Depois do Conselho Geral ter aprovado as condições de Brás Medeiros em reunião efectuada no dia 25 de Junho de 1965, realizou-se para o mesmo efeito, uma Assembleia-Geral extraordinária, no dia 2 de mês seguinte.
Antes de se entrar na ordem de trabalhos o Dr. Lívio Borges colocou uma dúvida relacionada com o possível esvaziamento dos poderes da Assembleia Geral, enquanto órgão representativo dos sócios, ao que o Dr. Brás Medeiros respondeu, garantindo que a Comissão Directiva não pretendia eliminar a Assembleia Geral, acrescentando que até aceitava que os futuros Presidente e Vice-Presidente desta, fossem escolhidos pela Assembleia Geral ali reunida, não se coibindo no entanto de sugerir os nomes do Dr. Amado de Aguilar e do Dr. António Alberto Ribeiro Ferreira, sugestão que foi recebida com agrado pelos sócios presentes.
No primeiro ponto da ordem de trabalhos elaborada pelo Dr. Ribeiro Ferreira que presiu à sessão, propunha-se aos sócios aceitar ou rejeitar as condições de Brás Medeiros para presidir a uma Comissão Directiva, sendo que nos pontos seguintes solicitava-se a aprovação individual das principais medidas propostas nessas condições, e que foram todas aprovadas sem reparos da parte dos sócios, de tal forma que o último ponto da ordem dos trabalhos, onde se deveriam votar os nomes propostos para a Comissão Directiva e para a Comissão Fiscalizadora, foi substituído por sugestão de um sócio, pela aclamação dos novos Órgãos Sociais do Sporting Clube de Portugal, que assim não chegaram a ser votados, mas antes foram eleitos por aclamação e unanimidade, perante o compreensível entusiasmo da massa associativa leonina, ao verificar que o Clube ficava entregue a três grandes figuras, como eram Brás Medeiros, Cazal Ribeiro e Amado de Aguilar.
No entanto o ponto alto desta Assembleia Geral, estava guardado para o período pós ordem de trabalhos, quando o Coronel José Carvalhosa pediu a palavra e prendeu as atenções da assistência com um discurso arrepiante, cuja parte mais relevante merece ser aqui citada textualmente:
Naquela mesa encontra-se uma taça, um troféu desportivo conquistado há 15 anos numa prova equestre, que tem uma história que se me afigura oportuno referir.
Disputava-se um Grande Prémio, a prova máxima de um concurso hípico, a mais ambicionada. Um cavaleiro e a sua montada encontravam-se inferiorizados física e moralmente, mas era preciso triunfar, assim o exigia o brio desportivo. Mas como, em condições tão adversas?
Cavaleiro e montada partiram e a vontade firme de vencer transformou a fraqueza em força e a taça ali está, como exemplo simbólico da luta e do triunfo, partindo de uma situação de inferioridade.
O cavaleiro de então honra-se em oferecer ao seu querido Clube, neste momento critico da sua vida, a taça mais volumosa que ganhou, para que transformada em numerário, contribua em parcela mínima para minorar a actual crise financeira.
Que ela no dia de hoje, como símbolo desportivo, se transforme em cofre da magnânima generosidade da nossa massa associativa, são os votos sinceros de um velho sportinguista."
Terminado o seu discurso de lágrimas nos olhos e voz embargada, o Coronel Carvalhosa entregou a taça a Jorge Almasquè, um dos responsáveis pelo Núcleo dos Mil, que tinha sido criado para ajudar a resolver a crise financeira, e quando era efusivamente cumprimentado pelo Dr. Amado de Aguilar, que pediu então aos sócios para não ficarem indiferentes ao apelo de José Carvalhosa, alguém levantou a tampa da taça e nela depositou um primeiro donativo, desencadeando uma chuva de notas de 50, 100, 500 e 1000 escudos, que caiam nela até a encherem uma e outra vez, enquanto os sócios faziam fila para depositarem a sua contribuição, até que foi a própria taça a percorrer a sala, num movimento que só parou quando se atingiram os 50 contos, e para o qual consta que até os jornalistas presentes em serviço, contribuíram, contagiados por aquela onda de entusiasmo leonino, que se desencadeara no recinto.
Para encerrar esta memorável Assembleia Geral, o Dr. Brás Medeiros depois de agradecer aos sócios a forma elevada como decorrera a sessão, informou que apesar da Comissão Directiva ainda não ter tomado posse, o que só viria a acontecer no dia 28 de Julho de 1965, já tinha tomado uma primeira decisão, no sentido de que a taça que o Coronel Carvalhosa oferecera ao Sporting, não poderia ser vendida, e teria como destino a sala de troféus do Clube, onde figuraria como símbolo da dedicação à causa leonina, uma medida que foi recebida com mais uma calorosa ovação. E foi assim num ambiente de grande fervor sportinguista, que terminou esta histórica reunião, que deu inicio a um novo ciclo da vida do Sporting Clube de Portugal.
To-mane 11h40min de 10 de Outubro de 2011 (WEST)