|
|
(Há 31 revisões intermédias de 2 utilizadores que não estão a ser apresentadas) |
Linha 1: |
Linha 1: |
| [[Imagem:BandeiraSCLM.jpg|thumb|right|Bandeira do Sporting de Lourenço Marques]] | | [[Imagem:BandeiraSCLM.jpg|thumb|right|Bandeira do Sporting de Lourenço Marques]] |
| ==História== | | ==História== |
− | O Sporting Clube de Lourenço Marques foi fundado no dia 20 de Maio de 1920, conforme alvará do Governo-Geral da Província de Moçambique, com a mesma data. <ref>Ver o [http://www.maxaquene.co.mz/article.php3?id_article=2 site] do Maxaquene, actual nome do SC de Lourenço Marques.</ref> Rapidamente se tornou num dos mais importantes clubes desportivos de Moçambique, não se limitando ao futebol.
| + | As origens do Sporting Clube de Lourenço-Marques encontram-se em 1915, quando um grupo de estudantes do Liceu 5 de Outubro formaram uma equipa de futebol, a que decidiram chamar Sporting, por a maioria ser adepto do [[Sporting Clube de Portugal]]. Esse grupo incluía Jorge Belo, Júlio Belo, José Agent, António Amorim, Manuel Dias, João Amorim, Abel Cardoso, Luís Cardoso, Luís Maria da Silva, João Carvalho, José Roque de Aguiar, e A. Gonçalves. <ref>Jornal Sporting de 24 de Dezembro de 1971</ref> |
| + | |
| + | Este foi o núcleo que, 5 anos depois, sendo o Sporting Clube de Lourenço Marques já um clube importante na região, decidiu legalizar o clube. No dia 3 de Maio de 1920, considerado nos estatutos como a data oficial de fundação <ref>O futebol português em Moçambique como memória social, Nuno Domingos, Cadernos de Estudos Africanos, 9/10 (2006) 113-127</ref>, 20 sócios fundadores realizaram uma assembleia geral onde foram aprovados os estatutos, cuja aprovação foi requerida ao Governador-Geral a 15 desse mês, concedida em 21 de Julho de 1920. Esses fundadores foram Jorge Belo, Joaquim Duarte Saúde, José Roque de Aguiar, Peter Mangos, António José de Sousa Amorim, Alberto Gonçalves Túbio, Júlio Belo, José Nicolau Argent, Edmundo Dantes Couto, Manuel Sousa Martins, José Miguens Jorge, José Mendes Felizardo Martins, Alfredo Carlos Sequeira, João Carvalho, Manuel Dias, José Lopes, António Pimenta Freire, Augusto Gendre Ferreira, António Maria Veiga Peres, Abílio Carmo, João de Freitas e Fernando de Figueiredo Magalhães.<ref>Livro de ouro do Mundo Português - Moçambique, p. 57</ref> Note-se que a maioria dos fundadores era menor de idade, e o requerimento de legalização foi subscrito por pessoas que não participaram na reunião de 3 de Maio. Rapidamente o Sporting de Lourenço Marques se tornou num dos mais importantes clubes desportivos de Moçambique, não se limitando ao futebol. |
| | | |
| [[Imagem:SCLM.jpg|thumb|right|Sporting de Lourenço Marques]] | | [[Imagem:SCLM.jpg|thumb|right|Sporting de Lourenço Marques]] |
| [[Imagem:satarSCLM.jpg|thumb|right|Satar, jogador do SCLM]] | | [[Imagem:satarSCLM.jpg|thumb|right|Satar, jogador do SCLM]] |
− | [[Imagem:CampeoesDistritais1970SCLM.jpg|thumb|right|Campeões Distritais de 1970]] | + | Em março de 1923 o Dr. [[Galhardo|Aurélio Galhardo]] encetou negociações com o clube moçambicano para que este se tornasse Filial leonina. Assim, o Sporting Clube de Lourenço Marques tornou-se a [[Filiais do Sporting|Filial]] nº 6 do [[Sporting Clube de Portugal]], e assim se manteve até 1975. <ref>Ver a Tábua Biográfica da Fotobiografia do Sporting Clube de Portugal, Rui Guedes, Publicações Dom Quixote - Intercultura, 1988.</ref> Em 1975, após a independência de Moçambique, tornou-se Sporting Clube de Maputo, para em 1977 assumir a designação actual - Clube de Desportos da Maxaquene. Entre Dezembro de 1981 e Fevereiro e 1982, o clube chamou-se Asas de Moçambique, voltando a ser Maxaquene após 3 meses como Asas. O Maxaquene adoptou como cores o azul e vermelho, mantendo actividade desportiva em futebol e andebol. |
− | [[Imagem:SCLMAgosto1971.jpg|thumb|right|Equipa de Agosto de 1971]] | + | |
− | [[Imagem:JunioresSCLM_58.jpg |thumb|right|Eusébio nos juniores do SCLM]] | + | |
− | Em 1975, após a independência de Moçambique, tornou-se Sporting Clube de Maputo, para em 1977 assumir a designação actual - Clube de Desportos da Maxaquene. Entre Dezembro de 1981 e Fevereiro e 1982, o clube chamou-se Asas de Moçambique, voltando a ser Maxaquene após 3 meses como Asas. O Sporting Clube de Lourenço Marques tornou-se a filial nº 6 do [[Sporting Clube de Portugal]], e assim se manteve até 1975. <ref>Ver a Tábua Biográfica da Fotobiografia do Sporting Clube de Portugal, Rui Guedes, Publicações Dom Quixote - Intercultura, 1988.</ref> O Maxaquene adoptou como cores o azul e vermelho, mantendo actividade desportiva em futebol e andebol. | + | |
| | | |
| + | [[Imagem:CampeoesDistritais1970SCLM.jpg|thumb|right|Campeões Distritais de 1970]] |
| Segundo os testemunhos de antigos jogadores de futebol do Sporting de Lourenço Marques, Naldo Quana, Joaquim Aloi, Miguel Vaz e Leovelgildo Ferreira, que transitaram para o Maxaquene, antes da independência o clube “era um clube selectivo. Para os negros jogarem no Sporting ou tinham que ser jogadores com a qualidade de Eusébio da Silva Ferreira ou, então, tinham que ter alguém que os apadrinhasse”. Os seus dirigentes e atletas proviriam principalmente da Polícia e do Serviço Municipalizado de Água e Electricidade. <ref name="maxaquene" | | Segundo os testemunhos de antigos jogadores de futebol do Sporting de Lourenço Marques, Naldo Quana, Joaquim Aloi, Miguel Vaz e Leovelgildo Ferreira, que transitaram para o Maxaquene, antes da independência o clube “era um clube selectivo. Para os negros jogarem no Sporting ou tinham que ser jogadores com a qualidade de Eusébio da Silva Ferreira ou, então, tinham que ter alguém que os apadrinhasse”. Os seus dirigentes e atletas proviriam principalmente da Polícia e do Serviço Municipalizado de Água e Electricidade. <ref name="maxaquene" |
| > No [http://www.maxaquene.co.mz/article.php3?id_article=18 site] do Maxaquene.</ref> No entanto, isto era decorrente, não de uma decisão do Sporting de Lourenço Marques, mas sim de uma “proibição da utilização de negros sem alvará de assimilação” no futebol. Efectivamente, José Craveirinha, um dos maiores poetas de Moçambique e figura maior da literatura de língua portuguesa, galardoado em 1991 com o Prémio Camões, enalteceu “o rasgo de puro e desassombrado desportivismo” que representara, na época de 1951/52, o “caso absolutamente ímpar” da “apresentação nas pistas de atletismo de alguns atletas negros puros envergando a tão susceptível, até aí, camisola do Sporting local.” <ref>Ver [http://www.triplov.com/acacio/craveirinha.html Triplo V]</ref> Mais ainda, os sino-moçambicanos de Lourenço Marques praticavam desporto no Sporting. <ref>Gazeta da comunidade chinesa de Moçambique, [http://www.cidehus.uevora.pt/investigacao/nesa/comchimoc/gazeta_n2.pdf Nº 2, Verão 2003].</ref> | | > No [http://www.maxaquene.co.mz/article.php3?id_article=18 site] do Maxaquene.</ref> No entanto, isto era decorrente, não de uma decisão do Sporting de Lourenço Marques, mas sim de uma “proibição da utilização de negros sem alvará de assimilação” no futebol. Efectivamente, José Craveirinha, um dos maiores poetas de Moçambique e figura maior da literatura de língua portuguesa, galardoado em 1991 com o Prémio Camões, enalteceu “o rasgo de puro e desassombrado desportivismo” que representara, na época de 1951/52, o “caso absolutamente ímpar” da “apresentação nas pistas de atletismo de alguns atletas negros puros envergando a tão susceptível, até aí, camisola do Sporting local.” <ref>Ver [http://www.triplov.com/acacio/craveirinha.html Triplo V]</ref> Mais ainda, os sino-moçambicanos de Lourenço Marques praticavam desporto no Sporting. <ref>Gazeta da comunidade chinesa de Moçambique, [http://www.cidehus.uevora.pt/investigacao/nesa/comchimoc/gazeta_n2.pdf Nº 2, Verão 2003].</ref> |
| | | |
| + | [[Imagem:SCLMAgosto1971.jpg|thumb|right|Equipa de Agosto de 1971]] |
| + | [[Imagem:JunioresSCLM_58.jpg |thumb|right|Eusébio nos juniores do SCLM]] |
| ==Futebol== | | ==Futebol== |
− | O Sporting de Lourenço Marques foi um dos mais importantes clubes de futebol de Moçambique, tendo conquistado múltiplos troféus. Chegou a participar na Taça de Portugal: de acordo com Nuno Martins, jogador/treinador, “cabia na maior parte das vezes a Moçambique decidir com Angola a oportunidade de jogar os oitavos-de-final da Taça de Portugal aqui no Continente. Ganhei duas vezes, por duas vezes vim com o Sporting de Lourenço Marques à Taça de Portugal. A primeira, da qual fez parte o Eusébio, tenho até a placa de quando cá viemos, o campeão de Moçambique não completou a época. | + | [[Imagem:EusebionoSCLM2.jpg|thumb|right|Eusébio no SCLM]] |
| + | O Sporting de Lourenço Marques foi um dos mais importantes clubes de futebol de Moçambique, tendo conquistado múltiplos troféus. Chegou a participar na Taça de Portugal: de acordo com Nuno Martins, jogador/treinador, “cabia na maior parte das vezes a Moçambique decidir com Angola a oportunidade de jogar os oitavos-de-final da Taça de Portugal aqui no Continente. Ganhei duas vezes, por duas vezes vim com o Sporting de Lourenço Marques à Taça de Portugal. A primeira, da qual fez parte o Eusébio, tenho até a placa de quando cá viemos. Na primeira vez jogámos com o Belenenses nos quartos-de-final, na segunda jogámos com o Sporting Clube de Portugal e fizemos de Alvalade ‘a nossa casa', embora tivéssemos ficado alojados no Vila Parque e no Parque Eduardo VII, ficámos alojados nessa unidade hoteleira, mas servimo-nos de Alvalade como nossa casa para tudo o que fosse preciso, cuidados primários de assistência e até dos próprios treinos. Recordo-me ainda com mais saudade dessa eliminatória frente ao Sporting para a Taça de Portugal, porque perdemos a primeira mão em Alvalade num sábado por 3-1, e recebi um telegrama vindo da rapaziada de um café da Baixa de Lourenço Marques, ao meu cuidado, a pedir que prescindíssemos da 2ª mão porque a derrota por 3-1 era suficiente e todos já estavam galvanizados, entusiasmados. Mas não, fizemos a 2ª mão, como era obrigatório, e perdemos por 3-2, e por duas vezes tivemos o 3-3 nos pés”. <ref>Ver [http://www.academia-de-talentos.com/entrevista/2010/8/3/entrevista-com-nuno-martins-parte-1 entrevista].</ref> |
| | | |
− | Na primeira vez jogámos com o Belenenses nos quartos-de-final, na segunda jogámos com o Sporting Clube de Portugal e fizemos de Alvalade ‘ a nossa casa', embora tivéssemos ficado alojados no Vila Parque e no Parque Eduardo VII, ficámos alojados nessa unidade hoteleira, mas servimo-nos de Alvalade como nossa casa para tudo o que fosse preciso, cuidados primários de assistência e até dos próprios treinos. Recordo-me ainda com mais saudade dessa eliminatória frente ao Sporting para a Taça de Portugal, porque perdemos a primeira mão em Alvalade num sábado por 3-1, e recebi um telegrama vindo da rapaziada de um café da Baixa de Lourenço Marques, ao meu cuidado, a pedir que prescindíssemos da 2ª mão porque a derrota por 3-1 era suficiente e todos já estavam galvanizados, entusiasmados. Mas não, fizemos a 2ª mão, como era obrigatório, e perdemos por 3-2, e por duas vezes tivemos o 3-3 nos pés”. <ref>Ver [http://www.academia-de-talentos.com/entrevista/2010/8/3/entrevista-com-nuno-martins-parte-1 entrevista].</ref>
| + | Moçambique era nessa altura um viveiro de talentos futebolísticos. Jogadores que depois vieram jogar pelo [[Sporting Clube de Portugal]] foram, por exemplo, [[Juca]], que começou no Sporting de Lourenço Marques como guarda-redes, mas que, tendo como concorrente o Costa Pereira que depois representou o Benfica e a Selecção Nacional, passou para médio, lugar onde fez uma brilhante carreira. [[Hilário Conceição|Hilário]], que se tinha estreado como júnior no Atlético, transferiu-se para o Sporting de Lourenço Marques a troco de um emprego na Companhia das Águas, e da [[Filiais do Sporting|Filial]] nº 6 foi para a casa-mãe. Outros jogadores do que fizeram o mesmo caminho foram por exemplo [[Morais Alves]] e [[Armando Manhiça]]. |
| | | |
− | Moçambique era nessa altura um viveiro de talentos futebolísticos. Jogadores que depois vieram jogar pelo [[Sporting Clube de Portugal]] foram, por exemplo, [[Juca]], que começou no Sporting de Lourenço Marques como guarda-redes, mas que, tendo como concorrente o Costa Pereira que depois representou o Benfica e a Selecção Nacional, passou para médio, lugar onde fez uma brilhante carreira. [[Hilário]], que se tinha estreado como júnior no Atlético, transferiu-se para o Sporting de Lourenço Marques a troco de um emprego na Companhia das Águas, e da Filial nº 6 foi para a casa-mãe. Outros jogadores do que fizeram o mesmo caminho foram por exemplo [[Morais Alves]] e [[Armando Manhiça]].
| |
− |
| |
− | [[Imagem:EusebionoSCLM2.jpg|thumb|right|Eusébio no SCLM]]
| |
− | [[Imagem:EusebionoSCLM1.jpg |thumb|right| Eusébio campeão pelo SCLM]]
| |
| ==Eusébio== | | ==Eusébio== |
− | No entanto, o mais famoso jogador do Sporting Clube de Lourenço Marques foi, para além de [[Hilário]], o Eusébio que se notabilizou ao serviço do Benfica e da Selecção Nacional. | + | [[Imagem:EusebionoSCLM1.jpg |thumb|right| Eusébio campeão pelo SCLM]] |
| + | [[Imagem:EusebioFaixaCampeaoSCLM.JPG|thumb|right|Com a faixa de campeão]] |
| + | No entanto, o mais famoso jogador do Sporting Clube de Lourenço Marques foi, para além de [[Hilário Conceição|Hilário]], o Eusébio que se notabilizou ao serviço do Benfica e da Selecção Nacional. |
| | | |
− | Eusébio chegou ao Sporting de Lourenço Marques em 1958, depois de ter sido rejeitado pelo vizinho Grupo Desportivo de Lourenço Marques, actual Grupo Desportivo de Maputo. No Sporting, Eusébio jogou durante somente duas temporadas no escalão de juniores, quando tinha 16/17 ou 17/18 anos de idade. Foi aí que Eusébio aprimorou, sozinho, o seu potente remate com o pé direito, pegando em três bolas e ensaiando remates de meio-campo para uma baliza sem guarda-redes. <ref name="maxaquene" /> A história da sua trasferência do Sporting de Lourenço Marques para o Benfica é pouco clara, mas diz-se que teria sido “raptado” por elementos do clube encarnado para embarcar no avião horas antes do check-in dos passageiros com destino a metrópole. Isto é negado pelo próprio, que disse, com clara falta de memória pelas cores que primeiro envergou, “dizem que fui roubado pelo Benfica, mas foi ao contrário. O Sporting é que queria raptar-me, mas não conseguiu porque não gosto nada do Sporting.” <ref>Correio da Manhã de [http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/sport/benfica/eusebio-nao-gosto-do-sporting?nPagina=6 4 de Dezembro de 2008]</ref> Certo é que o Sporting de Lourenço Marques utilizou o dinheiro que recebeu por esta transferência para construir o seu Pavilhão dos Desportos. | + | Eusébio chegou ao Sporting de Lourenço Marques em 1958, depois de ter sido rejeitado pelo vizinho Grupo Desportivo de Lourenço Marques, actual Grupo Desportivo de Maputo. No Sporting, Eusébio jogou durante somente duas temporadas no escalão de juniores, quando tinha 16/17 ou 17/18 anos de idade. Foi aí que Eusébio aprimorou, sozinho, o seu potente remate com o pé direito, pegando em três bolas e ensaiando remates de meio-campo para uma baliza sem guarda-redes. <ref name="maxaquene" /> No início de 1960 numa altura em que era frequente a vinda de jogadores oriundos do ultramar para os clubes portugueses, o nome de Eusébio foi anunciado como reforço do Sporting <ref>Diário de Lisboa de 23 de Janeiro de 1960 [http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=06538.076.16600#!7]</ref> <ref>Diário de Lisboa de 24 de Janeiro de 1960 [http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=06538.076.16601#!13]</ref>, o que não se viria a concretizar. |
| + | |
| + | A história da transferência de Eusébio do Sporting de Lourenço Marques para o Benfica é pouco clara, mas diz-se que teria sido “raptado” por elementos do clube encarnado para embarcar no avião horas antes do check-in dos passageiros com destino a metrópole. Isto é negado pelo próprio, que disse, com clara falta de memória pelas cores que primeiro envergou, “dizem que fui roubado pelo Benfica, mas foi ao contrário. O Sporting é que queria raptar-me, mas não conseguiu porque não gosto nada do Sporting.” <ref>Correio da Manhã de [http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/sport/benfica/eusebio-nao-gosto-do-sporting?nPagina=6 4 de Dezembro de 2008]</ref> |
| + | |
| + | Certo é que em Dezembro de 1960 Eusébio viajou para Lisboa com um nome falso para jogar no Benfica que segundo a mãe do jovem jogador tinha dado "dinheiro grande", em vez dos poucos escudos que o Sporting oferecera. No entanto a FPF não aceitou a inscrição pois faltava a essencial carta de desobrigação do Sporting de Lourenço Marques, que tinha chegado a acordo com o [[Sporting Clube de Portugal]] para a transferência do jogador por 550 contos. O Benfica recorreu da decisão para o Conselho Jurisdicional que estranhamente lhe deu razão <ref>Diário de Lisboa de 7 de Fevereiro de 1960 [http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=06541.079.17150#!11]</ref> e entretanto chegou a acordo com o Sporting de Lourenço Marques que utilizou o dinheiro que recebeu por esta transferência para construir o seu Pavilhão dos Desportos. |
| + | |
| + | Numa entrevista ao Expresso dia 12 de Novembro de 2011, Eusébio declarou que o Sporting de Lourenço Marques "era o clube da Polícia e dos racistas" <ref>Expresso, |
| + | Revista Única de 12 de Novembro de 2011</ref>. Estas afirmações foram prontamente desmentidas por antigos jogadores do clube que com ele lá jogaram. Entre eles contam-se [[Hilário Conceição|Hilário]], que disse "o Eusébio não sofreu na pele essa situação", e segundo as suas próprias palavras "fui o primeiro preto a jogar no Sporting de Lourenço Marques e sempre fui muito bem tratado. (...) Depois de mim, foram muitos pretos, brancos e mulatos que ingressaram no Sporting de Lourenço Marques." <ref>Jornal Sporting de 22 de Novembro de 2011</ref>. Também Braga Borges, antigo jogador do Sporting de Lourenço Marques, declarou "Se éramos um clube elitista e racista, ele que explique então porque saíram do "seu" Desportivo, para jogar no Sporting, o Satar e o Merali, que eram indianos, e o Sérgio Albasini, que era mestiço. Eu avivo-lhe a memória: a dupla de centrais era composta por Satar (indiano) e Rangel (misto/chinês); o avançado centro, Maurício, era preto (para não falar do próprio Eusébio); havia ainda Morais Alves, Roberto da Mata, Madala, etc. etc. etc., todos de raças diferentes. (...) Então e quando o Sporting era convidado a participar em torneios na África do Sul (na época do |
| + | apartheid) e uma das exigências para a participação era a equipa não incluir atletas pretos, o que é que os dirigentes do Sporting faziam? Não ia ninguém, declinava os convites!" <ref>[http://aeiou.expresso.pt/antigo-jogador-desmente-eusebio=f691384 Expresso on-line 30 de novembro de 2011]</ref> |
| | | |
| [[Imagem:marioSCLM.jpg |thumb|right|Mário Albuquerque]] | | [[Imagem:marioSCLM.jpg |thumb|right|Mário Albuquerque]] |
Linha 32: |
Linha 41: |
| [[Imagem:ChinesasSCLM.jpg|thumb|right|Atletas do SCLM]] | | [[Imagem:ChinesasSCLM.jpg|thumb|right|Atletas do SCLM]] |
| [[Imagem:FranciscoVelascoSCLM.jpg |thumb|right|Francisco Velasco e outros jogadores de hóquei]] | | [[Imagem:FranciscoVelascoSCLM.jpg |thumb|right|Francisco Velasco e outros jogadores de hóquei]] |
− | ==Modalidades==
| |
− | O Sporting Clube de Lourenço Marques desenvolvia não apenas o futebol, mas diversas outras modalidades. Foi um clube emblemático do basquetebol português dos anos 1960 e 1970, começando em 1962, ao vencer a Taça de Portugal. A partir da época de 1965/66 foi criada, pela Federação Portuguesa de Basquetebol, a Fase Final do Campeonato Nacional que englobava o Campeão da Metrópole, o de Angola e o de Moçambique e que se realizaria pela primeira vez em Lisboa. A grande maioria dos títulos foram divididos pelo Sport Lisboa e Benfica e pelo Sporting Clube de Lourenço Marques.
| |
− | <ref>[http://www.planetabasket.pt/dev/index.php?option=com_content&view=article&id=5633&Itemid=348 Planeta Basket]</ref> Pontificavam entre outros [[Mário Albuquerque]], um dos melhores basquetebolistas portugueses de todos os tempos, [[Nelson Serra]], eleito atleta de Moçambique do Ano em 1972, <ref>Revista Tempo nº 83 de 9 Abril de 1972.</ref> [[Rui Pinheiro]], [[Tomané Alves]], [[Nelson Serra]]. Todos estes jogadores transitaram para a equipa de basketebol do [[Sporting Clube de Portugal]] que ganho o Campeonato Nacional em 1976. <ref>Ver o [http://armazemleonino.blogspot.com/2010/04/basket-sporting-campeoes-nacionais-1976.html Armazém Leonino] e o blogue [http://delagoabay.wordpress.com/2010/09/07/rui-pinheiro/ Delagoa Bay]</ref>. Ao responder à pergunta “Qual foi a melhor equipa da qual fez parte?”, [[Rui Pinheiro]] respondeu “A do Sporting Clube de Lourenço Marques, sem dúvida. Esperando não me esquecer de ninguém, a equipa era composta por, além de mim: Mário Albuquerque, Nélson Serra, Tomané Alves, Victor Morgado, Terry Jonshon, João Romão, Luis Almeida, Belmiro Simango, Morais e Periquito.” <ref>Ver entrevista no [http://rogertutinegra.multiply.com/journal/item/11/ENTREVISTA_DE_RUI_PINHEIRO_ao_Planeta_Basket Planeta Basket]</ref>
| |
| | | |
− | O Sporting Clube de Lourenço Marques teve ainda secções de hóquei em patins, onde Francisco Velasco, várias vezes Campeão Latino, Europeu e Mundial, foi treinador-jogador a partir de 1964 <ref>Ver a sua [http://www.francisco-velasco.com/biografia/ biografia]</ref>; de atletismo; de natação, que treinava na piscina dos Velhos Colonos, depois rebaptizada de Piscina da Assicação de Natação de Maputo <ref>Ver o blogue [http://delagoabay.wordpress.com/2010/11/04/as-escolas-de-natacao-do-sporting-lm/ Delagoa Bay]</ref>, e de judo. | + | ==Basquetebol== |
| + | O Sporting Clube de Lourenço Marques desenvolvia não apenas o futebol, mas diversas outras modalidades. Foi um clube emblemático do basquetebol português dos anos 1960 e 1970, começando em 1962, ao vencer a Taça de Portugal. A partir da época de 1965/66 foi criada, pela Federação Portuguesa de Basquetebol, a Fase Final do Campeonato Nacional que englobava o Campeão da Metrópole, o de Angola e o de Moçambique e que se realizaria pela primeira vez em Lisboa. O Sporting Clube de Lourenço Marques veio a conquistar o título máximo nacional por quatro vezes, [[Basquetebol 1965/66|uma das quais]] acabou por não contar devido a protesto. |
| + | <ref>[http://www.planetabasket.pt/dev/index.php?option=com_content&view=article&id=5633&Itemid=348 Planeta Basket]</ref> |
| + | |
| + | Pontificavam entre outros [[Mário Albuquerque]], um dos melhores basquetebolistas portugueses de todos os tempos, [[Nélson Serra]], eleito atleta de Moçambique do Ano em 1972, <ref>Revista Tempo nº 83 de 9 Abril de 1972.</ref> [[Rui Pinheiro]], [[Tomané Alves|Tomané]] e Luís Almeida. Todos estes jogadores transitaram para a equipa de [[Basquetebol]] do [[Sporting Clube de Portugal]] que ganhou uma série de troféus, começando com a Taça de Portugal em [[Basquetebol 1974/75|1974/75]] e o Campeonato Nacional em [[Basquetebol 1975/76|1975/76]], menos Luís Almeida que chegou a treinar com o Sporting mas acabou por não ficar. <ref>Ver o [http://armazemleonino.blogspot.com/2010/04/basket-sporting-campeoes-nacionais-1976.html Armazém Leonino] e o blogue [http://delagoabay.wordpress.com/2010/09/07/rui-pinheiro/ Delagoa Bay]</ref>. Ao responder à pergunta “Qual foi a melhor equipa da qual fez parte?”, [[Rui Pinheiro]] respondeu “A do Sporting Clube de Lourenço Marques, sem dúvida. Esperando não me esquecer de ninguém, a equipa era composta por, além de mim: [[Mário Albuquerque]], [[Nelson Serra]], [[Tomané Alves|Tomané]], Victor Morgado, Terry Jonshon, João Romão, Luís Almeida, Belmiro Simango, Morais e Periquito.” <ref>Ver entrevista no [http://rogertutinegra.multiply.com/journal/item/11/ENTREVISTA_DE_RUI_PINHEIRO_ao_Planeta_Basket Planeta Basket]</ref> |
| + | |
| + | ==Outras modalidades== |
| + | [[Imagem:Ctslm.jpg|thumb|right|Convite para a inauguração da carreira de tiro]] |
| + | O Sporting Clube de Lourenço Marques teve ainda secções de Hóquei em Patins, onde Francisco Velasco, várias vezes Campeão Latino, Europeu e Mundial, foi treinador-jogador a partir de 1964 <ref>Ver a sua [http://www.francisco-velasco.com/biografia/ biografia]</ref>; de Atletismo; de Natação, que treinava na piscina dos Velhos Colonos, depois rebatizada de Piscina da Associação de Natação de Maputo <ref>Ver o blogue [http://delagoabay.wordpress.com/2010/11/04/as-escolas-de-natacao-do-sporting-lm/ Delagoa Bay]</ref>; de Tiro com uma carreira de tiro inaugurada em 1952; de Judo; e tinha também courts de Ténis. |
| | | |
| ==Palmarés de Futebol== | | ==Palmarés de Futebol== |
Edição atual desde as 08h33min de 13 de dezembro de 2020
Bandeira do Sporting de Lourenço Marques
História
As origens do Sporting Clube de Lourenço-Marques encontram-se em 1915, quando um grupo de estudantes do Liceu 5 de Outubro formaram uma equipa de futebol, a que decidiram chamar Sporting, por a maioria ser adepto do Sporting Clube de Portugal. Esse grupo incluía Jorge Belo, Júlio Belo, José Agent, António Amorim, Manuel Dias, João Amorim, Abel Cardoso, Luís Cardoso, Luís Maria da Silva, João Carvalho, José Roque de Aguiar, e A. Gonçalves. [1]
Este foi o núcleo que, 5 anos depois, sendo o Sporting Clube de Lourenço Marques já um clube importante na região, decidiu legalizar o clube. No dia 3 de Maio de 1920, considerado nos estatutos como a data oficial de fundação [2], 20 sócios fundadores realizaram uma assembleia geral onde foram aprovados os estatutos, cuja aprovação foi requerida ao Governador-Geral a 15 desse mês, concedida em 21 de Julho de 1920. Esses fundadores foram Jorge Belo, Joaquim Duarte Saúde, José Roque de Aguiar, Peter Mangos, António José de Sousa Amorim, Alberto Gonçalves Túbio, Júlio Belo, José Nicolau Argent, Edmundo Dantes Couto, Manuel Sousa Martins, José Miguens Jorge, José Mendes Felizardo Martins, Alfredo Carlos Sequeira, João Carvalho, Manuel Dias, José Lopes, António Pimenta Freire, Augusto Gendre Ferreira, António Maria Veiga Peres, Abílio Carmo, João de Freitas e Fernando de Figueiredo Magalhães.[3] Note-se que a maioria dos fundadores era menor de idade, e o requerimento de legalização foi subscrito por pessoas que não participaram na reunião de 3 de Maio. Rapidamente o Sporting de Lourenço Marques se tornou num dos mais importantes clubes desportivos de Moçambique, não se limitando ao futebol.
Sporting de Lourenço Marques
Em março de 1923 o Dr. Aurélio Galhardo encetou negociações com o clube moçambicano para que este se tornasse Filial leonina. Assim, o Sporting Clube de Lourenço Marques tornou-se a Filial nº 6 do Sporting Clube de Portugal, e assim se manteve até 1975. [4] Em 1975, após a independência de Moçambique, tornou-se Sporting Clube de Maputo, para em 1977 assumir a designação actual - Clube de Desportos da Maxaquene. Entre Dezembro de 1981 e Fevereiro e 1982, o clube chamou-se Asas de Moçambique, voltando a ser Maxaquene após 3 meses como Asas. O Maxaquene adoptou como cores o azul e vermelho, mantendo actividade desportiva em futebol e andebol.
Campeões Distritais de 1970
Segundo os testemunhos de antigos jogadores de futebol do Sporting de Lourenço Marques, Naldo Quana, Joaquim Aloi, Miguel Vaz e Leovelgildo Ferreira, que transitaram para o Maxaquene, antes da independência o clube “era um clube selectivo. Para os negros jogarem no Sporting ou tinham que ser jogadores com a qualidade de Eusébio da Silva Ferreira ou, então, tinham que ter alguém que os apadrinhasse”. Os seus dirigentes e atletas proviriam principalmente da Polícia e do Serviço Municipalizado de Água e Electricidade. [5] No entanto, isto era decorrente, não de uma decisão do Sporting de Lourenço Marques, mas sim de uma “proibição da utilização de negros sem alvará de assimilação” no futebol. Efectivamente, José Craveirinha, um dos maiores poetas de Moçambique e figura maior da literatura de língua portuguesa, galardoado em 1991 com o Prémio Camões, enalteceu “o rasgo de puro e desassombrado desportivismo” que representara, na época de 1951/52, o “caso absolutamente ímpar” da “apresentação nas pistas de atletismo de alguns atletas negros puros envergando a tão susceptível, até aí, camisola do Sporting local.” [6] Mais ainda, os sino-moçambicanos de Lourenço Marques praticavam desporto no Sporting. [7]
Eusébio nos juniores do SCLM
Futebol
O Sporting de Lourenço Marques foi um dos mais importantes clubes de futebol de Moçambique, tendo conquistado múltiplos troféus. Chegou a participar na Taça de Portugal: de acordo com Nuno Martins, jogador/treinador, “cabia na maior parte das vezes a Moçambique decidir com Angola a oportunidade de jogar os oitavos-de-final da Taça de Portugal aqui no Continente. Ganhei duas vezes, por duas vezes vim com o Sporting de Lourenço Marques à Taça de Portugal. A primeira, da qual fez parte o Eusébio, tenho até a placa de quando cá viemos. Na primeira vez jogámos com o Belenenses nos quartos-de-final, na segunda jogámos com o Sporting Clube de Portugal e fizemos de Alvalade ‘a nossa casa', embora tivéssemos ficado alojados no Vila Parque e no Parque Eduardo VII, ficámos alojados nessa unidade hoteleira, mas servimo-nos de Alvalade como nossa casa para tudo o que fosse preciso, cuidados primários de assistência e até dos próprios treinos. Recordo-me ainda com mais saudade dessa eliminatória frente ao Sporting para a Taça de Portugal, porque perdemos a primeira mão em Alvalade num sábado por 3-1, e recebi um telegrama vindo da rapaziada de um café da Baixa de Lourenço Marques, ao meu cuidado, a pedir que prescindíssemos da 2ª mão porque a derrota por 3-1 era suficiente e todos já estavam galvanizados, entusiasmados. Mas não, fizemos a 2ª mão, como era obrigatório, e perdemos por 3-2, e por duas vezes tivemos o 3-3 nos pés”. [8]
Moçambique era nessa altura um viveiro de talentos futebolísticos. Jogadores que depois vieram jogar pelo Sporting Clube de Portugal foram, por exemplo, Juca, que começou no Sporting de Lourenço Marques como guarda-redes, mas que, tendo como concorrente o Costa Pereira que depois representou o Benfica e a Selecção Nacional, passou para médio, lugar onde fez uma brilhante carreira. Hilário, que se tinha estreado como júnior no Atlético, transferiu-se para o Sporting de Lourenço Marques a troco de um emprego na Companhia das Águas, e da Filial nº 6 foi para a casa-mãe. Outros jogadores do que fizeram o mesmo caminho foram por exemplo Morais Alves e Armando Manhiça.
Eusébio
Eusébio campeão pelo SCLM
No entanto, o mais famoso jogador do Sporting Clube de Lourenço Marques foi, para além de Hilário, o Eusébio que se notabilizou ao serviço do Benfica e da Selecção Nacional.
Eusébio chegou ao Sporting de Lourenço Marques em 1958, depois de ter sido rejeitado pelo vizinho Grupo Desportivo de Lourenço Marques, actual Grupo Desportivo de Maputo. No Sporting, Eusébio jogou durante somente duas temporadas no escalão de juniores, quando tinha 16/17 ou 17/18 anos de idade. Foi aí que Eusébio aprimorou, sozinho, o seu potente remate com o pé direito, pegando em três bolas e ensaiando remates de meio-campo para uma baliza sem guarda-redes. [5] No início de 1960 numa altura em que era frequente a vinda de jogadores oriundos do ultramar para os clubes portugueses, o nome de Eusébio foi anunciado como reforço do Sporting [9] [10], o que não se viria a concretizar.
A história da transferência de Eusébio do Sporting de Lourenço Marques para o Benfica é pouco clara, mas diz-se que teria sido “raptado” por elementos do clube encarnado para embarcar no avião horas antes do check-in dos passageiros com destino a metrópole. Isto é negado pelo próprio, que disse, com clara falta de memória pelas cores que primeiro envergou, “dizem que fui roubado pelo Benfica, mas foi ao contrário. O Sporting é que queria raptar-me, mas não conseguiu porque não gosto nada do Sporting.” [11]
Certo é que em Dezembro de 1960 Eusébio viajou para Lisboa com um nome falso para jogar no Benfica que segundo a mãe do jovem jogador tinha dado "dinheiro grande", em vez dos poucos escudos que o Sporting oferecera. No entanto a FPF não aceitou a inscrição pois faltava a essencial carta de desobrigação do Sporting de Lourenço Marques, que tinha chegado a acordo com o Sporting Clube de Portugal para a transferência do jogador por 550 contos. O Benfica recorreu da decisão para o Conselho Jurisdicional que estranhamente lhe deu razão [12] e entretanto chegou a acordo com o Sporting de Lourenço Marques que utilizou o dinheiro que recebeu por esta transferência para construir o seu Pavilhão dos Desportos.
Numa entrevista ao Expresso dia 12 de Novembro de 2011, Eusébio declarou que o Sporting de Lourenço Marques "era o clube da Polícia e dos racistas" [13]. Estas afirmações foram prontamente desmentidas por antigos jogadores do clube que com ele lá jogaram. Entre eles contam-se Hilário, que disse "o Eusébio não sofreu na pele essa situação", e segundo as suas próprias palavras "fui o primeiro preto a jogar no Sporting de Lourenço Marques e sempre fui muito bem tratado. (...) Depois de mim, foram muitos pretos, brancos e mulatos que ingressaram no Sporting de Lourenço Marques." [14]. Também Braga Borges, antigo jogador do Sporting de Lourenço Marques, declarou "Se éramos um clube elitista e racista, ele que explique então porque saíram do "seu" Desportivo, para jogar no Sporting, o Satar e o Merali, que eram indianos, e o Sérgio Albasini, que era mestiço. Eu avivo-lhe a memória: a dupla de centrais era composta por Satar (indiano) e Rangel (misto/chinês); o avançado centro, Maurício, era preto (para não falar do próprio Eusébio); havia ainda Morais Alves, Roberto da Mata, Madala, etc. etc. etc., todos de raças diferentes. (...) Então e quando o Sporting era convidado a participar em torneios na África do Sul (na época do
apartheid) e uma das exigências para a participação era a equipa não incluir atletas pretos, o que é que os dirigentes do Sporting faziam? Não ia ninguém, declinava os convites!" [15]
Equipa de basquete do SCLM
Francisco Velasco e outros jogadores de hóquei
Basquetebol
O Sporting Clube de Lourenço Marques desenvolvia não apenas o futebol, mas diversas outras modalidades. Foi um clube emblemático do basquetebol português dos anos 1960 e 1970, começando em 1962, ao vencer a Taça de Portugal. A partir da época de 1965/66 foi criada, pela Federação Portuguesa de Basquetebol, a Fase Final do Campeonato Nacional que englobava o Campeão da Metrópole, o de Angola e o de Moçambique e que se realizaria pela primeira vez em Lisboa. O Sporting Clube de Lourenço Marques veio a conquistar o título máximo nacional por quatro vezes, uma das quais acabou por não contar devido a protesto.
[16]
Pontificavam entre outros Mário Albuquerque, um dos melhores basquetebolistas portugueses de todos os tempos, Nélson Serra, eleito atleta de Moçambique do Ano em 1972, [17] Rui Pinheiro, Tomané e Luís Almeida. Todos estes jogadores transitaram para a equipa de Basquetebol do Sporting Clube de Portugal que ganhou uma série de troféus, começando com a Taça de Portugal em 1974/75 e o Campeonato Nacional em 1975/76, menos Luís Almeida que chegou a treinar com o Sporting mas acabou por não ficar. [18]. Ao responder à pergunta “Qual foi a melhor equipa da qual fez parte?”, Rui Pinheiro respondeu “A do Sporting Clube de Lourenço Marques, sem dúvida. Esperando não me esquecer de ninguém, a equipa era composta por, além de mim: Mário Albuquerque, Nelson Serra, Tomané, Victor Morgado, Terry Jonshon, João Romão, Luís Almeida, Belmiro Simango, Morais e Periquito.” [19]
Outras modalidades
Convite para a inauguração da carreira de tiro
O Sporting Clube de Lourenço Marques teve ainda secções de Hóquei em Patins, onde Francisco Velasco, várias vezes Campeão Latino, Europeu e Mundial, foi treinador-jogador a partir de 1964 [20]; de Atletismo; de Natação, que treinava na piscina dos Velhos Colonos, depois rebatizada de Piscina da Associação de Natação de Maputo [21]; de Tiro com uma carreira de tiro inaugurada em 1952; de Judo; e tinha também courts de Ténis.
Palmarés de Futebol
- Campeão Distrital de Lourenço Marques em 1922, 1930, 1933, 1938, 1940, 1943, 1948, 1953, e 1960
- Campeão de Moçambique em 1960 e 1962
Referências
- ↑ Jornal Sporting de 24 de Dezembro de 1971
- ↑ O futebol português em Moçambique como memória social, Nuno Domingos, Cadernos de Estudos Africanos, 9/10 (2006) 113-127
- ↑ Livro de ouro do Mundo Português - Moçambique, p. 57
- ↑ Ver a Tábua Biográfica da Fotobiografia do Sporting Clube de Portugal, Rui Guedes, Publicações Dom Quixote - Intercultura, 1988.
- ↑ 5,0 5,1 No site do Maxaquene.
- ↑ Ver Triplo V
- ↑ Gazeta da comunidade chinesa de Moçambique, Nº 2, Verão 2003.
- ↑ Ver entrevista.
- ↑ Diário de Lisboa de 23 de Janeiro de 1960 [1]
- ↑ Diário de Lisboa de 24 de Janeiro de 1960 [2]
- ↑ Correio da Manhã de 4 de Dezembro de 2008
- ↑ Diário de Lisboa de 7 de Fevereiro de 1960 [3]
- ↑ Expresso,
Revista Única de 12 de Novembro de 2011
- ↑ Jornal Sporting de 22 de Novembro de 2011
- ↑ Expresso on-line 30 de novembro de 2011
- ↑ Planeta Basket
- ↑ Revista Tempo nº 83 de 9 Abril de 1972.
- ↑ Ver o Armazém Leonino e o blogue Delagoa Bay
- ↑ Ver entrevista no Planeta Basket
- ↑ Ver a sua biografia
- ↑ Ver o blogue Delagoa Bay