João Rocha chegara ao Sporting em 1973 com o projecto de o tornar num Clube-Empresa e assim criara a Sociedade de Construções e Planeamento, através da qual planeava avançar com um grande empreendimento, que passava pela construção de uma área habitacional e de um complexo terciário, que no futuro pudessem ser o sustento da actividade desportiva do Clube, que era cronicamente deficitária. Para além disso ele queria construir uma Cidade Desportiva onde o Sporting pudesse a ter todas as instalações necessárias para o funcionamento do futebol e das suas muitas modalidades.
No entanto a revolução de 25 de Abril de 1974 deu lugar a um período de grande instabilidade política no País, com sucessivas mudanças de Governo, ao que se juntou a crise financeira, com uma inflação galopante e taxas de juros elevadíssimas, que travaram os projectos do Presidente leonino.
Apesar de tudo isto João Rocha conseguiu conduzir o Sporting com relativa estabilidade durante seis anos, e fez crescer o património do Clube, mas as promessas de apoio e financiamento para a viabilização da sua a Sociedade de Construções e Planeamento nunca foram cumpridas, e em 1979 o Sporting já tinha um passivo de cerca de 90 mil contos, 20 mil dos quais imediatamente exigíveis, e o orçamento para 1980 previa um deficit de cerca de 12 mil contos, uma situação considerada insustentável.
Assim em 7 de Agosto de 1979 João Rocha informou o Conselho Leonino da sua intenção de se demitir da Presidência do Sporting Clube de Portugal. Realizou-se então uma Assembleia-Geral extraordinária, no dia 5 de Setembro de 1979, onde foi nomeada uma Comissão de Gestão liderada pelo próprio João Rocha, que tinha como missão assegurar a gerência do Clube até que fosse eleita uma nova Direcção.
A situação arrastou-se até ao fim do anos com João Rocha queixando-se de falta de apoio da parte de alguns sportinguistas e desafiando a oposição a aparecer, ao mesmo tempo que acusava os órgãos governativos, de dar um tratamento diferenciado a outro clube, enquanto não eram cumpridas as promessas que tinham sido feitas ao Sporting.
Nessa altura chegou-se mesmo a falar de alguns nomes para uma hipotética sucessão, mas ninguém avançou e depois de várias reuniões do Conselho Leonino e de algumas Assembleias Gerais e muitas insistências para que João Rocha continuasse, com o Presidente a manter-se irredutível na sua leitura de que não estavam reunidas as condições necessárias para levar a cabo o seu projecto, em 15 de Janeiro de 1980 a Comissão de Gestão declarou ter cessado funções, colocando os destinos do Sporting Clube de Portugal nas mãos do Presidente da Assembleia Geral Luís Santos Ferro, que no entanto não aceitou essa renuncia.
O Conselho Leonino voltou a reunir-se com a Comissão de Gestão em 19 e 21 de Janeiro de 1980, altura em que João Rocha reiterou a sua vontade de abandonar o Clube, a não ser que fossem desbloqueadas as situações que se arrastavam à anos, mas aceitou continuar enquanto não fosse encontrada uma nova Direcção.
Nessa altura foi formada uma Comissão Delegada constituída por: Santos Ferro, Valadão Chagas, Guilherme Palma Carlos, Octávio Barrosa, Nunes dos Santos, Roque Lino, Jorge Fagundes e Agostinho Abade, que ficou incumbida de promover as necessárias diligências no sentido de se encontrarem novos corpos gerentes para o Clube, apontando-se o dia 13 de Fevereiro como a data provável para a realização da necessária Assembleia-Geral eleitoral extraordinária.
No entanto o nome de João Rocha continuava a ser apontado por todos como o único capaz de resolver a crise, pelo que muitos eram os que defendiam que os sportinguistas se deveriam acima de tudo concentrar em desenvolver todos os esforços necessários para satisfazer as condições que o Presidente considerava fundamentais para se manter à frente do Sporting, pressionando os órgãos governativos a cumprirem as promessas feitas ao Clube.
No dia 25 de Fevereiro de 1980 a Comissão Delegada informou o Conselho Leonino de que apesar dos esforços desenvolvidos não tinha sido possível encontrar uma personalidade para presidir ao Clube, pelo que a 14 de Março de 1980 se realizou outra Assembleia-Geral extraordinária, onde o mandato da Comissão de Gestão foi prorrogado por mais um mês, e foi formada uma nova Comissão Delegada constituída por: Amado de Freitas, Roque Lino, Abraham Sorin, Moisés Ayash e Orlando Naia , que ficou incumbida de no prazo de 30 dias apresentar um elenco directivo e colaborar com a Comissão de Gestão na resolução dos problemas do Sporting.
No dia 3 de Maio de 1980 realizou-se uma nova Assembleia-Geral extraordinária onde se manteve o impasse, com João Rocha despedir-se dos sócios, embora mostrando-se disponível para ajudar a encontrar uma boa solução directiva e para colaborar com a futura Direcção, enquanto a Comissão Delegada propôs algumas medidas no sentido de ajudar a resolver os problemas financeiros mais imediatos.
Esta Assembleia-Geral seria interrompida, prosseguindo no dia 12 Maio, altura em que surgiu o nome de Emídio Pinheiro como candidato a Presidente, o que no entanto não se viria a concretizar, devido ao seu estado debilitado de saúde.
Como o impasse se mantinha e o Conselho Leonino continuava a não conseguir apresentar uma solução como lhe competia, o Presidente da Assembleia-Geral Santos Ferro, decidiu colocar o problema nas mãos dos sócios, que de acordo com os Estatutos também podiam organizar listas para submeter à aprovação de uma Assembleia-Geral eleitoral convocada para o efeito, e assim estabeleceu o dia 8 de Julho como prazo para a respectiva apresentação, mas sem êxito pois ninguém avançou, quando o nome de João Rocha continuava a ser o desejado.
Assim foi convocada uma Assembleia-Geral para o dia 19 de Julho, visando debater a situação e encontrar uma solução para a crise que se arrastava sem fim à vista, numa altura em que se considerava já terem sido dados alguns passos decisivos para ultrapassar muitos dos problemas que o Presidente leonino identificara.
Nessa reunião marcada por uma forte onda de apoio à continuidade de João Rocha na liderança do Clube, foi aprovada por unanimidade uma proposta de Nunes dos Santos, no sentido de que fosse agendada uma Assembleia-Geral eleitoral, e de que as listas concorrentes apresentassem o seu programa de acção no Jornal Sporting.
João Rocha que nessa altura defendia estarem criadas as condições para que deixasse de ser o Conselho Leonino a indicar os Órgãos Sociais, foi o único a apresentar listas e um programa, onde se propunha a revisão dos Estatutos, o aumento do numero de sócios, o inicio da construção da Cidade Desportiva, de um Pavilhão para as modalidades e de um campo relvado, o fecho do Estádio e a valorização do património imobiliário com a construção de uma área habitacional e um centro terceário.
Assim no dia 31 de Julho de 1980 realizou-se a Assembleia-Geral eleitoral, à qual compareceram cerca de 1100 sócios leoninos, e onde foram eleitos sem oposição, os Presidentes e Vice-Presidentes dos Órgãos Sociais do Sporting Clube de Portugal, para o biénio
80/82.
Resultados finais oficiais:
DIRECÇÃO:
- Presidente: João Rocha 3680 votos
- Vice-Presidente: António Esteves 3590 votos
MESA DA ASSEMBLEIA GERAL:
- Presidente: Emídio Pinheiro 3711 votos
- Vice-Presidente: Roque Lino 3700 votos
CONSELHO FISCAL E DISCIPLINAR:
- Presidente: Nunes dos Santos 3634 votos
- Vice-Presidente: Luís Coimbra 3717 votos