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(Sem diferenças)

Revisão das 19h19min de 10 de outubro de 2015

O Sporting vinha a atravessar uma profunda crise financeira desde a construção do Estádio José Alvalade em 1956. No fim da Gerência de 1958, discutia-se não apenas a urgência de profissionalizar totalmente o Futebol, como a necessidade de estancar os gastos com as secções amadoras. No entanto, nos anos seguintes a equipa de futebol, órfã dos Cinco Violinos, não conseguiu reproduzir o sucesso dos anos 1950, enquanto que as modalidades iam acumulando títulos.

Em 1964, com a conquista da Taça das Taças, o futebol tinha alcançado a glória, mas a dívida do Clube tinha atingido proporções consideradas inaceitáveis, da ordem dos 29 mil contos. O Relatório e Contas de 1964 refere perturbações na gerência decorrentes de "dificuldades de tesouraria, que, quase se pode afirmar, só milagrosamente foram resolvidas.". Para piorar os ânimos, o início da época 1964/65 tinha sido muito mau, levando à pior classificação de sempre no Campeonato Nacional no fim de 1964.

Em Agosto de 1964, o deficit das várias secções era: Atletismo, 289,9 contos; Badminton, 6,8 contos, Basquetebol, 98,4 contos, Bilhar, 1 conto, Ciclismo, 239,8 contos, Futebol, 614,4 contos, Ginástica, 81,3 contos, Andebol, 82,8 contos, Hóquei em Patins, 29,1 contos, Motorismo, 362 escudos, Pesca Desportiva, 670 escudos, Pugilismo, 5,6 contos, Râguebi, 16,3 contos, Ténis, 320 escudos, Ténis de Mesa, 21,8 contos, Tiro à Bala, 4,1 contos, Voleibol, 43,4 contos, e Xadrez, 36 escudos, com as secções de Natação e Tiro com Arco a não apresentarem movimento financeiro. O Sporting não tinha meios para fazer face aos compromissos, e por vezes nem havia dinheiro para pagar ao pessoal.

Destas modalidades, as mais dispendiosas eram de longe o Atletismo e o Ciclismo. O desaparecimento do Atletismo, que sempre foi a modalidade mais importante no Clube a seguir ao Futebol, nunca esteve em causa. O Ciclismo, com menos tradição mas com grandes vitórias recentes, só pôde continuar porque apareceu um patrocinador, o Gaz Cidla, que veio suportar uma grande parte dos encargos e assim viabilizar a continuidade da modalidade. Em 1965, as camisolas do Ciclismo foram as primeiras do Sporting a apresentarem a publicidade do patrocinador.

Acabaram por ser extintas três modalidades, todas no mesmo dia, 7 de Outubro de 1964: o Badminton, que era uma modalidade que tinha estado em crise em Portugal, e em que o Sporting já não tinha os mesmos êxitos dos anos 1950; o Voleibol, que apresentava um deficit grande sem ter sucesso desportivo. Com efeito, há dois anos que não se qualificava para o Campeonato Nacional, e a última vez que tinha participado tinha sido na 2ª Divisão. Era também uma modalidade pouco popular em Lisboa; finalmente, foi extinta a secção de Râguebi, com o argumento de que o campo de treinos já não estava disponível, embora campos se pudessem alugar, desde que houvesse os meios financeiros para tal.

Com é óbvio, isto não resolveu nenhum problema financeiro do Sporting, e em 1965 instalou-se uma crise, em que chegou a estar em cima da mesa acabar com as Modalidades quase todas. Levantaram-se vozes contra essa eventualidade, como a de António Horta Osório, e finalmente a crise foi resolvida com a Comissão Directiva de Brás Medeiros, o qual colocou condições para regressar à Presidência do Sporting Clube de Portugal, entre as quais estava incluída a não extinção de mais nenhuma modalidade, as quais teriam no entanto de adoptar o puro amadorismo. Apareceram então grupos de apoiantes de modalidades, como o Grupo dos Amigos do Basquetebol ou do Atletismo, que vieram prestar apoio, incluindo financeiro.

Salvou-se assim o eclectismo do Sporting, um dos baluartes do Clube, gerador de inúmeros sucessos, e motivo de orgulho dos sportinguistas. O Voleibol viria a reaparecer, para voltar a ser extinto por Santana Lopes em 1995. O Râguebi só em 2012 voltaria ao Clube. E o Badminton desapareceu de vez.