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Edição atual desde as 15h41min de 12 de novembro de 2019
Em Março de 2017 Bruno de Carvalho tinha sido reeleito Presidente do Sporting Clube de Portugal com 86,13% dos votos dos sócios leoninos, o que era revelador da aprovação ao trabalho feito até aí. Mas se o primeiro mandato daquele que ficou conhecido como “o Presidente sem medo” foi praticamente consensual, o segundo ficou marcado pela agitação que culminou numa crise sem precedentes.
A Alteração aos Estatutos
O Sporting liderava o Campeonato de Futebol e ia de vento em popa nas modalidades de alta competição, enquanto o Benfica estava cercado de processos judiciais, quando no dia 3 de Fevereiro de 2018 se realizou uma Assembleia Geral extraordinária onde entre outros pontos a Direção propunha algumas alterações aos Estatutos e a aprovação de um Regulamento Disciplinar. Estas duas propostas levantaram muitas dúvidas e na altura da sua discussão foi requerido por alguns sócios que a votação das mesmas fosse adiada para permitir uma análise e reflexão mais profundas.
Foi então que Bruno de Carvalho resolveu retirar as propostas anunciando que a sua Direção iria reunir para tomar uma decisão em relação ao ocorrido. Assim, poucos dias depois foi marcada uma nova Assembleia Geral para o dia 17 de Fevereiro, com a seguinte ordem de trabalhos:
Ponto 1 – Deliberar sobre a aprovação da alteração aos Estatutos do Clube.
Ponto 2 – Deliberar sobre a aprovação de Regulamento Disciplinar do Clube.
Ponto 3 – Deliberar sobre a continuidade do mandato dos Órgãos Sociais.
No entanto Bruno de Carvalho colocou como condição para a sua continuidade que os três pontos fossem aprovados com pelo menos 75% dos votos dos sócios leoninos, sendo acusado de estar a chantagear os associados, impondo a aprovação da alteração aos Estatutos e do Regulamento Disciplinar e esvaziando a discussão sobre as propostas com a ameaça de abandonar o Clube.
Apesar das críticas, no dia 17 de Fevereiro cerca de 5400 sócios do Sporting acorreram ao Pavilhão João Rocha e deram um significativo voto de confiança ao seu Presidente, aprovando de forma esmagadora os três pontos em discussão, conforme se pode verificar pelos resultados:
1. Alteração dos estatutos: 87,3%
2. Regulamento disciplinar: 87,8%
3. Continuidade dos órgãos sociais: 89,5%
No final dessa Assembleia Bruno de Carvalho apelou a um boicote à comunicação social, acusando-a de não respeitar o Sporting. Essa nova frente de batalha virar-se-ia contra ele nas semanas que se seguiram, quando no epicentro da crise se tornou num alvo fácil para aqueles que tinha afrontado.
Conflito Interno
Com a sua liderança reforçada, a posição de Bruno de Carvalho parecia intocável mas o Presidente sentia que lhe faltava ganhar no futebol sénior masculino, onde os resultados começaram a falhar à medida que a época se aproximava do fim.
No dia 31 de Março o Sporting perdeu em Braga e ficou praticamente afastado da luta pelo título. Poucos dias depois nova derrota, desta vez em Madrid perante o Atlético, num jogo que ficou marcado por uma serie de erros individuais inexplicáveis. Bruno de Carvalho que tinha ficado em Lisboa para assistir ao nascimento da sua terceira filha, reagiu de pronto no facebook com uma mensagem onde criticou os jogadores, que não gostaram e, foi aí que Rui Patrício respondeu na mesma moeda colocando em causa a liderança do Presidente com uma mensagem no instagram, que foi replicada por quase todo o plantel.
De imediato e em cima do acontecimento Bruno de Carvalho resolveu suspender os jogadores que lhe tinham respondido, pelo que se chegou a falar na possibilidade do Sporting jogar com a Equipa B frente ao Paços de Ferreira. Valeu a intervenção de Jorge Jesus a serenar os ânimos e a equipa voltou às vitórias num jogo onde as bancadas de Alvalade tomaram partido dos jogadores e assobiaram o Presidente.
Seguiram-se uma série de vitórias que levaram o Sporting à Final da Taça de Portugal e a ficar a depender apenas de si para conseguir o 2º lugar que assegurava o acesso às pré eliminatórias da Liga dos Campeões.
No dia 5 de Maio o Sporting empatou a zero com o Benfica adiando a questão do 2º lugar para a última jornada onde tinha de ganhar na Madeira, mas na véspera desse jogo saiu no “Expresso” uma entrevista de Bruno de Carvalho, onde ele voltava a criticar os jogadores e principalmente o treinador.
No dia seguinte o Sporting perdeu com o Marítimo depois de uma exibição miserável que motivou o desagrado dos adeptos, que se estendeu do final do jogo até ao aeroporto onde Fernando Mendes, um antigo líder da Juventude Leonina, tentou tirar satisfações junto de alguns jogadores.
Foi nessa altura que rebentou o escândalo “cashball” com dois funcionários do Sporting a serem constituídos arguidos por suspeitas de corrupção, entre eles André Geraldes que era o Diretor do Futebol leonino.
Ataque à Academia Sporting
Na terça feira dia 15 de Maio quando o plantel se preparava para o primeiro treino da semana, um grupo de cerca de 40 adeptos encapuçados invadiu a Academia Sporting, agredindo jogadores e treinadores em pleno balneário. 23 dos assaltantes foram detidos nas imediações de Alcochete quando tentavam fugir, tendo posteriormente sido presos mais 4, que supostamente seriam os cabecilhas da invasão e que tinham conseguido sair da Academia em viatura própria. Entre eles estava Fernando Mendes. Mais tarde o número dos detidos subiria para 36.
O impacto deste evento reflectiu-se não apenas no dia-a-dia nacional, com cobertura praticamente constante da comunicação social bem como uma onda massiva de comentários de todo o tipo de figuras públicas portuguesas (incluindo o Presidente da República, Primeiro-Ministro e Presidente da Assembleia da República), mas também fora de portas, com a imprensa internacional a dar destaque a uma situação considerada praticamente única na cena do futebol mundial e caracterizando o Sporting como um clube à deriva.
A equipa não treinou durante a semana mas mesmo assim compareceu no Jamor para a Final da Taça de Portugal que o Sporting perdeu por 2-1 com o Desportivo das Aves, num jogo onde Bruno de Carvalho não marcou presença depois das suas reações ao sucedido terem sido consideradas pouco contundentes e dos jogadores se recusarem a falar com ele, deixando implícito que o consideram culpado daqueles lamentáveis acontecimentos.
Queda dos Órgãos Sociais
Bruno de Carvalho de saída
Com o clima interno sem sinais de acalmia, seguiram-se então uma serie de demissões na Direção, no Conselho Fiscal e na Mesa da Assembleia Geral que apontavam para queda dos órgãos sociais do Clube, mas Bruno de Carvalho manteve-se intransigente na sua posição, uma vez que continuava com quórum directivo apesar das demissões, recusando-se assim a abrir caminho para a realização de eleições antecipadas que eram reclamadas por um grande número de Sportinguistas.
Pelo meio começaram a chegar à SAD do Sporting pedidos de rescisão unilateral dos contratos de vários futebolistas que alegavam não ter condições para continuarem no Clube, o primeiro dos quais foi Rui Patrício que foi seguido por Daniel Podence, William Carvalho, Bas Dost, Bruno Fernandes, Gelson Martins, Rafael Leão, Rodrigo Battaglia e Ruben Ribeiro.
Marta Soares, o Presidente da Mesa da Assembleia Geral, também entrou em conflito aberto com Bruno de Carvalho e apesar de ter afirmado publicamente que se tinha demitido, não chegou a fazê-lo formalmente, isto para além de, de acordo com os Estatutos continuar em funções até à eleição do seu sucessor. Assim, no dia 17 de Maio, nomeou uma Comissão de Fiscalização para substituir o Conselho Fiscal e Disciplinar que à exceção de um elemento, se tinha demitido em bloco.
Em resposta Bruno de Carvalho contestou a legitimidade de Marta Soares, considerando que ele já não estava em funções por ter afirmado publicamente que toda a MAG se demitira e, que o Conselho Directivo era o único órgão não-demissionário, o lhe conferia legitimidade para fazer os possíveis para garantir o normal funcionamento do Clube. Assim nomeou uma Comissão Transitória da Mesa da Assembleia Geral que não estava prevista nos Estatutos e que era presidida por Elsa Judas e outra Comissão Disciplinar liderada por Subtil de Sousa.
O Sporting passou então a ter duas Mesas da Assembleia Geral e duas Comissões Disciplinares, dando-se inicio a uma “guerra de providências cautelares” no sentido de se esclarecer a situação, pois a Comissão Transitória da Mesa da Assembleia Geral marcara duas Assembleias Gerais, uma para o dia 17 de Junho que tinha como pontos de ordem a aprovação do orçamento, a prestação de esclarecimentos aos sócios e algumas alterações aos estatutos que visavam a legalização da própria Comissão Transitória da Mesa da Assembleia Geral e a possibilidade do Conselho Diretivo substituir os seus membros demissionários e a outra para o dia 6 de Julho com o objetivo de eleger uma nova MAG e um novo Conselho Fiscal e Disciplinar.
A Assembleia Destitutiva de 23 de Junho
Do outro lado, Marta Soares defendia que continuava em funções e marcou para o dia 23 de Junho uma Assembleia Geral de destituição do Conselho Diretivo, afirmando estar na posse de um requerimento nesse sentido com assinaturas que correspondiam a mais de 4000 votos de sócios do Sporting, que no entanto não conseguiu reconhecer devido à indisponibilidade dos serviços do Clube para tal efeito.
No desfecho desta batalha jurídica os tribunais decidiram a favor das pretensões de Marta Soares, impedindo a realização das Assembleias Gerais marcadas por Elsa Judas e obrigando o Sporting a viabilizar a Assembleia Geral do dia 23.
Entretanto a Comissão de Fiscalização suspendeu preventivamente o Conselho Diretivo presidido por Bruno de Carvalho e Marta Soares nomeou uma Comissão de Gestão presidida por Artur Torres Pereira, uma decisão que não foi acatada pelo Presidente do Sporting, pelo que a Comissão de Gestão chegou mesmo a ser impedida de entrar nas instalações do Clube.
Finalmente no dia 23 de Junho realizou-se a Assembleia Geral destitutiva onde marcaram presença 14 735 sócios que determinaram a destituição do que restava do Conselho Diretivo presidido por Bruno de Carvalho, com 71,36% de votos a favor e 28,74% contra.
Inicialmente Bruno de Carvalho que surpreendentemente apareceu na Assembleia e até votou, declarou que se iria afastar definitivamente do Sporting e renunciar à sua condição de sócio pois sentia-se injustiçado, pelo que seria desnecessário darem seguimento aos processos disciplinares de que fora alvo, mas depois recuou nessas intenções e chegou a afirmar que em vez disso iria impugnar todas as decisões até aí tomadas, para finalmente manifestar a intenção de se recandidatar nas eleições que entretanto tinham sido marcadas para o dia 8 de Setembro, apelando para que lhe fossem levantados os processos disciplinares em curso a cujas notas de culpa inicialmente nem tinha respondido, por os considerar inválidos.
Comissão de Gestão e Novas Eleições
Torres Pereira e Sousa Cintra
A primeira decisão da Comissão de Gestão depois de entrar efetivamente em funções, foi nomear Sousa Cintra como Presidente interino da SAD, tendo este de imediato decidido não cumprir o contrato recentemente assinado por Bruno de Carvalho com o treinador sérvio Sinisa Mihajlovic, para logo de seguida anunciar o regresso de José Peseiro ao comando do Futebol leonino, ao mesmo tempo que dava início ao complicado processo de negociações com os 9 jogadores que tinham rescindido unilateralmente os seus contratos com o Sporting, tendo conseguido concretizar o regresso de Bruno Fernandes, Bas Dost e Rodrigo Battaglia e simultaneamente fazer algumas contratações, com natural destaque para a de Nani.
O Presidente destituído e o seu vice para a área financeira, Carlos Vieira, anunciaram as suas candidaturas às eleições de 8 de Setembro, que no entanto foram rejeitadas por se encontrarem suspensos da sua condição de sócios, na sequência de um processo disciplinar que culminou com a aplicação de um castigo de um ano a Bruno de Carvalho e de 10 meses a 5 dos 6 restantes membros da Direção destituída.
Entretanto no dia 17 de Agosto Bruno de Carvalho anunciou que voltara a ser o Presidente do Sporting desde o dia 1 desse mês, altura em que o Sporting fora citado para responder a uma providência cautelar que visava a suspensão dos efeitos da AG do dia 23 Junho. Chegou a ser recebido na SAD, onde no entanto foi feita uma leitura diferente dos documentos apresentados, pelo que continuou tudo na mesma.
No entanto Bruno de Carvalho teimava em participar nas eleições, tendo para tal interposto novas providências cautelares no sentido de pelo menos adiar o processo eleitoral, mas sem êxito, pelo que no dia 8 de Setembro de 2018, 22400 Sócios do Sporting Clube de Portugal disseram presente e elegeram novos Órgãos Sociais, apesar dos apelos ao boicote do anterior Presidente, que apelidou aquelas eleições de "farsa" e prometeu impugná-las, acusando Álvaro Sobrinho, o maior acionista particular da SAD, de com a cumplicidade de Marta Soares, Artur Torres Pereira, Frederico Varandas, José Maria Ricciardi, Paulo Abreu, Rogério Alves, Jorge Jesus e até do Benfica, ser o mentor de uma golpada para o derrubar de forma a travar a reestruturação financeira que estava em curso e que o faria perder peso na estrutura acionista da sociedade.
Frederico Varandas toma posse
Já na fase final do seu mandato a Comissão de Fiscalização puniu com a expulsão de sócio do Sporting Clube de Portugal, Elsa Judas e Trindade Barros que também integrava a Comissão Transitória da Mesa da Assembleia Geral e deixou uma recomendação ao futuro Conselho Fiscal e Disciplinar, para que fosse adotada a mesma medida em relação a Bruno de Carvalho.
Na madrugada de 9 de Setembro Frederico Varandas foi declarado vencedor das eleições, tomando posse no fim desse mesmo dia. Estava assim virada uma página negra da história do Sporting Clube de Portugal, que deixou algumas feridas que só o tempo poderia sarar.
To-mane (discussão) 20h45min de 11 de setembro de 2018 (WEST)