Revisão das 16h06min de 17 de dezembro de 2015
A segunda vitória do Sporting na Taça de Portugal, foi conseguida de uma forma épica, numa altura em que o Clube ainda vivia na ressaca de uma polémica mudança na orientação técnica do Futebol leonino, com o despedimento de Joseph Szabo, que pusera fim àquele que foi o consulado mais longo de sempre de um treinador da equipa principal de Futebol do Sporting.
O percurso que levou o Sporting à Final não foi nada fácil, começando logo com um confronto com o FC Porto, que na época anterior tinha afastado os Leões da Taça, precisamente na 1ª eliminatória. Um empate a zero no jogo de Lisboa, parecia indiciar a repetição do sucedido em 1944, mas a resposta seria dada com uma brilhante vitória por 4-1 no Estádio do Lima, num jogo que terminou aos 80 minutos, quando o árbitro expulsou um jogador da equipa da casa, devido a uma entrada violentíssima sobre Jesus Correia. Começaram a chover pedras no campo e o árbitro e os jogadores do Sporting, tiveram de esperar largos minutos até poderem regressar aos balneários sob protecção policial.
Na sequência desses incidentes o campo do FC Porto foi interdito pela Federação, um castigo que seria levantado pouco tempo depois, com o Sporting a regozijar-se com essa decisão, por considerar que o clube rival não deveria ser penalizado nas suas práticas desportivas, mas não deixando de recordar as atitudes impróprias da população desportiva da cidade do Porto, desejando que no futuro os desportistas portuenses fossem capazes de receber a equipa do Sporting, como a do FC Porto costumava ser recebida em Lisboa.
Na eliminatória seguinte o Sporting afastou sem dificuldades a Oliveirense, seguindo-se o Benfica, numa meia-final épica, que começou com uma derrota por 1-2 no Estádio do Lumiar, seguida de uma vitória por 3-2 no Campo Grande, num jogo em que mesmo com a sua equipa desfalcada de três titulares, o Sporting realizou uma grande exibição e ganhava por 3-1 a cerca de 10 minutos do fim, quando a partida foi interrompida pelo árbitro para consultar os seus ficais de linha.
Seguiu-se a expulsão de Peyroteo, que para além de ser um enorme jogador, era um cavalheiro dentro e fora do campo, mas que naquele dia perdeu a cabeça e terá atingido com um soco o defesa do Benfica Gaspar Pinto, que usava de todos os truques para tentar parar o imparável avançado do Sporting. Mais tarde Peyroteo justificou a sua atitude, naquela que foi a única expulsão da sua carreira, afirmando que com a honra da sua mãe ninguém brincava.
Já em tempo de compensação e com mais um jogador em campo, o Benfica aproveitou para marcar o golo que empatava a eliminatória, obrigando à realização de um jogo de desempate.
Peyroteo foi severamente castigado pela Federação, uma situação considerada injusta e excessiva, pois tratava-se de um jogador exemplar, que tinha uma folha disciplinar completamente limpa e não foram tidas em conta as atenuantes resultantes do comportamento impróprio do defesa do Benfica, useiro e vezeiro nesse tipo de atitudes. Assim os Sócios do Sporting encetaram um movimento no sentido da equipa não comparecer ao jogo de desempate, marcado para a 4ª feira seguinte, mas a Direcção não alinhou nessa medida extrema e preferiu ir a jogo.
Sem Peyroteo e a braços com várias lesões, Joaquim Ferreira lançou na equipa o avançado Armando Ferreira, que tinha sido operado a um joelho em Espanha e que já não jogava há vários meses, mas o Sporting superou-se e contra todas as expectativas desforrou-se da derrota no Campeonato, vencendo por 1-0 com um golo de Albano, qualificando-se assim para a Final a disputar frente ao Olhanense.
O jogo decisivo realizou-se nas Salésias no dia 1 de Julho de 1945. Para além dos impedidos, o Sporting tinha vários jogadores limitados e muito desgastados pelos jogos com o Benfica na semana anterior. Manuel Marques teve de fazer alguns milagres, para que Joaquim Ferreira pudesse ter onze jogadores em condições mínimas, e Veríssimo jogou a avançado centro no lugar de Peyroteo. Armando Ferreira estava preso por arames e Jesus Correia teve de levar injecções para atenuar as dores resultantes de uma entorse de que padecia, mas fez o jogo quase todo a pé coxinho, pois não eram permitidas substituições, e mesmo assim foi ele a marcar o golo da vitória a quatro minutos do fim, quando com muito esforço conseguiu isolar-se perante o guarda redes Abraão, que ainda defendeu o primeiro remate, mas que depois foi impotente para deter a recarga.
No final do jogo os Sportinguistas estavam eufóricos e Jesus Correia foi alvo de todos os mimos, tendo recebido algum dinheiro dos sócios e até duas cautelas da lotaria, mas Peyroteo também não foi esquecido e esta vitória foi dedicada ao grande goleador da equipa, ele que mais do que ninguém, merecia ter estado presente naquela Final.
Era a segunda Taça de Portugal conquistada pelo Sporting e o primeiro triunfo do Clube, depois da saída de Mestre Joseph Szabo. Foi também a primeira e única vitória do treinador Joaquim Ferreira, um antigo jogador internacional do Clube, cuja vida terminaria de forma trágica poucos dias depois.
To-mane 16h06min de 17 de Dezembro de 2015 (WET)