Na época de 2011/12 o Sporting depois de ganhar tranquilamente o Grupo D da Liga Europa, qualificou-se para os oitavos de final da competição, eliminando o Legia de Varsóvia, mercê de um empate a duas bolas na Polónia e de uma vitória por 1-0 em Alvalade.
O sorteio já tinha determinado que o vencedor desta eliminatória iria defrontar nos quartos de final, o clube que sobrevivesse ao embate entre o FC Porto, detentor do título em disputa e os milionários do Manchester City, que na altura lideravam a Premier League e que depois de ganharem por 2-1 no Dragão, despacharam os Campeões de Portugal com um claro 4-0, no City of Manchester Stadium.
O Sporting estava há muito afastado da discussão da Liga portuguesa, dividindo o 4º lugar do campeonato com o Marítimo, e em consequência desses maus resultados, tinha recentemente trocado de treinador, com o despedimento de Domingos Paciência que fora substituído por Ricardo Sá Pinto, que até aí treinava os Juniores do Clube.
O Manchester City apesar de não ser um Clube com um grande historial a nível europeu, vinha da 1ª fase da Liga dos Campeões, e em 2008 fora comprado pelo multimilionário Sheikh Mansour bin Zayed Al Nahyan, que investiu milhões atrás de milhões, no reforço de uma equipa que era comandada pelo italiano Roberto Mancini e onde no meio de uma verdadeira constelação de estrelas, se destacavam jogadores como Kun Aguero, Mário Balotelli, David Silva e Yaya Touré.
Assim praticamente ninguém acreditava noutro desfecho para esta eliminatória, que não fosse a passagem dos ingleses sem grandes dificuldades, e em Portugal até se dizia em jeito de brincadeira, que seria melhor para o Sporting perder por falta de comparência, do que sujeitar-se a uma humilhação.
Do lado inglês este confronto foi encarado com alguma sobranceria, principalmente depois dos 6-1 ao FC Porto, que era o líder do Campeonato português, e o bósnio Dzeko, chegou mesmo a afirmar que não conhecia nenhum jogador do Sporting, apesar de poucos meses antes a Selecção do seu país, ter sido goleada por Portugal, com Rui Patrício e João Pereira no onze nacional. Para além disso, também Nasri fez declarações onde mostrava alguma arrogância e menosprezo em relação ao Sporting.
O primeiro jogo realizou-se em Lisboa, o Sporting vinha de uma derrota em Setúbal, a primeira sob o comando de Sá Pinto, mas mesmo assim compareceram em Alvalade mais de 34 mil espectadores, uma casa razoável atendendo às circunstâncias.
O jogo começou com uma oportunidade de golo para cada lado, que os guarda redes resolveram, mostrando o porquê de estarem ambos entre os melhores do mundo na difícil missão defender a baliza, mas no resto a 1ª parte foi morna, com o City em traje de passeio, convencido que o talento dos seus jogadores faria a diferença, enquanto o Sporting revelava algum receio, mas com o passar do tempo, a equipa começou a desinibir-se, com Matias Fernandez a gozar de grande liberdade nas zonas próximas do avançado holandês Van Wolfswinkel.
Assim o intervalo chegou com um zero a zero, que era sem dúvida o resultado que melhor se ajustava aos acontecimentos.
No recomeço não se verificaram alterações, até que no minuto 51, o Sporting beneficiou de um livre descaído para lado esquerdo da área adversária. Matías Fernández bateu de forma traiçoeira, obrigando Joe Hart a uma excelente defesa, mas a bola sobrou para Xandão, que à segunda, e de calcanhar, fez um golo de belo efeito, que correu o mundo pela sua espectacularidade e pela sensação do resultado que traduziu.
Esperava-se uma reacção do City, mas foi o Sporting que se entusiasmou, e o 2-0 poderia ter acontecido.
Entraram então em acção os treinadores, com Sá Pinto a preferir jogar pelo seguro, enquanto Mancini lançava Balotelli, e finalmente o City tomou conta das operações, empurrando o Sporting para a sua área, pelo que o empate chegou a estar à vista, mas o jogo chegou ao fim com a vitória do Sporting por 1-0, a premiar a excelente exibição realizada.
O jogo da 2ª mão realizou-se em Manchester, no dia 15 de Março de 2012, e apesar da derrota sofrida em Lisboa, os jogadores do City não pareciam ter ficado muito impressionados com a equipa do Sporting, e continuaram a revelar algum excesso de confiança.
Sá Pinto optou e muito bem, por uma estratégia destemida, na procura de um golo que parecia fundamental para passar esta eliminatória, pois a defesa do Sporting não era o sector mais forte de uma equipa que dificilmente iria resistir 90 minutos sem sofrer um golo, daí que fosse muito importante marcar primeiro que o adversário e se possível na 1ª parte.
Esta estratégia surpreendeu completamente a equipa do Manchester City e tivemos um Sporting descarado e atrevido, já a respirar alguma confiança, conseguindo superiorizar-se ao seu adversário, atingindo o primeiro objectivo com inteiro mérito, quando eram decorridos 33 minutos de jogo, novamente através de um livre convertido por Matías Fernández, desta vez directamente para o fundo da baliza de Joe Hart. Os sportinguistas começaram a acreditar.
Sete minutos depois, Izmailov entra pela direita e coloca a bola com precisão, fora do alcance de Joe Hart, para Van Volkswinkel emendar à boca da baliza, aumentando para três os golos de vantagem do Sporting. Agora só se pedia que o intervalo chegasse. E chegou.
A eliminatória parecia resolvida, o relógio era agora o principal aliado do Sporting, e ao contrário do que se previa o City nem conseguiu entrar forte na 2ª parte. Eles também parecia já não acreditar.
Mas ao 55 minutos, Mancini lançou o possante avançado bósnio Dzeko, que baralhou a até aí muito segura defesa leonina, e 5 minutos depois Kun Aguero beneficiou da liberdade que nunca tinha tido até aí, e marcou o primeiro do City.
Reagiu de imediato Sá Pinto, fazendo entrar Renato Neto para o lugar do desgastado Matias Fernandez e trocando Capel por Jeffrén. Percebia-se a estratégia, numa altura em que era preciso dar músculo ao meio campo e sabendo-se que o chileno não tinha pilhas para um jogo inteiro, enquanto o ex Barcelona estava moralizado pelos golos que tinha marcado na última jornada do Campeonato, e poderia ser importante numa altura em iam haver mais espaços nas costas da defesa do City.
No entanto não resultou, a equipa começou a recuar muito, passando a jogar praticamente com seis defesas e deixou de ter capacidade para guardar a bola, ao mesmo tempo que fisicamente se ia abaixo.
Faltavam 15 minutos para o fim quando Kun Aguero fez precisamente o mesmo que Matias Fernandez tinha feito na 1ª parte, tentando sacar um penalti, sendo que o chileno até foi tocado, enquanto em relação ao argentino ficaram algumas dúvidas, mas quem não hesitou foi um árbitro, que no primeiro caso mostrou amarelo ao jogador do Sporting, e no segundo apontou para a marca do penalti, onde Balotelli não perdoou. Estava reaberta a eliminatória e os sportinguistas voltaram a temer o pior.
Entretanto Sá Pinto já tinha voltado a mexer na equipa, fazendo entrar Carrillo para o lugar do esgotado Van Wolfswinkel, uma alteração que também não resultou, pois o peruano a jogar no meio, esteve como peixe fora da água e a única coisa que fez foi colocar Aguero em jogo, no lance do terceiro golo, mesmo que fosse imperdoável que num canto, o argentino estivesse completamente sozinho no 2º poste.
Parecia que este não era o dia de Sá Pinto, pois já Renato Neto ficara ligado ao golo do empate, num lance em que entrou de uma forma pouco prudente, e agora ainda faltavam mais de 10 minutos para o fim e bastava um golo ao City, para passar para a frente da eliminatória.
Os sportinguistas habituados a sofrer, resistiram e sofreram até ao fim, pois a verdade é que Balotelli teve o apuramento na cabeça a 2 minutos dos 90, e quando o tempo de compensação já se tinha esgotado aconteceu o momento que marcará eternamente esta histórica eliminatória.
Na sequência de um canto do lado esquerdo do ataque inglês, com o guarda redes Joe Hart em plena área do Sporting, a bola chegou até à cabeça do nº1 da Selecção de Inglaterra, que qual ponta de lança, rematou com precisão, mas Rui Patrício, num gesto quase instintivo, levantou o seu braço direito e desviou o esférico com a ponta dos dedos, evitando o golo que seria um castigo injusto para toda a sua equipa, da qual foi mais uma vez o herói.
Soou então o apito final, que deixou os sportinguistas em euforia, com um resultado que espantou toda a Europa e que afinal apenas foi a confirmação de que o Sporting se dá muito bem com os ingleses, e um justo castigo para a arrogância de um grupo de jogadores milionários, que assim ficaram a conhecer o Sporting Clube de Portugal, que não tendo a fortuna de um Sheikh, tem uma história que o Manchester City nunca terá.
To-mane 19h40min de 3 de Abril de 2012 (WEST)