No dia 3 de Novembro de 1971, o Sporting recebeu o Glasgow Rangers, em jogo a contar para a 2ª mão da 2ª eliminatória da Taça das Taças. Cerca de 40 mil espectadores deslocaram-se ao Estádio José Alvalade, confiando na capacidade dos Leões para virarem o 3-2 do primeiro jogo.
Aos 25 minutos, o argentino Yazalde inaugurou o marcador, numa oportuna recarga depois de uma defesa incompleta do guardião escocês, na sequência de livre apontado por Peres com um remate fortíssimo. Mas logo no minuto seguinte Stein empatou.
O Sporting voltou a colocar-se em vantagem no marcador aos 38 minutos, num lance parecido com o do primeiro golo, só que desta vez o autor do remate inicial foi João Lourenço e a recarga vitoriosa foi feita por Tomé. E assim chegou-se ao intervalo com o resultado em 2-1.
Logo no reinicio do jogo Stein bisou, restabelecendo a igualdade, pelo que pouco depois Fernando Vaz mexeu na equipa, lançando primeiro Nelson Fernandes no lugar de Tomé e depois, já perto do fim Marinho rendeu Dinis, que tinha estado algo infeliz na finalização.
Os Leões entregaram-se com entusiasmo à missão de empatar a eliminatória, nunca desistindo, e receberam o desejado prémio a 3 minutos do fim, quando o defesa direito Pedro Gomes fez o 3-2, numa improvável finalização de cabeça, ele que fora um exemplo de entrega durante toda a partida.
Com a eliminatória empatada o jogo prosseguiu com um prolongamento de 30 minutos, onde se marcou mais um golo para cada lado, primeiro por Henderson num lance em que a bola desviou em João Laranjeira traindo Damas, e depois já à beira do fim o Sporting estabeleceu o resultado final em 4-3, com um golo de Peres na transformação de uma grande penalidade, a punir um corte com a mão de um defesa escocês.
Ora naquela temporada entrara em vigor a regra dos golos fora valerem como fator de desempate, mas mesmo assim o árbitro holandês Van Ravens considerando que tal só se aplicava no tempo regulamentar e mandou marcar as grandes penalidades para desempatar.
Entrou então em ação o génio de Vítor Damas que defendeu três penáltis (o outro foi para fora), espalhando a alegria pelas bancadas de Alvalade, onde se festejou euforicamente a passagem aos quartos-de-final.
Foi já depois de todos terem recolhido aos balneários que o delegado da UEFA ao jogo, o espanhol Ramirez, de regulamento em punho informou que o árbitro holandês Laurens van Ravens tinha errado ao mandar marcar os penáltis, pois o vencedor era o Rangers por ter marcado mais golos fora de que os portugueses.
O Sporting ainda tentou protestar junto da UEFA, defendendo que segundo os regulamentos as decisões tomadas em campo pelo arbitro não podiam ser revertidas, isto para além de alegar danos de ordem moral, material e desportiva, mas a UEFA não atendeu e foram os escoceses que seguiram em frente, acabando por ganhar aquela competição.
Mais tarde, Vítor Damas recordou essa noite inacreditável:
"Fui para a baliza, estava inspirado! Defendi os penáltis todos, deixando assim todo o Estádio a vibrar. Saí do jogo como um herói, as pessoas abandonaram o Estádio convencidas que o Sporting tinha passado a eliminatória. Até que o delegado da UEFA, que era o senhor Lacerda, por acaso também vice-presidente da Federação, que descobriu tudo e emendou o erro. O dito senhor Lacerda, entrou no nosso balneário a seguir ao jogo e disse-nos "Isto foi tudo muito giro, vocês foram fantásticos, mas não valeu de nada, porque em caso de empate no prolongamento os golos marcados fora valem a dobrar". Naquele tempo as noticias não circulavam tão rapidamente e os adeptos Sportinguistas apenas souberam que o Sporting tinha sido eliminado no dia seguinte, graças aos jornais."
To-mane 16h30min de 26 de Outubro de 2008 (WET)