Diferenças entre edições de "Basquetebol 1981/82"

Revisão das 09h40min de 25 de novembro de 2014

Sic transit gloria mundi

A época começou de forma muito difícil para o Basquetebol do Sporting. Nos termos dos novos Estatutos do clube, o orçamento passou a coincidir com a época desportiva e não com o ano de calendário. O departamento de gestão financeira teve como preocupação, imposta pelas dificuldades financeiras do Sporting, conter as dotações a consignar às modalidades de alta competição. O basquete era então a modalidade que maior encargo representava, e com o Benfica a anunciar que iria formar o seu cinco base com quatro americanos e um brasileiro, a Direcção equacionou a eventualidade de suspender ou condicionar a alta competição do basquetebol, visto que para jogar de igual para igual teria que fazer um investimento incomportável. Um outro factor foi a tentativa do rival de contratar Carlos Lisboa e John Fultz, e contratando mesmo José Luís. Fultz acabou por ir para o Atlético, e Lisboa permaneceu no Sporting, aceitando, tal como todos os colegas portugueses, uma partilha de risco em que uma componente importante dos seus subsídios ficou dependente dos resultados desportivos.

Em meados de Setembro de 1981, com o futuro da secção ainda por definir, foi estabelecido o calendário da Taça dos Campeões Europeus, a começar dia 8 do mês seguinte. A secção não teve outra solução senão desistir da competição europeia, e a 4 de Setembro de 1981 a Direcção do Sporting suspendeu a actividade do basquetebol, sem, no entanto, o publicitar ou declarar publicamente, apenas manifestando internamente abertura a encarar uma possível solução oriunda da Secção, que entretanto já se movimentava nesse sentido.

Foi a própria secção que se empenhou em salvar-se a si mesma, e em meados de Outubro Mário Albuquerque, Tomané Alves e Augusto Baganha encontraram uma solução, com o acordo do Clube: um patrocinador importante, e uma gestão económico-financeira autónoma e racional da Secção, incluindo os gastos gerais de funcionamento, com impacto significativo na redução dos custos directos para o Sporting, mas permitindo manter a equipa e não abdicando da sua competitividade em relação ao título nacional. O compromisso entre as partes foi estabelecido em protocolo entre a Secção e o Clube, o que constituiu uma inovação ao nível dos grandes clubes desportivos de Portugal com modalidades de alta competição.

Assim, falhada a participação na Taça dos Campeões, o Sporting começou a época com o Campeonato Nacional, que começou na semana seguinte a se ter assegurado a continuidade, num ano em que o figurino das competições mudou. O campeonato foi disputado em três fases. A primeira fase tinha 12 equipas, mas foi disputado com apenas 11 devido a uma desistência. A segunda fase foi discutida entre os oito primeiros classificados, mas mantendo os pontos da fase anterior. A fase final foi disputada em casa do vencedor da 2ª fase.

Mário Albuquerque voltou do SL Oriental/Grundi onde tinha sido o treinador, substituindo assim Adriano Baganha, com Tomané como adjunto. Albuquerque trouxe consigo ex-jogadores do Sporting que o tinham acompanhado na mudança para o Oriental, Ricardo Jazão e Paulo Brito. Vieram ainda diversos novos jogadores, incluindo o americano Mike Carter, o brasileiro Vanisson Gerstner, e Carlos Conceição, procedente também do SL Oriental.

Com uma equipa sem ter feito uma pré-época normal, a duas vitórias contra equipas relativamente fracas seguiram-se três derrotas, incluindo contra o Benfica e o Porto. Com Mike Carter suspenso por quatro jogos depois do jogo contra o Porto, o início do campeonato estava a correr mal. A isso somou-se o súbito desinteresse da massa associativa, que não aparecia a apoiar a equipa da mesma forma que em anos anteriores. Mas logo se constatou que as dificuldades iniciais eram apenas falta de entrosamento, e com o decorrer do campeonato o basquetebol do Sporting ressurgiu em todo o seu esplendor. Numa época muito competitiva, com equipas muito boas, a do Sporting tinha mais basquete que a concorrência, e ganhou quase todos os jogos que se seguiram na primeira fase. Um dos jogos que perdeu foi em Sangalhos, onde um pavilhão onde chovia levando a quedas constantes e à lesão de Carlos Lisboa, e a expulsão de Mike Carter depois de ter sido agredido com um guarda-chuva por um espectador, não permitiu a vitória da melhor equipa. Assim, acabou a 1ª fase em 2º lugar, à frente do Benfica.

O recomeço do Campeonato Nacional foi marcado por uma tragédia, o falecimento precoce de Manuel Sobreiro aos 32 anos de idade, devido a doença súbita. Era na altura treinador adjunto de António Guimarães no Atlético.

A 2ª fase começou, tal como a 1ª, da pior maneira, com duas derrotas. No entanto, o Sporting voltou a recuperar, ganhando os jogos seguintes. Num esforço conjunto da Direcção e amigos anónimos do Basquetebol, Israel regressou do Brasil antes dos 6 últimos jogos desta fase, mais uma vez em forma, dando o seu importante contributo. Entretanto, o protesto do Sporting referente ao jogo em Sangalhos, que tinha sido indeferido pelo Conselho Técnico da Federação com o argumento que o árbitro tinha dado o recinto como praticável apesar da chuva, foi atendido pelo Conselho Jurisdicional, acabando por ser repetido quando já nada podia mudar. O Sporting não levou o seu cinco base, poupando-o. Nessa altura o Sporting já vencera a 2ª fase, ganhando categoricamente no Porto o embalo decisivo para assegurar a disputa da fase final em Alvalade, algo que no início da época alguns não teriam acreditado, mas não a própria equipa, que era constituída por nove sportinguistas reconhecidamente assumidos entre os onze portugueses do plantel, além dos dois técnicos. Ao longo da época, o capitão Rui Pinheiro e a equipa, vencendo todas as adversidades e obstáculos, tinham demonstrado um espírito inquebrável e dado um festival de bem jogar basquetebol, inigualado em Portugal.

A fase final foi disputada com o Porto, Barreirense, e Benfica, em dois fins de semana seguidos, sempre em casa do Sporting. Agora sim, com o pavilhão cheio e apoio verde branco incansável, o Sporting demonstrou a sua superioridade numa disputa muito equilibrada. No primeiro fim de semana o Sporting perdeu apenas contra o Barreirense, por dois pontos, num jogo em que Rui Pinheiro incrivelmente fez passos quando isolado junto ao cesto nos segundos finais, a demonstrar os nervos da equipa. Mas no fim de semana seguinte o Sporting foi soberano, e depois de ganhar ao Porto, bastava vencer o Barreirense. Desta vez o triunfo foi claríssimo, e a apoteose deu-se logo no Sábado, repetindo-se no dia seguinte frente ao Benfica. O Sporting era bi-campeão nacional de basquetebol, pela 8ª vez na sua história.

O presidente do Sporting, João Rocha, esteve presente na fase final, e no fim felicitou os atletas, técnicos, e seccionistas: “Desejava publicamente agradecer a todos os atletas do Basquetebol do Sporting, na pessoa de Augusto Baganha, pela sua fé e amor ao clube, demonstrados esta época, ao trocar interesses materiais pela defesa da colectividade e da modalidade. Porque uma coisa é certa: se o Sporting acabasse com a secção de Basquetebol, era um passo em frente para que outros clubes, a curto prazo, tomassem iniciativas no mesmo sentido.”.

Depois do Campeonato Nacional vieram a Taça de Portugal e o Campeonato Regional de Lisboa. As duas competições decorreram em simultâneo. Na Taça de Portugal, foi eliminado na 1/2 final depois de ter deixado o Benfica pelo caminho. O Campeonato de Lisboa, com jogos marcados semana a semana e sem calendário certo, não foi tomado muito a sério o que levou o público a não comparecer. O Sporting ganhou a sua série, apesar de jogar por vezes muito desfalcado. No entanto, na continuação do campeonato, o Sporting viu os seus melhores jogadores selecionados para a preparação do Campeonato da Europa, e viram assim escapar um título que normalmente seria seu.

No final da época, mais concretamente no chamado período de defeso, a Secção de Basquetebol entregou à Direcção do Sporting Clube de Portugal, em reunião por si promovida e representada pelo seu membro Sr. Paulo Abreu, o Relatório e Contas da Época 1981/82 – documento esse igualmente inédito à época.

No início da época seguinte, já no decurso de treinos e com um jogador Americano, Craig Wates, no plantel, mais concretamente no dia 1 de Novembro de 1982, em reunião com Tomané Alves e jogadores que o acompanharam, o presidente João Rocha, com toda a Direcção do Sporting Clube de Portugal presente, declarou, por fim, e de forma irrevogável, a suspensão da Secção de Basquetebol, acabando com toda a actividade, a qual apenas seria retomada em 1984/85.

Plantel

Secção

Campeonato Nacional

Taça de Portugal

Campeonato de Lisboa

Jogos particulares

Links

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Ver também

• O Campeonato Nacional de Basquetebol de 1981/82
• O fim do basquetebol em 1982