A época 1981/82 do Basquetebol leonino tinha começado de forma extremamente difícil, com a continuidade da secção em dúvida devido aos custos galopantes desta modalidade de alta competição, a que se juntava a crise económica que assolava Portugal. No entanto, com o conjugar do trabalho da própria secção, tudo se tinha resolvido.
Depois de uma 1ª fase do Campeonato Nacional complicada, com diversas derrotas, a 2ª fase tinha corrido melhor: a duas derrotas iniciais tinham-se seguido 12 vitórias, e o Sporting partia para a fase final como favorito, depois de conquistar o 1º lugar e assim também o direito a disputar a fase final em casa, ou seja no Pavilhão de Alvalade. No entanto, era necessário derrotar o Porto, que tinha também uma equipa muito forte e um orçamento duas vezes maior, o Barreirense, que de certa forma corria por fora, e o Benfica, que com um orçamento três vezes superior ao do Sporting não tinha demonstrado em campo uma valia correspondente.
O final four decorreu em dois fins de semana consecutivos (5 a 7 e 12 a 14 de Março de 1982), com jogos nas 6ª, Sábado e Domingo. O primeiro fim de semana mostrou um Sporting soberano, mesmo tendo perdido o jogo contra o Barreirense. No primeiro jogo, contra o Porto, foi Mike Carter quem primeiro entrou no recinto, à frente dos seus companheiros, a puxar pelo imenso público presente. O Sporting esteve sempre na frente, apesar de a partida ser equilibrada. A luta foi decidida nas tabelas, com Carter e Israel decisivos, e com Rui Pinheiro a mostrar todo o poder da sua meia distância mortífera, enquanto Augusto Baganha empunhava a batuta de maestro. Apenas Carlos Lisboa teve dificuldades, com a marcação impiedosa que lhe foi feita.
O primeiro jogo contra o Barreirense foi perdido no segundo período, com Carlos Lisboa e Mike Carter já com quatro faltas, o adversário aproveitou para atingir uma vantagem de 13 pontos. O Sporting foi depois recuperando, e a 8 segundos do fim, Rui Pinheiro faz um erro infantil impróprio de um jogador com uma experiência tão vasta: isolado perto da tabela adersária, fez passos, quando o cesto daria o empate que levaria o jogo para o prolongamento.
O terceiro jogo do primeiro fim de semana, contra o Benfica, também não foi fácil, com um adversário motivado para ganhar, mas o Sporting esteve sempre na frente, e desta feita foram os postes norte-americanos do adversário que ficaram cedo carregados de faltas.
Assim, o primeiro fim de semana acabou com Sporting com os mesmos pontos que o Porto e o Barreirense, mas com melhor diferença de cestos, e o Benfica já arredado do título apenas com derrotas.
Foi de novo com um apoio incansável de um pavilhão completamente cheio que na 6ª feira, dia 12 de Março de 1982, que o Sporting voltou a encontrar o Porto. Desta feita, o triunfo foi clamoroso, traduzindo a superioridade verde e branca, e os “leões” foram dormir confiantes: bastava vencer o Barreirense para assegurar o bicampeonato.
E a vitória veio, por apenas 6 pontos de diferença, depois de uma vantagem de 2 pontos ao intervalo. Não foi fácil, e os jogadores do Sporting tiveram que suar. E suaram, sobretudo Augusto Baganha, que mostrou ser insubstituível como base, organizando o jogo e comandando as operações, fazendo cestos incríveis de meia distância ou em entradas, enorme no seu 1,75 m de altura. Foi o verdadeiro maestro a desfazer quaisquer dúvidas que pudessem subsistir. No fim do jogo, declarou: “Espero que, depois de tudo isto, o basquetebol prossiga em bom caminho neste Clube. É preciso que se saiba que nós, os do basquetebol, gostamos do Sporting e que não existe qualquer separação entre a secção e o Clube. Nós somos do Sporting e queremos continuar nele.”.
No fim do jogo, foi a apoteose. Mal tinha o besouro da mesa soado, e já muitos adeptos leoninos treparam pela rede do recinto e saltaram para dentro. Caíram sobre os jogadores, abraçaram-nos, beijaram-nos, passearam-nos aos ombros, cantaram, dançaram, fazendo a festa do título. As camisolas dos jogadores foram troféus cobiçados. Mike Carter empoleirou-se na rede, despiu a sua camisola nº 13, e atirou-a para o meio do público que não se tinha aventurado na invasão do campo, mas que também mereciam a partilha dos farrapos duma camisola suada com o suor da glória. Foi o delírio nas bancadas.
No dia seguinte, com o título já decidido, o jogo contra o Benfica foi de consagração dos bicampeões nacionais. No fim do jogo, Mike Carter marcou os dois pontos finais, atingindo a marca centenária, e no fim do jogo pendurou-se num dos cestos, e cortou a rede. Era um ritual usual nos Estados Unidos da América: quando se ganhava um campeonato, cortava-se a rede por onde tinham entrado os cestos.
No fim, a festa do dia anterior repetiu-se, e foi o capitão Rui Pinheiro quem recebeu o troféu das mãos do presidente da Federação Portuguesa de Basquetebol. Carlos Lisboa disse então, com o troféu nas mãos: “Que neste momento já tenham sido dados passos para o trabalho futuro, de modo a que se evitem no início da próxima época os contratempos desta, para que os jogadores e os técnicos pensem só nos treinos e nos jogos!”.
Este triunfo foi o resultado da continuidade de um trabalho que vinha de trás, de Adriano Baganha, continuado por Mário Albuquerque e Tomané Alves, que, não conhecendo o futuro, disse então: “Esta vitória irá desanuviar os problemas da secção. Gostaria que pudéssemos encarar a nova época com mais tranquilidade.”.