Carlos Lopes Campeão Olímpico da Maratona de Los Angeles
Consciente de que dificilmente conseguiria ganhar uma corrida táctica, como eram tradicionalmente as Finais Olímpicas dos 10000m, Carlos Lopes virara-se para a Maratona, com o grande objectivo de vencer esta prova nos Jogos Olímpicos de Los Angeles.
Em Outubro de 1982 teve a sua primeira experiência na Maratona de Nova Iorque, onde desistiu, mas sentiu-se bem e poucos meses depois bateu o Recorde da Europa desta dura especialidade, ao classificar-se em 2º lugar na Maratona de Roterdão.
Em Abril de 1984 voltou a participar na prova holandesa, mas desta vez desistiu, embora mais tarde tenha confessado que isso fazia parte da sua preparação, que apenas previa que fizesse 30 quilómetros na Maratona de Roterdão.
Na manhã de 27 de Julho de 1984, Carlos Lopes foi atropelado em Lisboa quando fazia mais um treino. Felizmente foi só um susto, levantou-se de imediato e verificou que conseguia correr, mas foi levado ao hospital onde se confirmou que não era nada de grave. À tarde já estava a treinar outra vez, embora sob vigilância do médico do Sporting.
10 dias depois partiu para os Estados Unidos, mas não ficou na Aldeia Olímpica, pois a Nike tinha-lhe reservado um quarto num dos melhores hotéis da Cidade, situado junto à praia, onde podia treinar tranquilamente e usufruir da companhia da sua mulher e dos serviços de um massagista.
Era fim de semana na madrugada de 12 de Agosto de 1984 e Portugal não dormiu para acompanhar a odisseia de Carlos Lopes na Maratona dos Jogos Olímpicos, e depois da decepção que tinha sido a prestação de Fernando Mamede na Final dos 10000m, o nervosismo era generalizado, apenas o nosso grande Campeão parecia imperturbável.
Presentes todos o grandes maratonistas da época, numa corrida que começou debaixo de muito calor, mas com um andamento vivo, que logo ao 19º quilómetro afundou o norte americano Alberto Salazar, que era um dos principais favoritos.
Com o aproximar da fase decisiva da corrida, o grupo da frente começou a ficar mais pequeno e ao quilómetro 34 o australiano Robert de Castella também cedeu, para cerca de 2 mil metros depois ser vez dos japoneses Seko e Takeshi So ficarem para trás. Ou seja, os principais candidatos à vitória tinham fraquejado naquele que é considerado o momento critico das Maratonas.
Na frente com Carlos Lopes restavam apenas o irlandês John Tracy e o inglês Charles Spedding, que estavam longe do nível dos atletas que já tinham ficado para trás. Lopes percebeu que a vitória estava muito perto e ao quilómetro 38 desferiu o ataque final, exactamente na altura que tinha planeado.
Talvez tenham sido os 15 minutos mais longos da sua vida, numa caminhada triunfante para a meta instalada no Estádio Olímpico, onde entrou quando já passavam das 3 da manhã em Portugal, concluindo a prova com 2,09,21h, um novo Recorde Olímpico.
Carlos Lopes escuta o Hino Nacional de Medalha ao peito
Nesse dia o Hino Nacional soou pela primeira vez numa cerimónia de entrega de medalhas dos Jogos Olimpicos, assinalando mais um grande feito de Carlos Lopes.
No final o Campeão explicou que tinha sentido que ia ganhar no dia em que fora atropelado, parecera-lhe um sinal divino, e agradeceu o apoio da Nike, deixando no ar alguns reparos à delegação portuguesa e umas indirectas ao rival Fernando Mamede, de tal forma que preferiu estar presente na festa da marca que o patrocinava, em detrimento da festa organizada pelo COP.
De regresso a Portugal foi recebido de forma apoteótica, e teve direito a um churrasco em São Bento, que lhe foi oferecido pelo Presidente da Republica Mário Soares.
Depois foi recebido na Casa Branca pelo Presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan e no Palácio Real de Madrid pelo Rei de Espanha, D. Juan Carlos, que lhe entregou o Troféu para o Melhor Desportista do Mundo em 1984, concedido pela Union de Periodistas Deportivos de España.
Aos 37 anos de idade Carlos Lopes conseguiu o triunfo que faltava ao seu extraordinário palmarés, mas prometeu continuar, pelo menos mais um ano.
To-mane 16h31min de 23 de Outubro de 2012 (WEST)