A época de 1966/67 do Basquetebol leonino tinha começado com um Sporting arrasador no Campeonato de Lisboa, ganhando todos os jogos disputados. Seguiu-se o Campeonato Metropolitano, que na altura era o campeonato disputado a nível nacional no Portugal Europeu. O vencedor, e por vezes o 2º classificado, disputavam de seguida o Campeonato Nacional que incluía representantes das então Colónias.
O Sporting teve dificuldades no arranque da Zona Sul do Campeonato Metropolitano, com duas derrotas nas primeiras quatro jornadas, isto porque tinha vários jogadores a cumprir o serviço militar, e os treinos eram a dias e horas irregulares. Mesmo assim, a equipa recuperou e acabou a fase inicial em primeiro lugar, após derrotar o Benfica por duas vezes, ficando este clube em segundo. O Sporting partiu assim para a fase final com alguma confiança.
No entanto, o cenário estava posto para que outra equipa ganhasse. A fase final foi realizada em Coimbra, cidade de onde provinha um dos candidatos ao título, e aí de certa forma ficou decidido quem seria o campeão. Primeiro, a Académica requereu a inscrição de Mário Mexia, o seu melhor jogador. Acontece que ele tinha recebido a Medalha de Mérito da Federação Portuguesa de Basquetebol ao ter-se retirado recentemente. Ora os regulamentos da FPB impunham que um atleta assim distinguido não poderia voltar a jogar, e a FPB recusou a inscrição. O Director Geral dos Desportos, conhecido adepto da Académica e antigo presidente da Mesa do Congresso de Basquetebol, mandou aceitar a inscrição, sem explicação, e aproveitando o facto de estar uma Comissão Administrativa a dirigir a FPB, constituída por elementos que só agora tinham chegado à modalidade.
Depois, o Reitor da Universidade de Coimbra foi convidado para entregar a taça ao clube vencedor, e o Inspector da Direcção Geral dos Desportos em Coimbra foi convidado para entregar as medalhas aos atletas vencedores. Reconhecidos adeptos da Académica, não estavam certamente preparados para entregar esses troféus a outra equipa.
A fase final foi disputada em 13, 14 e 15 de Maio de 1967, no Pavilhão do Estádio Universitário. José Valente tinha estado toda a semana de cama, e jogou medicado. O primeiro jogo foi contra o Benfica e foi a quinta vitória da época em cinco jogos contra o rival. Mas não foi fácil! O Benfica adiantou-se no marcador logo de início, mas o Sporting nunca deixou fugir na marcação, sobretudo por acção de António Pratas, que fez 12 pontos na primeira parte, permitindo ao Sporting chegar ao intervalo a ganhar por 2 pontos. Mas a 2ª parte viu o Benfica voltar a adiantar-se, chegando ao 32-36. Foi aí que José Valente se encheu de coragem, esqueceu a doença, e arrancou para a vitória fazendo 10 pontos e galvanizando assim a equipa verde branca.
Depois dessa vitória, o jogo do dia seguinte contra a Académica decidia o título, já que a outra equipa, o Vasco da Gama, era quem estava em pior forma e já tinha perdido o seu primeiro jogo. Foi num ginásio lotado, com um público que incluía o Inspector da DGD, a gritar pelo adversário, que se realizou o jogo. E a Académica jogou bem, com velocidade que o Sporting não conseguiu de início neutralizar, chegando a vencer por 27-16. António Encarnação, que no início se tinha ressentido de uma provocação, liderou a recuperação leonina com o seu jogo e o seu querer, e o Sporting foi reduzindo a desvantagem cesto a cesto, ponto a ponto. Chegou ao intervalo a perder 27-26, mas a dois minutos da 2ª parte já ganhava por 30-29. A Académica marca um cesto, Encarnação responde com outro. A Académica marca um lance livre e um cesto, e pelas contas de todos o resultado deveria estar em 32-34. Mas a mesa deu o cesto de Encarnação à Académica, e o marcador indicou 30-36! Os protestos do Sporting e dos jornalistas presentes de nada serviram. Apelou-se ao capitão da Académica para em nome do desporto e da seriedade confirmar a verdade, mas este encolheu os ombros e disse que quem mandava era o boletim. Com isto, o Sporting viu todo o seu esforço ruir, e a equipa contrária encheu-se de ânimo. Foi em frente de poucos adeptos sportinguistas de Coimbra, bem como das equipas juvenis, juniores, e feminina do Sporting, que tinha vindo apoiar a equipa, que se viu ainda um cesto de António Pratas valer apenas um ponto, já que o marcador passou de 32 para 33. E viram ainda que, com uma vontade enorme, o Sporting voltou a recuperar, mas que lhe subtraíram mais dois pontos de um cesto de Encarnação, por marcarem 3 segundos a Pratas que estava magoado e caído dentro do garrafão. A equipa do Sporting fez tudo para ganhar, lutou contra todos, até ao fim, com disciplina perante a vergonha de Coimbra.
No dia seguinte, o Sporting ganhou o seu jogo, enquanto que o Benfica, que poderia ter-se sagrado campeão, e que esteve quase sempre em vantagem, sofreu também com uma arbitragem do mesmo nível.
A equipa do Vasco da Gama e os seus directores, no final vieram visitar o Sporting, homenageando aqueles que consideraram ser os verdadeiros campeões pela maneira ímpar como os atletas do Sporting tinham reagido às injustiças. Já no fim do jogo do dia anterior a equipa do Benfica e os seus directores também tinham apoiado o Sporting. E depois, o jornal do Benfica disse “Os briosos atletas de Alvalade, que lutaram com as suas melhores armas, com honestidade de processos, foram escandalosamente prejudicados por uma decisão, que ainda hoje estamos para saber como apareceu, completamente parcial, visando a sua derrota. Assim não! O Desporto não pode estar sujeito a tais situações”. A imprensa em geral deu razão ao Sporting e denunciou o ocorrido.
O Sporting protestou o jogo, que foi mandado repetir, mas de novo em Coimbra, para dia 20 de Maio. O Sporting decidiu não comparecer, por considerar que o jogo teria de se realizar em campo neutro, exigência que não foi aceite. O Director Geral dos Desportos, o tal que tinha mandado a Federação inscrever Mexia, descartou-se do assunto dizendo que não lhe competia dirigir a modalidade. E foi assim que a Académica ganhou o seu primeiro e último Campeonato Metropolitano.