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A 2ª edição do Campeonato da I Liga ia animada quando, no dia 22 de Março de 1936, o Sporting se deslocou ao Ameal para defrontar o FC Porto, em jogo a contar para a 1ª jornada da 2ª volta daquela competição, da qual os portistas eram campeões em título.

No jogo da ronda inaugural o Sporting tinha ganho por 3-2 e, à excepção da derrota no Campo Grande com o Benfica e de um empate no Bessa, a prova até nem estava a correr mal aos Leões, pelo que esta deslocação ao Porto era muito importante no sentido de manter a equipa na corrida pelo título.

O Sporting, orientando pelo treinador-jogador Wilhelm Possak que foi o autor do único golo dos Leões, alinhou com Artur Dyson; Vianinha e João Jurado; Abelhinha, Rui Araújo e Mário Galvão; Rui Carneiro, Pireza, Wilhelm Possak, Francisco Lopes e Adolfo Mourão.

O jogo ficou marcado por um lance ocorrido aos 30 minutos da 1ª parte, quando o FC Porto já ganhava por 2-1. Pinga lançou Santos que se isolava, mas uma saída destemida do guarda-redes Dyson, apesar de evitar o golo, deixou-o sem sentidos, acabando por sair de maca a caminho do hospital.

Na altura não eram permitidas substituições e assim Carneiro foi para a baliza, onde sofreu 4 golos em apenas 9 minutos.

Com 1-6 ao intervalo, a equipa reduzida a dez e desmoralizada, a 2ª parte foi um martírio. Carneiro lá ia defendendo conforme podia e o jogo caminhava para o fim já com um humilhante resultado de 7-1. O Sporting voltou a desorganizar-se e nos últimos minutos sofreu mais 3 golos, que resultaram num impensável 10-1.

O Boletim do Sporting publicou uma crónica do jogo enviada por Carlos Correia: "A meio do primeiro tempo, com o resultado em 1-2, e jogando, pelo menos, em equilíbrio, ficámos privados da colaboração de Artur Dyson, fortemente magoado, ao realizar uma defesa arriscada, com uma bolada que o atingiu no rosto e que o deixou positivamente knock-out, só recuperando os sentidos trinta e cinco minutos depois. Apesar da boa vontade de Rui Carneiro, improvisado em guarda-redes, ficámos praticamente reduzidos a nove unidades. O desastre era inevitável, e foi-o mesmo, não obstante o espírito de sacrifício dos nossos dez representantes. A luta tornou-se inglória e altamente desigual, e dificilmente o moral dos jogadores leoninos podia resistir como resistiu: com uma nobreza e galhardia que podem constituir a nossa única satisfação na infelicidade que nos perseguiu. Fizemos o resto do match, pelo menos tecnicamente, de igual para igual, mas os nossos adversários, na dúzia de vezes que apontaram ao alvo com boa direcção, não tiveram dificuldades em marcar mais oito pontos.
E a história do encontro fica feita, se bem que só o resultado fique para a história...
Temos a impressão firme - que o decorrer do próprio jogo confirmou - que se não fosse o percalço que nos forçou a jogar três quartas partes do desafio sem goal-keeper, o resultado podia ter sido muito diferente. Ganharíamos? Será ousado afirmá-lo. Mas pode garantir-se que o triunfo podia pender para qualquer dos lados sem diferença excessiva.
Prejudicados, no goal-average, com este resultado catastrófico, só nos resta ambicionar que atinjamos o final do torneio sem necessidade de desempate. Para isso confiemos que os nossos jogadores, esforçando-se ao máximo pela vitória, anulem os efeitos da infelicidade de que fomos vítimas no campo do Ameal, na tarde de 22 de Março de 1936."


To-mane 15h55min de 14 de Outubro de 2008 (WEST)