brilharem. No entanto ele não desperdiçou as oportunidades que se seguiram e marcou 13 golos nos 20 jogos que disputou em representação de Portugal, isto numa época em que havia pouca competição internacional e em que a nossa Selecção estava longe de poder competir com as melhores.

No seu livro "Memórias de Peyroteo" este enorme jogador conta várias histórias deliciosas, principalmente envolvendo Joseph Szabo por quem nutria uma grande admiração e um carinho muito especial, tendo inclusivamente saído várias vezes em sua defesa, quando o "Mestre" era alvo de criticas injustas vindas dos adeptos insaciáveis.

Nessas histórias ficamos a conhecer as brincadeiras do intratável Manecas que escondia os bonecos com que o treinador explicava as suas tácticas, só para o irritar, ou a forma como Pireza escapava às longas corridas que o treinador impunha à equipa, escondendo-se no Campo Grande a fumar um cigarrinho, e até as intermináveis lições de futebol que Szabo lhe dava depois dos treinos, impedindo-o de ir ao cinema para o qual já tinha comprado o bilhete. Mas a mais engraçada de todas talvez seja aquela em que Peyroteo explica como Szabo lhe perdoou a multa de "dez per cente" que aplicava a todos os jogadores que chegassem atrasados aos treinos, obrigando-o a comprar um despertador que custou 50 escudos, e que o húngaro dizia que quando tocasse em Sintra até o Azevedo o iria ouvir no Barreiro.

O Adeus de uma Lenda

O discurso na hora da despedida

Surpreendentemente Peyroteo resolveu retirar-se em 1949 com apenas 31 anos, o que para muitos custou ao Sporting o campeonato de 1949/50, que teria sido o primeiro tetra do Clube e teria possibilitado um impensável recorde de oito campeonatos ganhos consecutivamente.

Conta-se que esta decisão foi motivada pelo facto de uma loja de artigos desportivos que Peyroteo abrira em Lisboa o ter deixado com algumas dívidas, pelo que na ânsia de as liquidar resolveu fazer a sua festa de despedida, um hábito da altura, que proporcionava sempre algum dinheiro aos jogadores que estavam de saída.

Esta situação demonstra não só o grande carácter e honestidade deste homem, mas também o seu desapego pelo dinheiro, que o impediu de fazer fortuna, tendo mesmo chegado a recusar-se a receber emissários do Bordéus que vieram a Lisboa para lhe oferecerem um chorudo contrato, tudo em nome do seu amor ao Sporting, que talvez não tenha sido suficientemente grato para com ele, pois diz-se que na altura 200 contos teriam chegado para resolver o seu problema e prolongar-lhe a carreira por mais dois ou três anos.

No dia da sua festa de despedida Fernando Peyroteo justificou-se aos Sportinguistas assim:

Fui soldado nas fileiras do desporto nacional e um soldado não foge ao cumprimento do seu dever, seja qual for e em que circunstâncias for! Mas de hoje em diante, reconheço que sou um soldado velho... Não posso corresponder às exigências de preparação de um jogador de futebol que queira manter-se em forma e ser útil ao seu clube e à modalidade que pratica. Quando entro em campo, vou cheio de vontade de jogar, mas, depois de meia dúzia de pontapés na bola, apodera-se de mim um enfastiamento inexplicável.

Estávamos a 11 de Setembro de 1949 e este foi seguramente um dos dias mais tristes da história do Sporting Clube de Portugal.

A sua camisola, exposta no Mundo Sporting

O dinheiro angariado serviu-lhe para pagar as dividas, mas os seus negócios da Casa Peyroteo continuaram a correr mal e acabou por regressar a Angola, onde também não encontrou a felicidade que merecia, acabando por voltar para Portugal.

Foi nessa altura, na época de 1961/62 que Fernando Peyroteo foi Seleccionador Nacional, mas só por dois jogos. Uma derrota por 4-2 no Luxemburgo no jogo onde lançou Eusébio, foi fatal para ele, levantando uma onda de contestação vinda da parte dos benfiquistas, que culminou no seu afastamento definitivo do futebol.

Infelizmente o destino nem sempre é justo para com os grandes homens, e Peyroteo foi vitima um castigo que seria o último a merecer, quando uma lesão sofrida num jogo de veteranos disputado em Barcelona, o levou à mesa de operações, a intervenção correu mal e mais tarde acabou por ter de amputar uma perna.

Morreu com 60 anos, a 28 de Novembro de 1978, vítima de ataque cardíaco, mas será para sempre um dos heróis imortais do Sporting Clube de Portugal.

To-mane 16h59min de 24 de Março de 2009 (WET)